
Um novo estudo de Teologia de raiz bíblica.
Realizou-se na noite de 1 de maio, no Fórum da Maia, a apresentação da edição da tese de doutoramento do Padre Joaquim Domingos da Cunha Areais (na capa apenas Domingos Areais), apresentada na Universidade Católica Portuguesa em 22 de setembro de 2020, agora publicada em Edições Paulinas, em abril de 2021. O título da obra define bem o seu conteúdo: A Páscoa de Jesus: partogénese da nova Humanidade – Estudo exegético e Teológico de Jo 16, 16-33. Há duas dimensões essenciais: o estudo exegético do texto e a sua interpretação como símbolo da Humanidade redimida por Cristo.
A apresentação teve a participação do Vereador da do Pelouro da Economia, Relações Internacionais e Assuntos Jurídicos, Paulo Fernando de Sousa Ramalho, com moderação de Raquel Freitas, e a presentação temática de José Carlos Carvalho, da Universidade Católica, que foi orientador da Tese. O Presidente da Câmara enviou mensagem de felicitações ao autor do trabalho e da edição.
Participaram mais de centena e maia de pessoas, entre membros daas comunidades do P. Domingos Areais (Folgosa e S. Pedro Fins) e outros convidados, entre os quais vários dos seus colegas de curso e da vigararia.
Trata-se de um volume de 613 páginas, com apresentação do Bispo do Porto, D. Manuel Linda, que evidencia “a fonte e o motivo de uma verdadeira teologia da alegria e da esperança”, acentuando o cuidado do autor em “situar esta motivação no contexto existencial da perseguição aos seguidores do Ressuscitado que já se notava um pouco por toda a parte”.
Aa está dividida em cinco capítulos: 1) ambiente histórico e aspetos críticos de relevo no QE [Quarto Evangelho], incluindo o ambiente vital da sua composição, as influência da tradição cristã e dos ambientes da comunidade joanina, a data possível da sua composição, além dos aspetos críticos e literários que enformam o texto; 2) Análise diacrónica do Jo 16, 16-33, incluindo aqui uma exegese histórico-crítica da revelação de Jesus e da reação dos discípulos à misteriosa mensagem; 3) Análise sincrónica de Jo 16,16-33, com a delimitação do texto, e a sua análise literária e narrativa: estrutura sintática e retórica, ligação entre a sequência narrativa, bem como a “análise semiótica” desta perícopa textual, na sua contextualização situacional; 4) A Páscoa de Jesus, Partogénese do Homem Novo: a dialética tristeza/alegria nos discursos de despedida de Jesus em relação aos discípulos. Ressalta o significado escatológico da Páscoa e a missão do Espírito do Ressuscitado na Igreja e no mundo e o nascimento espiritual do cristão sob o signo do Espírito; 5) A configuração pascal da nova Humanidade gerada no parto da cruz: aqui se acentua a “expressividade metafórica da parábola da parturiente” e o sentido do cristão como homem novo nascido da plenitude da alegria pascal.
Lembra-se o teor do texto que serve de base a esta tese, que é a dor do parto da mulher em confronto com a alegria do nascimento e da nova vida. É o capítulo quarto que desenvolve especialmente o sentido de “passagem” do elemento simbólico para a realidade existencial, conduzindo ao conceito novo da “partogénese”, ligando o sentido da dor da paixão à esperança da revelação escatológica da ressurreição. Trata-se, pois de um conceito novo, elaborado a partir do texto evangélico e formulado como uma parábola da redenção da Humanidade, no seu sentido escatológico: a criação de um Mundo Novo, de uma Nova Humanidade.
Na apresentação, José Carlos Carvalho acentuou o trabalho de investigação do autor, ao utilizar os conceitos das teoria modernas da semiótica, das figuras literárias, da valorização dos sentidos simbólicos, das práticas de valorização textual, como o paralelismo, a figuração simbólica, a alegoria, e todo o tipo de valorização do texto literário e comunicativo.
Há que referenciar também neste trabalho o valor da utilização linguística, já que o autor utiliza no original as línguas clássicas e orientais: o latim, o grego, o hebraico e o siríaco, apresentados na sua notação original. Utiliza igualmente as línguas modernas da expressão literária, além da língua materna, neste caso o português. A bibliografia utilizada percorre as línguas românicas (espanhol, francês, italiano), mas também o alemão e o inglês e mesmo o japonês, com que o autor contactou numa fase do seu aperfeiçoamento formativo.
Estes dados revelam um universo civilizacional e cultural muito alargado, que não é fácil encontrar mesmo em estudo literários e teológicos muito evoluídos.
Este é um motivo para felicitarmos o autor e desejarmos que a sua obra possa servir para a construção de uma dinâmica teológica e civilizacional de raízes fundas e produtivas.
Um pormenor curioso, motivo do realce proposto pelo autor na sua apresentação: o significado da imagem da capa do livro, uma pintura do séc. XIV, da Escola de Giotto, em que a mãe amamenta o menino envolto em faixas e saindo do túmulo: parábola da humanidade renascida.
Lembramos, na apresentação, o sentido simbólico da presença dos grupos da comunidade de autor, conduzindo ao canto pela assembleia dos presentes, num espaço de laicidade, do motete mariano do “Regina Coeli, laetare”, louvor litúrgico de Maria, autora da “partogénese” de nova humanidade.
CF