
“O esforço recente da teologia cristã em mergulhar nos problemas da ecologia e das relações humanas com a totalidade da criação revela uma nova consciência ecológica que desponta.
Por Joaquim Armindo
O que está em jogo é o futuro da vida na Terra e o conceito de Deus como Pai e Mãe, Autor da vida, Criador e Salvador. O esforço em restaurar as relações harmoniosas entre a humanidade e o cosmos exige superar certos conceitos individualistas e economicistas do ser humano. O estilo de vida dos povos originários, que veem o cosmos como epifania, cheio de sentido, manifestação do mistério e instância que pede reverência e respeito é paradigmático neste momento da história. Há mesmo toda uma elaboração antropológica que faz fronteira com a teologia sobre o bem-viver que se encontra nos povos indígenas”, refere a Doutora em Teologia Maria Clara, na Revista Portuguesa de Teologia, último número, num artigo intitulado, “Some Theological Trends im Latin America”.
Esta harmonia entre a humanidade e o cosmos substancia-se numa interdependência que nada deixa de fora. Por isso tratar mal a ecologia, conferindo-lhe uma dependência ambiental é quase herético, de quem quer colocar uma ecologia de “separar resíduos” ou de “baixar o consumo de energia fóssil”, fora de todas as características que possui de caráter económico, social e cultural. Não estou a escrever que está mal a separação de resíduos ou baixar o dióxido de carbono – os estudantes mais novinhos aprendem, e bem!, nas escolas -, o quero afirmar é que não podemos nunca tirar o texto do contexto. Para o neocapitalismo ou afins, isso é muito bom, primeiro porque ganham lucros, segundo porque entretêm as pessoas, pensando que é isso a Ecologia, e não é só, as questões económicas – isso parece ser um tema tabú -, sociais e culturais, são ecologias fundamentais, e isto está tudo interligado. Com o neocapitalismo não há defesa do ambiente, nem social, nem cultural.
Para nós cristãos e cristãs este paradigma de interligação é fundamental, no sentido de criarmos uma Ecologia Espiritual, que, para nós, dá o Ser a todas estas questões. Há uma unidade ontológica e antropológica na reflexão do grito da Terra e no grito dos Pobres, que passa necessariamente, por não colocar remendos em panos velhos, nem vinho bom em odres velhos. Esta visão não está a ser seguida por muitas igrejas cristãs, não fora o bispo de Roma e papa Francisco a colocar nos próximos sete anos.