
20 de Junho de 2021
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Job Job 38,1.8-11
«O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade».
Salmo Responsorial Salmo 106 (107)
Cantai ao Senhor, porque é eterno o seu amor.
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 2 Cor 5,14-17
«Cristo morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles».
Aclamação ao Evangelho Lc 7,16
Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 4,35-41
«Passemos à outra margem do lago».
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».
«Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
Viver a Palavra
Recentemente ao visitar uma família, quando nos preparávamos para rezar, um dos mais pequenos perguntou-me: «Padre Sérgio, como seria a nossa vida se Jesus não existisse?». Confesso que esta pergunta me tem acompanhado na oração nas últimas semanas, obrigando-me a descobrir novas razões sobre o lugar transformador da presença de Cristo nas nossas vidas. Não bastam como resposta os lugares comuns que nos saem boca fora, nem as frases feitas sempre à medida para respostas inesperadas. É necessário entrar na oração e na vida quotidiana e descobrir o lugar decisivo que Jesus ocupa na nossa vida. Em primeiro lugar, é importante registar que não está em causa a existência de Deus e a Sua acção na nossa vida. A pergunta é precisamente que diferença haveria na nossa vida se não contássemos com a presença de Jesus que para aquele pequeno é clara e evidente.
S. Paulo recorda-nos a radical diferença da vida que se constrói em Jesus Cristo: «se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram: tudo foi renovado». A vida em Jesus Cristo é nova e renovadora. A vida sem Cristo não seria apenas mais pobre ou com menos sentido. Na verdade, não seria vida, não teria o mesmo sabor e a mesma força, porque lhe faltaria Aquele que oferece vida verdadeira e prenhe de sentido. Jesus Cristo é o único capaz de dominar e ultrapassar os limites da nossa existência: Ele domina os ventos e marés, vence o pecado e a morte. Por isso, caminhar com Ele é fazer a experiência da força transformadora e renovadora do Seu amor.
Caminhar com Jesus, é, antes de tudo, seguir com Aquele que permanentemente nos desafia: «passemos à outra margem do lago». Como aos discípulos de outrora, Jesus conduz-nos mais longe, mais largo e mais alto. Jesus retira-nos da nossa mediocridade e aponta-nos sempre um horizonte maior e mais largo. Jesus não nos quer instalados e acomodados e ensina-nos a viver a arte de estarmos tranquilos enquanto estivermos inquietos, enquanto no nosso coração residir o desejo de progredir na estrada da santidade.
Atravessar o mar da vida implica largar as seguranças. O medo pode assolar-nos mas dissipa-se se formos capazes de levar Jesus na nossa barca. Se é Ele que nos convoca e envia, também é Ele que nos precede e acompanha na missão. Por isso, não espanta que diante dos ventos contrários façamos a experiência do aparente sono de Deus. O medo sacode a barca ao ponto de nos fazer sentir totalmente desprotegidos e nem as seguranças de outras tempestades nem as palavras consoladoras que tantas vezes dirigimos a outros parecem fazer sentido: «Mestre, não Te importas que pereçamos?».
A mim surpreende-me sempre que diante daquela tempestade o primeiro instinto tenha sido acordar Jesus. Eles sabiam bem que Ele era o filho de José, o carpinteiro, e que sua mãe era Maria que viva em Nazaré. Não seria mais sensato gritar por Pedro ou André, Tiago ou João, pescadores acostumados às lides do mar? Jesus era aprendiz de carpinteiro na oficina de S. José… Contudo, os discípulos sabem bem que só Jesus conhece o segredo do mar e da tempestade. Sabem que muitas vezes é precisar gritar para acordar Jesus, ou melhor, para acordar dentro de nós a presença efectiva de Jesus.
Os ventos e os mares sopram e Jesus dorme. Diante da violenta força dos ventos e das ondas, a aparente fragilidade de um Deus que dorme. Caminhar com Jesus será sempre abraçar o horizonte maior e mais largo da cruz, onde diante de desafios e exigências que parecem maiores do que as nossas forças, se levanta o Deus forte que dissipa os nossos medos, afasta as nossas trevas e nos abre horizontes de esperança.
