Longevidade: um novo desafio

Portugal encontra-se acima da média da OCDE relativamente ao envelhecimento demográfico e esperança média de vida, no entanto, encontra-se abaixo da média quando se considera o número de anos de vida saudáveis.

Por Lino Maia  

O envelhecimento demográfico deriva da baixa natalidade, potenciada pela integração da mulher no mercado de trabalho e pela emigração dos jovens, e do aumento da esperança média de vida (duplo envelhecimento), por intermédio das melhores condições de saúde e dos avanços da medicina que possibilitaram que muitas fatalidades se transformassem em doenças crónicas.

A longevidade humana é um novo desafio. Não só pelo número crescente de pessoas acima de setenta anos, mas, muito mais pelas novas necessidades que o segmento idoso vai demonstrando, como também, pelo facto desta sociedade idolatrar o novo, menosprezando as experiências dos mais velhos e tudo o que a eles se refere.

Como poderemos agir para retirar da sociedade o estigma de velho? E de velhice? Os que envelhecem não podem nem querem ser excluídos da luta pela construção de uma nova sociedade, e consequentemente, de uma nova velhice. Ganharam-se mais anos de vida e, ao mesmo tempo, ainda é difícil visualizar ganhos com essa nova perspetiva. É preciso aprender a buscá-los. O tempo do velho neste século deve ser reinventado. Para pensar a velhice do futuro é preciso muita criatividade e vontade.

Há muitas e diferentes velhices, todas com necessidades afetivas, sociais, económicas a serem atendidas. E por quem?

Não há respostas prontas e satisfatórias para esta questão social. Responder a essas perguntas é o grande desafio da nossa época. Urge a necessidade de conscientização e de união de esforços das pessoas seculares, dos políticos, dos familiares, de todos os especialistas que trabalham com o idoso para mudar o olhar sobre ele. Um olhar de crença nas possibilidades de inserção social, profissional, de ser útil e não somente de compaixão e rejeição por não acreditar que o idoso possa ter uma velhice participativa, atuante e feliz.

Conhecer melhor o novo paradigma de velhice, procurar educar-se quanto a estes recentes conhecimentos propicia fazer escolhas mais conscientes e propícias a cada um, ao estilo de vida, às condições sociais e financeiras dos idosos. Esta conscientização, que pode alterar e auxiliar nesta nova conceção do envelhecimento, ainda não se fez. Constata-se isso pelo desrespeito quanto à aposentação do idoso, quanto à precariedade do atendimento médico e outros tipos de atendimentos em geral.

As pessoas esquecem-se de que é bom viver, que a única forma de não envelhecer é morrer novo, que um dia ficarão velhas e que o número de idosos está a crescer geometricamente. Quem cuidará deles? É preciso parar e pensar no amanhã. É preciso uma reflexão por parte da sociedade: encontrar soluções urgentes e satisfatórias. É necessário o comprometimento de todos os envolvidos: mais responsabilidade na abordagem da questão, mais visibilidade nas propostas e mais presença no assunto. É importante procurar novas vias para superar esses desafios do grande número de idosos no mundo.

A educação pode apresentar-se como essa “nova via”.   Atualmente é fundamental uma “educação gerontológica”. E quanto antes se processar, mais rápido se fará uma conscientização das pessoas envolvidas e medidas preventivas serão tomadas para transformar a velhice, idealizá-la e planeá-la. O acesso à educação também é um direito do idoso. Como ele irá compreender e reagir às mudanças se lhe for negado o acesso aos novos saberes, às tecnologias de informação, que lhe propiciarão questionamentos, dúvidas, respostas, soluções para os seus problemas? As inovações são muitas e tão rápidas que é humanamente impossível a pessoa acumular, desde o início da vida, uma determinada quantidade de conhecimentos e com eles, resolver indefinidamente seus problemas e situações emergentes. Por isso, é necessário repensar e ampliar o conceito de educação ao longo de toda a vida. Para os idosos, o desejo de continuar a aprender ultrapassa as necessidades impostas pelo mercado e surge como uma nova proposta, cativante para a maioria deles, de permanecer em contato com outras pessoas, muitas vezes, com problemas e situações mais ou menos semelhantes aos seus. A escolarização foi negada a muitas gerações, que hoje são idosos, às vezes, pela própria família – por não visualizar na educação as oportunidades de crescimento – ou por dificuldades económicas, e assim, essas pessoas não tiveram um ensino formal, principalmente as mulheres, que eram educadas para serem donas-de-casa. Olhar o idoso como aprendiz é um novo paradigma desta nova velhice. Por que não investir nisso? O investimento social privado poderia atuar na inclusão do idoso no âmbito educacional. Além de despertar o espírito humanitário, possibilitaria uma otimização de recursos em projetos sócio educacionais e intergeracionais. Acredita-se que a educação dará ao idoso a possibilidade de dar novo sentido à  sua vida. É muito grande a transformação que ocorre quando ele tem acesso ao saber.

Qualquer pessoa, independentemente da sua idade, através da educação passa a ser mais participante, desenvolve as suas capacidades, começa a pensar e agir diferenciadamente, como também passa a exigir tratamento diferente. Aprende a enfrentar obstáculos que antes lhe pareciam intransponíveis.

Reformulando-se, fortalece e propicia o desabrochar do novo paradigma de velhice.