“Para concluir, em minha opinião, a noção de sinodalidade tem implicações muito mais amplas e profundas que as Assembleias de Bispos, por muito consultivas e participativas que sejam.
Por Joaquim Armindo
Não devem limitar-se a um alongamento eclesiástico desde uma igreja eurocêntrica a maiores expressões de autonomia para as igrejas locais. Estes movimentos assim, conduzirão a trocas de cosméticas na forma de ser uma igreja de hierarquia clericalizada masculina, como continua a ser o catolicismo mundial” – escreve a teóloga indiana Kochurani Abraham, no último número da revista Concilium, de abril do corrente ano, publicada antes das orientações do bispo de Roma e papa Francisco, acerca do Sínodo dos Bispos sobre “sinodalidade”. E ao terminar o seu artigo continua: “A “sinodalidade” vai converter-se num caminho de renascimento e revitalização para a Igreja quando o compromisso batismal e não a ordenação sacerdotal se converta no eixo da vida eclesial e os fiéis cristãos aprendam a assumir a responsabilidade da vida e da missão eclesial. Isto permitirá o surgimento de uma Igreja sinodal de uma maneira que traduza a vida e a política evangélica de Jesus Cristo”.
O calendário e a participação que se crê irá existir no próximo sínodo dos bispos – sobre sinodalidade -, tem reflexões profundas na revista enunciada, toda ela relacionada ao tema “Sinodalidades”; até porque alguns autores questionam a própria palavra no singular, clamando que o que existirá são “sinodalidades”, assim no plural. A teóloga indiana vai ao mais profundo das igrejas cristãs, quando eram conhecidas pelas “do Caminho”, e coloca uma questão pertinente que será da maioria da igreja – neste caso constituída por mulheres -, poder não ter voz e decisão no Sínodo sobre “Sinodalidade”. E a outra questão colocada: é uma igreja centrada na “eurocentralidade” e não na “cosmocentralidade”, aqui para usar a linguagem de Leonardo Boff. Na igreja primitiva não seria assim, como nos conta os Atos dos Apóstolos, no seu capítulo 15, um “sínodo” sobre a presidência de Tiago, porque era ele o animador da comunidade de Jerusalém, na linguagem de hoje o Bispo, que conduziu a um amplo consenso e com a participação de todas as comunidades cristãs.
Se é verdade que o caminho se faz caminhando, também o é, que poderemos caminhar por um caminho horizontal, e não por caminhos em sinusoide. Confiando no Espírito do Senhor esperamos bem que o caminho sinodal traçado seja uma estrada ampla, onde a inclusão de opiniões e decisões sejam não de “cosmética”, mas de evangelização, compromisso e missão.