Conferência no CCC: Viventes na Casa Comum

Foto: Rui Saraiva

Na noite de 11 de maio realizou-se por meios telemáticos a conferência «Viventes na casa comum», no âmbito do ciclo «Todos família, todos irmãos», organizado pelo Centro de Cultura Católica e pelo Diaconado Permanente da Diocese do Porto, em sintonia com o Plano Diocesano de Pastoral para 2020/2021 e com o Ano “Laudato si’” que encerra a 24 de maio. Foi proferida por Jorge Teixeira da Cunha, professor de Teologia moral da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. A sessão foi muito participada, contando-se perto de 110 dispositivos informáticos ligados durante a conferência, a que correspondiam uma ou mais pessoas.

Depois da abertura por Adélio Abreu, diretor do Centro, que enquadrou brevemente a sessão, Jorge Cunha começou por situar a sua reflexão na fundamentação do empenho cristão na defesa da casa comum, ligando o seu aspeto cósmico aos aspetos antropológico e ético da fraternidade. Considerando a temática no contexto da Doutrina Social da Igreja, mencionou que a novidade da “Laudato si’” reside no facto de ter colocado o cuidado da casa comum no centro da teologia, da ética e da pastoral.

Reconheceu, todavia, a dificuldade de a teologia entrar no debate, porque para a ciência o discurso da fé torna-se irrelevante e sem direito de cidadania. É necessário, pois, religar os saberes. O saber científico considera-se um saber sobre um objeto “fora de nós”, colocando de fora o sujeito ou entendendo-o como objeto. Há, portanto, que valorizar o sentir como origem do conhecimento, na medida em que pensar é também sentir que o saber sobre o mundo não pode ser separado do afeto e do cuidado. Para conhecer o cosmos, o saber do afeto começa na ressurreição de Cristo. A evolução do cosmos deu-se para que se dessem os acontecimentos da Páscoa de Cristo. Deus criou o mundo a partir do fim, da plenitude, e não do nada.

Depois de apontar e questionar alguns contextos que se costuma defender a casa comum, designadamente os determinismos anti-humanista e humanista, Jorge Cunha sublinhou a nossa pertença a Cristo, o último homem, aquele que é a origem de todo o cosmos. Nele temos o direito e o dever de sermos cuidadores.

Procurou então formular um novo contexto para a defesa da terra e a promoção ecológica, assente não na forma moderna do progresso, mas em novos princípios, designadamente a invisibilidade como segredo da vida real, a aceitação e não o domínio como forma de vida, a precedência dos corpos humanos sobre os animais, os vegetais e os minerais, assim como o “crístico” como cimo e base de tudo.

No entender do conferencista, nós não temos o mandato de proteger as coisas, mas o de viver em sintonia com o nosso lugar de coroamento do cosmos. Na decorrência, fez algumas considerações sobre a relação entre cuidado e trabalho, evidenciando que o modo humano de ser não é apenas trabalho, mas também cuidado. Todo o trabalho é cuidado e todo o cuidado é trabalho.

A concluir a sua reflexão, Jorge Cunha procurou evidenciar alguns princípios para uma ética ecológica, entre os quais a consideração das quatro virtudes gregas e das três virtudes cristãs, a passagem do “ethos” da luta pela sobrevivência ao da paz na existência, a consideração da vida contemplativa e da vida ativa, a ligação dos contrários (visível e invisível, vida e morte, tempo e espaço, corpo e espírito), a preferência pelo pobre, a sustentabilidade da habitação da terra, a formulação de novos “pecados contra a sustentabilidade”. Concluída a intervenção, a sessão prosseguiu com um tempo de diálogo, a partir das perguntas e observações dos participantes.

A próxima conferência do ciclo realiza-se a 8 de junho, às 21 horas com o padre Jorge Nunes, diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil que abordará o tema «Os jovens, sujeitos da ação pastoral da Igreja».

(inf: CCC)