
Nos últimos dias, foram divulgados os índices de qualidade e eficácia das escolas secundárias.
Por Jorge Teixeira da Cunha
No topo da hierarquia dos resultados, encontramos, com orgulho indisfarçado, as escolas promovidas por congregações religiosas, por dioceses e outras associações confessionais católicas. Este facto merece-nos alguns comentários, desde a perspectiva da doutrina da Igreja sobre educação e sobre o lugar da escola na sociedade e na cultura.
O primeiro aspecto que é justo pôr em evidência é a eficácia destas escolas. O ambiente de trabalho, o rigor da disciplina, o esforço do corpo docente, a opção das famílias que colocam os seus filhos nestas escolas, é verdadeiramente digno de nota. Sabendo nós como a sustentação das escolas, neste caso, é da responsabilidade dos pais, isso é ainda mais notável, pois sustentam as escolas ditas públicas com os seus impostos e sustentam directamente as escolas dos seus filhos. Pagam duas vezes a educação.
O segundo aspecto que nos ocorre destacar é uma pergunta: deve a Igreja manter este tipo de escolas que são de uma qualidade que se destaca? A resposta é afirmativa. Ao promovê-las dá um testemunho em favor da liberdade de ensinar e de aprender. Esta liberdade está assente numa garantia constitucional, mas a sua efectivação é muito prejudicada pela forma do seu financiamento privado. No nosso contexto republicano, a liberdade de ensino é muito limitada, pelo efeito da canalização dos recursos públicos exclusivamente para a escolas de iniciativa estatal. Falta um grande caminho até conseguirmos uma situação mais equitativa, que seria aquela em que todas as escolas legalmente fundadas e geridas fossem pagas com fundos públicos, seja qual for a identidade da iniciativa que a promove. O normal seria que todas as escolas devessem ser de direito cooperativo e de financiamento estatal. De facto, eticamente falando, a escola é da responsabilidade da sociedade civil, sendo que o Estado deve ser subsidiário quanto a esta iniciativa de transmissão dos conhecimentos e da cultura.
Um terceiro aspecto tem que ver com a necessidade de inovar a acção educativa, tarefa que compete às escolas católicas. Aquilo que foi a ideia republicana de uma escola para todos, sem exclusão de ninguém, uma escola promotora da cidadania e da liberdade para todos, está derrotada nos dias que correm. Ora, a nosso ver, por estranho que pareça, essa tarefa de inovação devia ser promovida pela escola católica. O problema da escola de hoje não o que faz bem, mas o que deixa de fazer, a saber: a inclusão de todos, sobretudo a inclusão dos que ficam para trás, que abandonam a escola, e que não são abrangidos pelo elevador de humanidade que seria suposto ser feito pela escola. Por isso, para além das escolas altamente eficazes que já existem em contexto católico, seria de toda a conveniência que novas nascessem, que fossem capazes de fazer o que ninguém faz: educar os que ninguém educa. Reparemos que os grandes fundadores de instituições educativas, D. Bosco, Paula Frassinetti, Padre Américo dos Gaiatos, seguiram esse caminho de inclusão daqueles que são dificilmente integráveis. Essa capacidade de inovação, baseada no carisma, é muito necessária nos dias que correm. O Espírito Santo há-de inspirar novos modelos de educadores católicos.