Santidade ao pé da porta

Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus.”

Por João Alves Dias

Quando, no 3º aniversário da sua publicação (19/3/2018), relia a ‘Exortação Apostólica sobre a Santidade’ encontrei, nos arrumos do confinamento, uma homilia feita em1961 numa aula de Eloquência de que era professor o saudoso Dr. Pardinhas. Ao partilhá-la, quero prestar homenagem aos meus professores do Seminário Maior de que evoco D. Serafim, bispo emérito de Leiria-Fátima, e o Cónego Ferreira dos Santos que connosco peregrinam. Uma oração pelos que já partiram para a Casa do Pai.

“Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito. Jesus não diz: se quiserdes, sede perfeitos, mas, sim, ‘sede perfeitos’. Não se limita a aconselhar. Ele ordena-nos a santidade.”

Que santidade? – “Não uma santidade negativa que consiste só em não pecar. Ele quer, exige uma santidade baseada no amor a Deus e ao próximo. Sim, amor ao próximo porque sem ele não pode haver verdadeiro amor a Deus, como ensina S. João.”

Caridade baseada na Fé “A caridade para com o próximo não é mera simpatia humana, não é simples amizade, não consiste só em sentimentos de compaixão ou em dar esmolas. O amor ao próximo deve ultrapassar as razões humanas para se alicerçar em Deus que é o seu fundamento. Amar o próximo é comungar dos seus sentimentos, é sofrer com a sua dor e alegrar-se com a sua alegria; é compartilhar dos seus problemas.”

“Por vezes, fechamo-nos, satisfeitos da vida, na torre duma santidade ilusória, num desinteresse total para com os problemas dos nossos irmãos que, afinal, são problemas do Mundo e da Igreja. Todo aquele que assim procede nada compreendeu do verdadeiro Cristianismo, cuja essência e nota fundamental é a Caridade. Vive um cristianismo à sua maneira que pode ser tudo, menos o autêntico cristianismo.”

Oração vital – “A nossa oração deve ser um oferecimento, uma entrega total a Deus – qual criancinha que se abandona nos braços do pai – deve ser feita com a vida.

Por vezes, temos uma vida como que dividida em compartimentos estanque, distintos e incomunicáveis. Entre esses, existe também o compartimento da oração que é como outro qualquer. Aqui é que está o erro fundamental. A oração não deve constituir um compartimento à parte, ela está acima, ela deve penetrar todos os sectores da nossa vida, deve ser o órgão ordenador de todos os nossos actos, deve sobrenaturalizar todos os nossos momentos.”

Oblação completa – “Ofereçamos a Deus toda a nossa vida tal como ela é, cheia de rosas e espinhos, com suas alegrias e sofrimentos. Este é o meio mais eficaz para nos santificarmos e como tal, contribuirmos para a santificação do nosso próximo pois “uma alma que se eleva, eleva o mundo”. Se assim fizermos, a nossa vida será um rosário contínuo de amor a Deus e ao próximo. Os sofrimentos, os desgostos, os trabalhos já não nos causarão desânimos. Seremos verdadeiros heróis nos mil-e-um sacrifícios que nos exige a vulgaridade de cada dia.“

Que estas reflexões bem antigas nos ajudem a celebrar o fim do mês consagrado ao ‘Coração de Jesus’.