
No auge das atrocidades do ISIS, um cristão perguntou a um jornalista que cobria a guerra: “Quem se preocupa connosco? Somos apenas números numa folha de cálculo de Excel?”. De facto, o grande drama é transformarmos as pessoas em números frios. E, para alguns, morrerem mais mil ou dois mil, que diferença faz? Números, apenas…
Mas mesmo os números chocam: no Iraque, os cristãos foram dizimados ou tiveram de fugir e de dois milhões, em 2003, passaram para os atuais duzentos mil; em Mossul foram destruídas todas as 45 igrejas; o norte da Síria testemunha uma razia contra os cristãos, a destruição de cerca de 150 templos, adolescentes raptadas para serem vendidas como escravas sexuais e 300 eclesiásticos desaparecidos; no Egipto, os coptas estão debaixo de fogo e as meninas são obrigadas a converter-se para escaparem com vida; não sabemos bem o que se passa na Líbia e Etiópia, mas tudo leva a crer que os cristãos… foram extintos.
A estes dados poderíamos juntar outros factos: identificação de cristãos com grupos étnicos para uma perseguição mais camuflada; expropriação cirúrgica dos seus bens para os obrigar à emigração; encurralá-los entre a fome e o fundamentalismo; desmantelamento das suas estruturas sociais; destruição do património e da documentação para negar a memória histórica do cristianismo; etc. Em África, o fundamentalismo já ultrapassou o equador e aproxima-se do sul. E em países mais «democráticos» da bacia do Mediterrâneo, os cristãos são tolerados porque potenciam o turismo. Só por isso.
O assombro deste estado de coisas só tem paralelo com o espanto do desinteresse da política e da comunicação social do Ocidente: ninguém reage, ninguém levanta um dedo, ninguém intenta uma denúncia, por mais ténue que seja. Deixa-se, assim, a porta aberta para aquilo que o Papa denunciou com uma expressão feliz: a asfixia do cristianismo “com luva branca”.
O Ocidente, de facto, «vende a alma ao diabo» por um barril de petróleo ou por um «parceiro comercial», ainda que só lhe «compre» um clube de futebol e depois lhe retire a cruz do seu símbolo. E se dominar o sistema bancário e financeiro mundial, então até se ajoelha perante ele.
Não esperemos a reação dos «grandes». Mas levemos estes dados à opinião pública: esta ainda possui uma reserva de bom senso. E reagirá. Como perguntou Sophia, “que pode crescer dentro do tempo senão a justiça?”.
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