Domingo IX do Tempo Comum – Solenidade da Santíssima Trindade

30 de Maio de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Deuteronómio                                                        Deut 4,32-34.39-40

«Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro».

 

Salmo Responsorial                                Salmo 32 (33)

Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos          Rom 8,14-17

«Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados».

 

Aclamação ao Evangelho           cf. Ap 1, 8

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,

ao Deus que é, que era e que há-de vir.

 

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                        Mt 28,16-20

«Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram».

«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».

 

Viver a Palavra

DEUS!

Com toda a certeza, esta é a palavra sobre a qual mais se escreveu ao longo da história: grandes tratados demonstrando a sua existência e inúmeros escritos que negam quer a necessidade do divino, quer a necessidade de relação com ele. Mas como é Deus em si mesmo? Como é que Deus se relaciona connosco?

É inegável que no mais íntimo do coração humano reside um desejo de plenitude e de transcendência. Na verdade, como nos recorda S. Agostinho, o coração humano é um coração inquieto que não se satisfaz com nada menos do que Deus e é, precisamente assim, que se torna um coração que ama. O nosso coração vive inquieto por Deus e não pode ser doutro modo, ainda que hoje o ser humano procure de tantos modos libertar-se desta inquietação. Contudo, como afirmou o Papa Bento XVI na homilia da Solenidade da Epifania, a 6 de Janeiro de 2012: «não somos só nós, seres humanos, que vivemos inquietos relativamente a Deus. Também o coração de Deus vive inquieto relativamente ao homem. Deus espera-nos. Anda à nossa procura. Também Ele não descansa enquanto não nos tiver encontrado. O coração de Deus vive inquieto, e foi por isso que se pôs a caminho até junto de nós – até Belém, até ao Calvário, de Jerusalém até à Galileia e aos confins do mundo. Deus vive inquieto connosco!».

Este Deus inquieto, que nos ama com amor infinito, que nos criou por amor e por amor nos acompanha nos caminhos da história, revela-se em Jesus Cristo e na força do Espírito Santo dá-nos a conhecer o Seu rosto terno e misericordioso. Deste modo, a Solenidade da Santíssima Trindade é a oportunidade de olharmos o coração de Deus, de entrarmos no Seu mistério de amor e comunhão para nos deixarmos envolver por esta corrente de graça que transforma a vida e o coração humano. A missão dos Apóstolos foi precisamente esta: acolher a inquietação de Deus por cada homem e mulher e levar o próprio Deus ao coração dos homens. Como discípulos missionários, também nós hoje somos chamados a deixar-nos tocar por esta inquietação de Deus, a fim de que o anseio de Deus pelo homem possa ser satisfeito.

Para entrar neste dinamismo de amor é necessário como os discípulos regressar à Galileia. Impressiona-me sempre que em diferentes relatos da ressurreição Jesus dê aos discípulos indicação de voltarem ali. Regressar à Galileia significa voltar ao encontro primeiro com Jesus, ao momento em que deixaram que o Seu coração fosse tocado pelo incisivo convite de Jesus para partirem com Ele. É verdade que apesar da experiência que fizeram de Jesus Ressuscitado «alguns ainda duvidaram», mas isso não foi impedimento para que Jesus lhes confiasse a missão de partir e anunciar o Evangelho a todos os povos. A última palavra não pertence às nossas dúvidas ou receios. Eles fazem parte do caminho e devermos aprender a enfrentá-los. A última palavra pertence a Jesus que nos garante: «Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos». Acompanhados por esta certeza, os nossos medos dissipam-se, as nossas dúvidas desvanecem e diante de nós rasgam-se horizontes de esperança que na força do Espírito nos permitem olhar o céu e invocar «Abá, Pai».

 

Homiliário patrístico

Das Cartas de Santo Atanásio, bispo (Séc. IV)

Ora a nossa fé é esta: acreditamos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; não há n’Ela mistura de nenhum elemento estranho; não Se compõe de Criador e criatura; mas toda Ela é criadora e eficaz; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e acção. O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo se afirma a unidade da Santíssima Trindade. Por isso se proclama na Igreja um só Deus, que está acima de tudo, actua em tudo e está em tudo. Está acima de tudo como Pai, princípio e origem; actua em tudo por meio do Verbo; e está em tudo no Espírito Santo.

O apóstolo São Paulo, escrevendo aos coríntios acerca dos dons espirituais, tudo refere a Deus Pai como princípio de todas as coisas, dizendo: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.

Os dons que o Espírito distribui a cada um vêm do Pai, por meio do Verbo. De facto, tudo o que é do Pai é do Filho; e, portanto, as graças concedidas pelo Filho, no Espírito Santo, são dons do Pai. De igual modo, quando o Espírito está em nós, também em nós está o Verbo, de quem recebemos o Espírito; e, com o Verbo, está também o Pai. Assim se realiza o que diz a Escritura: O Pai e Eu viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Porque onde está a luz, aí está também o esplendor da luz; e onde está o esplendor, aí está também a sua graça eficiente e esplendorosa.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. Quinta-feira, dia 3 de Junho, celebramos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Este tempo de pandemia já obrigou a duas suspensões das celebrações eucarísticas e esta realidade deve ser motivo de uma renovada formação de todos os baptizados para a importância da Eucaristia na sua vida e na vida da Igreja. Esta solenidade poderá ser uma ocasião oportuna para um momento de reflexão e formação. Além disso, este dia é habitualmente assinalado com a realização de procissões eucarísticas e outras manifestações de fé e devoção. Na impossibilidade da realização das procissões e manifestações públicas de fé, poderia ser oportuno uma jornada de adoração eucarística, convidando os fiéis a dedicarem um tempo de oração pessoal diante do Santíssimo Sacramento.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura é constituída pelo discurso de Moisés ao povo e, por isso, deve ser proclamada com tom solene. A maior dificuldade na proclamação desta leitura são as quatro interrogações presentes no texto, sobretudo a quarta interrogação, que é uma longa frase e com diversas orações. Na leitura das frases interrogativas deve dar-se a entoação interrogativa nas partículas interrogativas ou nas formas verbais, evitando deixar a entoação para o final da frase. Na segunda leitura ter atenção a palavra «Abá» que deve ler-se «Ábá».

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: Pai, Filho, Espírito Santo – A. Cartageno (CN 793); Salmo Responsorial: Feliz o povo que o Senhor escolheu (Sl 32) – M. Luís (SRML, p. 260-261); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo – A. Cartageno (https://ocantonaliturgia.pt/obras/1396/Aleluia—I-A-Cartageno); Ofertório: Santíssima Trindade, oceano de paz – F. Santos (BML 152); Comunhão: Porque somos filhos de Deus – A. Cartageno (ENPL, XXXIV | NRMS, 131); Pós-Comunhão: Ao Senhor do Universo – F. Silva (CN, 211); Final: Com a bênção do Pai – J. Santos (IC p. 352 | NRMS, 38).