
A palavra é rara na nossa boca, mas vamos ouvi-la com frequência. Em ambiente eclesial, claro. Porque é neste que o mesmo amor de Deus, a mesma fé e batismo se traduzem no mesmo sentido filial na relação com a Igreja. E um bom filho ama muito a sua mãe.
Diz o Papa que a sinodalidade “é um conceito fácil de exprimir com palavras, mas não é assim tão fácil pô-lo em prática”. Como conceito, remete para a ideia de caminhada conjunta, na qual os viajantes escutam e falam, refletem e exprimem, em verdade e sem inibição, aquilo que lhes diz respeito ou preocupa; enquanto prática, denota uma atitude existencial onde não cabem melindres, desinteresse, guerrilhas e imposição unilateral de um ponto de vista. Desde que se queira, efetivamente, o bem da Mãe…
Temos de reconhecer que a Igreja Católica, no segundo milénio, não primou pela sinodalidade. As condições internas e externas mais acentuaram a coesão à volta da estrutura do que propriamente a participação de todos na vida da fé e sua adoção por povos e grupos de distintas visões culturais e filosóficas. Resultado: acentuou-se o vértice da pirâmide em detrimento da base. E os de baixo limitavam-se a seguir o que vinha de cima.
O Concílio Vaticano II optou por outro modelo de Igreja. Reorientou-a no sentido da sua essência e origem. Até porque a «anexação» que os dirigentes fizeram dela só gerou menorização daqueles que se assumiram como “leigos na matéria”. Com uma consequência: desresponsabilização.
Com um Sínodo sobre a sinodalidade em outubro de 2023 –o que parece uma tautologia, mas é antes o regresso ao próprio ser da Igreja, enquanto comunhão, participação e missão- seria «brincadeira de mau gosto» se Roma se limitasse a dar indicações no final do mesmo, com a costumada Exortação pós-sinodal. Mas não. O Papa quer colocar já a Igreja em processo sinodal. E escutá-la. O Sínodo será apenas a conclusão.
Para já, entramos nas preparações. No próximo outubro, Francisco abrirá formalmente o procedimento de consulta. Na semana seguinte, será a nível de todas as Dioceses do mundo. E, depois, há que vestir o fato de caminheiro e… caminhar juntos. Na oração, na reflexão, no igual empenho.
Não se trata de um evento, por mais bem organizado ou apelativo que seja. Mas de um processo. Um processo sem limites que se transforme em método ou estilo de vida.
Estamos preparados para lhe dar início?
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