A atividade da Companhia de Jesus no Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim – matéria que até hoje não foi objecto de qualquer estudo publicado, é abordada por Amadeu Gomes de Araújo, num extenso e documentado artigo, com o tema “Os Jesuítas no Colégio das Missões Ultramarinas (1861-1871)”, do qual transcrevemos a seguinte conclusão.
Às boas recordações do Pe. Francisco Pereira sobre as primeiras levas de missionários, associamos a conhecida admiração de António José de Sousa Barroso pela Companhia de Jesus. Quando jovem estudante, não recebeu formação directamente dos Padres jesuítas, que deixaram o Colégio no fim do ano lectivo de 1871, dois anos antes da sua entrada (3-11-1873). Com a saída destes, e, um ano depois, de D. João Maria Pimentel, os Superiores e professores da Casa passaram a ser escolhidos entre o clero das dioceses de Portugal e das Missões do Ultramar. Porém, a actividade intensa que ali exerceram ao longo de dez anos, deixou rasto na vida da instituição, até porque o sucessor de D. João Pimentel, o Pe. António Caetano Vaz Pereira, antes era vice-reitor. Foi nomeado para exercer as funções de Superior interino, de 28 de Julho de 1872 até fins de Março de 1874. É, pois, natural que a gestão da Casa se tenha mantido nos moldes deixados pelos jesuítas. No princípio de Abril de 1874, assumiu a direcção, como Superior, o cónego da Sé Patriarcal de Lisboa, José Maria Ferrão de Carvalho Martens, mais tarde nomeado bispo de Bragança e de Portalegre. Manteve-se ali como Superior até 1884, pelo que acompanhou o jovem Barroso ao longo de toda a sua formação, que decorreu entre 1873 e 1879.
A leva de missionários de que D. António Barroso fez parte, juntamente com outros dois futuros bispos do Padroado, Henrique José Reed da Silva e Sebastião José Pereira, e diversos outros colegas seus, seguiu para a diocese de Angola e Congo, em meados de Agosto de 1880, altura em que o jesuíta Francisco Pereira já não se encontrava em Cernache. Mas foi durante a estada deste sacerdote que se iniciaram as levas regulares de missionários. O ano de 1865 ficou como referência para os chamados Padres de Cernache, porque foi a partir de então que começaram a sair regularmente para as Missões do Ultramar, ainda que alguns tivessem já seguido em anos anteriores.
Sobre a admiração que D. António Barroso sentia pelos Padres jesuítas, recordamos uma viagem que fez à Zambézia, em 12 de Junho de 1894, quando era Prelado de Moçambique, e a visita pastoral que então fez à Missão de Boroma, que tinha como Superior o Pe. João Hiller, alemão. Criada pouco antes, em 1885, era uma Missão moderna e exemplar, uma das melhores que a África conheceu. D. António demorou-se ali uns dias, até 31 de Julho, festividade de Santo Inácio, para celebrar um solene pontifical, e para conhecer em pormenor a experiência dos jesuítas, sobretudo no tocante ao funcionamento das escolas masculinas e femininas, que tanto queria ver implantadas na colónia moçambicana. Anotou então no seu diário: «Estes padres são uns trabalhadores incançáveis, e bem merecem da Egreja e de Portugal, cujo nome fazem conhecer».[1]
Amadeu Gomes de Araújo, Vice-Postulador da Causa da Canonização de D. António Barroso
[1] ARAÚJO, Amadeu Gomes de; AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Réu da República: o Missionário António Barroso Bispo do Porto. Lisboa: Aletheia, 2009, p. 146.