
A Câmara Municipal da Maia, em colaboração com a Vigararia da Maia, promoveu no domingo 9 de maio uma recordação do Bispo D. José Alves Correia da Silva (1872-1957), natural da freguesia de São Pedro Fins, daquele concelho, e que foi Bispo de Leiria de 5 de agosto de 1920 até ao seu falecimento em 1957.
Por M. Correia Fernandes
A evocação teve lugar na Igreja S. Pedro Fins, na tarde do domingo, e contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal da Maia, António Domingos da Silva Tiago, do Presidente da Junta de S. Pedro Fins, Alvarinho Sampaio, e do Vigário da Vara, Padre Augusto Silva, além do pároco, P. Domingos Areais e outros sacerdotes da Vigararia.
Além da saudação e contextualização do evento, pelo Presidente da Câmara, registaram-se intervenções evocativas do Bispo, por José Augusto Maia Marques e Rui Menezes, Historiadores da Câmara Municipal da Maia, e do Cónego Adélio Fernando Abreu, Professor de História da Igreja na UCP e Diretor da revista Igreja Portucalense.
José Maia Marques lembrou a biografia de D. João Alves, filho e neto de lavradores maiatos, que fez os estudos no Seminário do Porto, então no lugar dos Carvalhos, tendo concluído a sua formação na Universidade de Coimbra, em 1897 quando fora já ordenado presbítero pelo Bispo do Porto, cardeal D. Américo, tendo sido depois professor do Seminário do Porto e nomeado Bispo de Leiria por Bento XV em 1920 (dois anos após o falecimento de D. António Barroso e três anos após as aparições de Fátima, tendo já falecido os videntes Francisco e Jacinta Marto).
Afirma José Maia Marques: “Recorde-se que a Diocese de Leiria, extinta em 1882, tinha sido restaurada em janeiro de 1918. Logo que entra na Diocese, D. José Alves Correia da Silva começa a desenvolver uma atividade notável de organização do Bispado, estruturando o santuário de Fátima, iniciando a construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário, autorizando oficialmente o culto a Nossa Senhora, por provisão de 13 de outubro de 1930. Foi, portanto, não só o grande responsável da credibilização das aparições como o principal obreiro a criar as condições para que tal acontecesse.”
Lembra também que foi ele quem encomendou ao santeiro José Ferreira Thedim, da São Mamede de Coronado, a imagem que se tornou oficial do santuário (e que originou diversas versões posteriores), tem percorrido o mundo como apelo da devoção e proteção de Maria.
Mais recordam os historiadores que “O Concelho da Maia consagrou-o na sua toponímia, tal como Leiria e Fátima, aliás. E o «seu» santuário (de Fátima) mandou erguer-lhe uma escultura, obra de Joaquim Correia”, acentuando “o papel decisivo que teve nas aparições de Fátima e o legado para as gerações que se seguiram”.
(Importaria lembrar também a escultura da Senhora de Fátima, da autria de Teixeira Lopes, que se encontra na Reitoria do Santuário, e que constitui uma expressão mais humanizada e próxima do rosto da Senhora em atitude quase orante, que não foi oficialmente aceita, mas que pode lembrar o rosto e o olhar materno de Maria).
Adélio Abreu orientou uma reflexão histórica, partir da sua tese “D. Américo Ferreira dos Santos Silva, Bispo do Porto (1871-1899), Igreja e Sociedade no Porto no fim do século XIX”, e também do seu estudo “A diocese do Porto no início do novo milénio”, publicado em 2020 na revista diocesana Igreja Portucalense, para a caracterização do contexto social e político que envolveu os acontecimentos e a ação de D. José Alves, lembrando as incidências do período republicano e as dificuldades criadas à ação da Igreja e dos Católicos durante a primeira República e Portugal.
No final do encontro foi referenciada a proposta da edificação de duas memórias esculturais, consideradas uma “dívida de gratidão das Terras da Maia”: uma a D. Paio Mendes da Maia, que foi colaborador de D. Afonso Henriques, nas suas tarefas de solidificação do reino de Portugal, que o nomeou chanceler, e que foi Bispo de Braga entre 1128 e 1138. A outra estátua, a edificar na sua terra natal, lembraria o Bispo D. José Alves Correia da Silva, referenciando-se também a aquisição de uma casa que possa vir a tornar-se um memorial histórico e documental sobre a ação pastoral e histórica do Prelado.
A comemoração encerrou-se com uma Missa de sufrágio (ou de reconhecimento também), presidida pelo Bispo do Porto, D. Manuel Linda, que enalteceu igualmente a figura e ação do Bispo de Leiria, determinante na edificação do universo de Fátima e na vida da Igreja em Portugal.