Domingo X do Tempo Comum

6 de Junho de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Génesis                                                                               Gen 3,9-15

«Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: “Onde estás?”».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 129 (130)

No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.

 

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios                   2 Cor 4,13-5,1

«Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas».

 

Aclamação ao Evangelho            Jo 12,31b-32

Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo, diz o Senhor;

e quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos                        Mc 3,20-35

«Jesus chegou a casa com os seus discípulos e de novo acorreu tanta gente, que eles nem sequer podiam comer».

«Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».

«Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

Viver a Palavra

«Onde estás?»: esta é a primeira pergunta que Deus dirige à humanidade. O primeiro casal humano, ouvindo os passos de Deus, depois de terem transgredido as ordens dadas pelo Criador, esconde-se pela vergonha de se sentirem nus. A nossa fragilidade e o nosso pecado despem as máscaras e adornos com que tantas vezes camuflamos o que verdadeiramente somos. Contudo, é necessário amadurecer a capacidade de integrar na nossa vida os nossos limites e fracassos e aprender a encontrar neles pontos de esforço onde somos chamados a investir para crescer na estrada da santidade.

Evitar a pergunta decisiva – «onde estás?» – não nos permite amadurecer nem crescer porque nos bloqueia e nos faz ficar escondidos apenas a lamentar a nossa pobre condição. Somos barro frágil e débil que permanentemente precisa de ser visitado pelo Criador para se situar no tempo e na história, na relação com Deus e com os irmãos. O itinerário crente escreve-se no devir do tempo, percorrendo a estrada que nos conduz de onde estamos e daquilo que somos, para onde Deus nos quer e para aquilo que Ele nos chama a ser. Por isso, é necessário enfrentar os medos e a vergonha que nos paralisa e nos faz esconder, para que possamos caminhar com renovada confiança na mão firme e segura Daquele que nos aponta o caminho da verdadeira liberdade.

É sempre tentador encontrar alguém a quem jogar a culpa e desculpabilizar o nosso erro: «a mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». Adão consegue culpabilizar a mulher, culpabilizando Deus de lha ter dado como companheira. Mas se, por um lado, é apetecível lançar fora a nossa culpa projectando-a em alguém, mais reconfortante e libertador é assumir a verdade do que somos, situar-nos no tempo e na história com as nossas mãos vazias e avançar cofiando na fragilidade que se faz força quando assumida e integrada com verdade.

Contrasta com a figura de Adão e Eva o testemunho de Maria, aquela que diante da Sua pequenez se colocou diante de Deus disponível para o seu acontecer. A Virgem de Nazaré encontrou no cumprimento da Palavra de Deus o caminho que a fez avançar do receio e dos temores iniciais para a confiança e a ousadia da adesão total e disponível à vontade de Deus. Confrontado com a presença da sua mãe e dos seus irmãos, Jesus proclama a alta voz que Sua Mãe e Seus irmãos são aqueles que encontram na vontade de Deus a norma orientadora do Seu agir.

Maria ensina-nos a responder à pergunta – «onde estás?» – com um sim pronto e disponível: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». O cumprimento da Palavra de Deus e o seguimento da Sua vontade unificam a vida e transformam o coração, ao invés do pecado e da desconfiança que dão lugar à divisão e ruína: «se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se». O pecado fere a nossa relação com Deus e com os irmãos, destrói a harmonia e a comunhão e faz despontar a vergonha e o escondimento. Só a verdade nos liberta e só a vontade de Deus nos conduz à verdadeira liberdade. Efectivamente, a liberdade verdadeira não se define como um átrio largo e vasto onde todas as coisas nos são possíveis, mas na consciência de que sou verdadeiramente livre quando podendo fazer a escolha decisiva entre o bem e o mal, escolho o bem supremo que é Jesus Cristo e o Seu Evangelho.

 

Homiliário patrístico

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os seus discípulos: Estes são minha mãe e meus irmãos e Quem fizer a vontade de meu Pai, que Me enviou, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que d’Ela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado n’Ela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai; e, por isso, Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo. Portanto, Maria era bem-aventurada, porque, antes de dar à luz o Mestre, trouxe-O no seio.

Maria é santa, Maria é bem-aventurada. Mas é mais importante a Igreja do que a Virgem Maria. Porquê? Porque Maria é uma parte da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas apesar disso membro do corpo total. Se é membro do corpo, é certamente mais o corpo do que o membro. A cabeça é o Senhor, e Cristo total é a cabeça e o corpo. Que mais direi? Temos no corpo da Igreja uma cabeça divina, temos a Deus por cabeça.

Reparai portanto em vós mesmos, irmãos caríssimos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede como o sois, quando Ele diz: Eis minha mãe e meus irmãos. Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e pratica a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Quando diz «irmãos» e «irmãs», fala evidentemente da mesma e única herança.

É uma só, na verdade, a herança. Por isso, a misericórdia de Cristo, que sendo único não quis ficar só, fez de nós herdeiros do Pai e herdeiros consigo.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. No dia 12 de Junho, Sexta-feira depois do segundo Domingo depois do Pentecostes, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Neste dia, assinala-se também o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. Esta solenidade está muito enraizada na devoção dos fiéis e em muitos lugares são diversas as formas de piedade popular que assinalam este mês e este dia. É importante lembrar as palavras do Papa Francisco, nos números 122-126 da Evangelii Gaudium, onde o Santo Padre apresenta a força evangelizadora da piedade popular e dinamizar este mês e este dia ajudando os fiéis a encontrar no Coração de Jesus Cristo a revelação do rosto misericordioso de Deus.

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, ter especial cuidado na articulação das diversas intervenções do diálogo entre Deus, Adão e a mulher, de modo particular, nas frases interrogativas. Na segunda leitura, encontramos frases longas com diversas orações intercaladas com frases muito curtas. Deve preparar-se a leitura com atenção às diversas pausas e respirações para uma leitura bem articulada do texto.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: O Senhor é minha luz e salvação – F. Santos (CN 718); Salmo Responsorial: Junto do Senhor a misericórdia (Sl 129) – M. Luís (SRML, p. 50-51); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo, diz o Senhor –  J. Berthier (CN 45); Ofertório: Aceitai-nos, ó Senhor – M. Luís (CN 171); Comunhão: Quem fizer a vontade de meu Pai – C. Silva (CN 844); Pós-Comunhão: Cantarei ao Senhor – F. Silva (CN 547); Final: Louvado seja o meu Senhor – C. Silva (CN 586).