Mensagem (125): Secularidades

Impressiona-me a enfadonha monotonia de grande parte dos articulistas de opinião dos nossos jornais: quase nenhum se consegue desprender das temáticas religiosas e quase todos começam sempre por uma «profissão de fé» no seu agnosticismo –não sei se sincera ou imposta pelas suas pertenças- no género de “Eu que até sou ateu…” ou “Eu que não sou religioso…”. Não dizem que creem “em um só Deus”, como nós. Mas acabam por professar solenemente um outro credo. E com que convicção!

O filósofo canadiano Charles Taylor tornou-se famoso com o seu livro “A idade secular”, publicado em 2007. Fala da retirada da religião do espaço público e da fé como uma opção entre tantas outras. Mas acentua um dado: a idade é secular, mas não ateia, já que subsiste a abertura à transcendência e muitos encontram nas propostas religiosas, morais e espirituais –tradicionais ou heterodoxas- o lugar do sentido para a existência.

Sim, a secularização é um fenómeno complexo. A nível político, é inegável a separação entre a Igreja e o Estado. Para benefício da Igreja. Sociologicamente, não negamos que a prática religiosa diminuiu. Mas, a nível existencial, as coisas são diferentes. Se é verdade que muitos confiam totalmente à ciência a proteção das suas fragilidades, também é verdade que muitos vão buscar as razões profundas de si e das coisas à experiência da fé ou a um certo misticismo. É o necessário antídoto à desintegração total.

Desengane-se, pois, quem considera a religião em fim de linha. Nós, os crentes, também valorizamos determinados âmbitos da secularização e o Concílio saudou uma justa autonomia das realidades terrenas. Não nos revemos, porém, no materialismo grosseiro daqueles que “têm o ventre por seu deus” (Fil 3, 19). Até porque, neste caso, mudam os titulares, mas as divindades lá continuam…

Mas porque beber água inquinada quando se tem à mão a mais cristalina? É que os cristãos não estão isentos de pecado. E uma crença por obrigação, tradição ou convenção não só não convence como afasta. Como a experiência indica, só atrai um cristianismo de qualidade que comece no coração, conduza à perfeita comunhão e participação eclesial e se torne testemunho de santidade radical.

Então, por quê esperamos?

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