Homiliário patrístico
Das Cartas de São Bonifácio, bispo e mártir (Séc. VIII)
A Igreja é como um grande navio que navega pelo mar deste mundo. Sacudida pelas diversas ondas da adversidade nesta vida, não deve ser abandonada a si mesma, mas tem de ser governada. Na primitiva Igreja temos o exemplo de Clemente e Cornélio e muitos outros na cidade de Roma, de Cipriano em Cartago, de Atanásio em Alexandria, os quais, sob o reinado dos imperadores pagãos, governaram a barca de Cristo, melhor, a sua dilectíssima esposa, que é a Igreja, ensinando-a, defendendo-a, passando trabalhos e sofrimentos até ao derramamento do sangue.
Ao pensar nestas figuras e noutras semelhantes, estremeço de receio; o temor e o terror apoderam-se de mim e quase me submergem as trevas dos meus pecados; e muito me agradaria abandonar de todo o leme da Igreja, se encontrasse precedentes semelhantes nos Padres ou na Sagrada Escritura.
Mas sendo assim, e dado que a verdade pode ser contestada, mas não vencida nem enganada, refugia-se a nossa alma fatigada n’Aquele que nos diz pela boca de Salomão: Tem confiança no Senhor com todo o teu coração e não confies na tua prudência. Em todos os teus caminhos pensa no Senhor e Ele dirigirá os teus passos. E noutro lugar: O nome do Senhor é uma torre fortíssima. Nela se refugia o justo e será salvo.
Permaneçamos firmes na justiça e preparemos as nossas almas para a provação; suportemos a dilação de Deus e digamos-lhe: Senhor, Vós Vos tornastes o nosso refúgio de geração em geração. Confiemos n’Aquele que colocou sobre nós este fardo. Como o não podemos levar sozinhos, levemo-lo com o auxílio d’Aquele que é omnipotente e nos diz: O meu jugo é suave e a minha carga é leve. Mantenhamo-nos firmes no combate no dia do Senhor, porque vieram sobre nós dias de angústia e de tribulação. Se Deus quiser, morramos pelas santas leis dos nossos antepassados, a fim de merecermos alcançar com eles a herança eterna.
Não sejamos cães mudos, não sejamos sentinelas silenciosas, não sejamos mercenários que fogem do lobo, mas pastores solícitos que velam pelo rebanho de Cristo, pregando toda a doutrina de Deus ao grande e ao pequeno, ao rico e ao pobre, a todas as classes e idades, enquanto Deus nos der forças, oportuna e importunamente, tal como São Gregório escreveu na sua Regra Pastoral.
Indicações litúrgico-pastorais
- O texto do Evangelho proposto para este XII Domingo do Tempo Comum é um incisivo apelo à fé e à confiança no meio das adversidades do tempo e da história. Na pandemia que estamos a atravessar, diante das sombras e dificuldades que nos envolvem, precisamos de continuar a sentir ressoar nos nossos corações a voz de Jesus que dissipa os nossos medos e renova a confiança e a esperança. Este texto evangélico foi a passagem escolhida pelo Papa Francisco para nos dirigir uma palavra de esperança, no dia 27 de Março de 2020, naquele inesquecível momento extraordinário de oração na Praça de S. Pedro. A leitura deste texto é uma oportuna proposta de meditação para todos nós e ajudar-nos-á sempre a repensar a vida e as suas inerentes dificuldades e exigências, convidando-nos a recentrar a nossa vida em Jesus Cristo e no Seu infinito amor.
- Para os leitores: que a brevidade da primeira leitura não faça descurar a sua preparação, pois é um texto que requer bastante cuidado na sua proclamação. A leitura é constituída pela resposta do Senhor a Job e mais de metade do texto é composto por uma única interrogação. Pede-se o cuidado de não deixar a entoação interrogativa para o final da frase, mas ter presente logo no início na partícula interrogativa «quem». A segunda leitura deve ser marcada por um tom exortativo com especial atenção para as pausas e respirações para uma leitura articulada do texto.
Sugestões de cânticos:
Entrada: Salvai, Senhor, o vosso povo – J. Santos (CN 678); Salmo Responsorial: Cantai ao Senhor porque é eterno o seu amor (Sl 106) – M. Luís (SRML, p. 222-223); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo – C. Silva (CN 47); Ofertório: Por vossa imensa bondade – A. Cartageno (CN 813); Comunhão: Eu sou o Bom Pastor – C. Silva (CN 449); Pós-Comunhão: Se me envolve a noite escura – M. Luís (CN 901); Final: Ao Deus do Universo – J. Santos (CN 933).