José Veiga é o Diretor Adjunto do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária e revela em entrevista a sua missão. Um grande desafio em tempo de pandemia.
Entrevista conduzida por Rui Saraiva
José Miguel de la Calle da Costa Veiga é o seu nome completo. Tem 25 anos e é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto e Mestre em Direito com Especialização em Direito do Trabalho pela Universidade Católica Portuguesa. Atualmente divide a sua vida entre a atividade de advogado estagiário a frequentar o curso de Estágio Profissional da Ordem dos Advogados e o serviço como Diretor Adjunto do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária. Falou com “Voz Portucalense” em discurso direto.
1) Como tem sido a sua missão como Diretor Adjunto da Pastoral Universitária?
Se não começassem por essa pergunta, ficava surpreendido (risos). Fazem-na muitas vezes. Na verdade, assumir este desafio foi algo natural, pois faço parte do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária do Porto (SDPU) desde 2017. Como já conhecia os cantos da “casa” não senti grandes dificuldades de integração e dar-me a conhecer à equipa e à comunidade académica.
O foco da minha missão foi logo direcionado para os principais desafios do SDPU, o que os explico a 3 níveis: a nível interno, na construção da equipa da SDPU, orientada para construirmos e desenvolvermos novas atividades com mais valor e impacto para a comunidade académica, assente nos valores católicos; a nível externo, a divulgação da SDPU, procurando destacar e dar a conhecer a sua presença na comunidade académica, como uma casa e família de todos e para todos e, por último, a nível institucional, aproximando a SDPU das diferentes, instituições, associações, centros, grupos e movimentos universitários do Porto.
Tem sido algo extremamente desafiante, dado ser um trabalho orientado para as relações com as pessoas, em linha com a postura e intenção da SDPU, isto é, de estar próxima delas. Felizmente, todos os dias avançamos mais um pouco.
2) O Centro In Manus Tuas (CIMT), como centro universitário, tem sido muito importante no desenvolvimento do vosso trabalho?
Para responder a esta pergunta, é necessário, em primeiro lugar, explicar a sorte que a SDPU tem por ter um espaço físico para o seu centro universitário: o CIMT. É o resultado do trabalho do nosso estimado D. António Francisco, antigo Bispo do Porto, em articulação com a Congregação das Irmãs de S. José de Cluny. O CIMT tem a mesma morada que a residência de S. José de Cluny, pois a congregação partilha alguns espaços da sua casa connosco. Sem dúvida que é algo que temos de agradecer e valorizar.
Reportando ao período pré-pandemia, ter um Centro Universitário, como espaço físico, onde podemos realizar as nossas atividades facilita bastante o nosso trabalho, não só pela possibilidade em acolher os universitários numa casa que também queremos que sintam ser deles, mas também por permitir criar um espaço de convívio e partilha nas diferentes atividades que vamos realizando.
Por exemplo, se não tivéssemos um espaço, nunca teríamos possibilidade de realizar um evento como o “3s meias e dás à sola”, que pretende que sejam três meias horas, respetivamente de Missa-Jantar-Conversa ou a possibilidade de conseguir realizar um “Let´s Pray” no espaço intimista da capela da Residência S. José de Cluny.
Infelizmente, a pandemia impossibilitou a manutenção das atividades no espaço físico do CIMT, tivemos de procurar alternativas de espaços. Começámos a realizar as nossas missas semanais, quando possível, na Sé do Porto. No entanto, revelou-se um desafio extremamente interessante, pois provou que o CIMT e SDPU é algo mais de que um espaço físico ou de encontros online, sinto que permitiu cumprir com aquilo que o Papa Francisco nos pede: uma igreja em saída. Por isso, foi extraordinário sentir e perceber que o CIMT são as pessoas que querem fazer parte dele.
3) A pandemia de covid-19 veio modificar a nossa vida. Na pastoral universitária do Porto como se adaptaram?
Ao início, ficamos um pouco perdidos, pois as nossas atividades estavam todas programadas para se realizarem presencialmente. Por motivos de saúde pública, o espaço no qual o CIMT realizava as suas atividades, como é igualmente uma residência universitária e casa para as Irmãs de S. José de Cluny, ficou fora de questão. Como aconteceu com outros grupos, movimentos e organizações deu-se uma transição 100% para o digital.
Numa primeira fase, a reação foi dar uma resposta ao efeito do confinamento. Procuramos marcar uma forte presença no mundo digital, com partilhas de orações, terços online, sugestões culturais de livros, filmes e concertos para os universitários e as suas famílias. Infelizmente, as atividades presenciais agendadas e planeadas para os meses de março, abril, maio e junho de 2020 foram canceladas.
Com o fim do ano académico de 2019/2020, iniciou-se o planeamento das atividades para o novo ano, de forma a evitar e colmatar o impacto da pandemia. As nossas missas semanais à quarta-feira variaram entre o digital e, sempre que possível e autorizado, o presencial. Presencialmente, começaram a realizar-se na Sé do Porto. Ao celebrar-se a Eucaristia semanal na Sé, pretendeu-se que a celebração fosse sempre num espaço diferente, como uma forma de dar a conhecer a história da Sé aos estudantes do Porto. As restantes atividades, como orações, atividades culturais e encontros de crisma, transitaram para o digital, aguardando pela oportunidade de retomar ao presencial.
Está a ser algo extremamente exigente, pois os estudantes, e com razão, estão cansados e saturados do digital, por isso a intenção é reduzir o número de atividades e criar momentos mais seletivos de atividades digitais, sempre sem perder esta presença que a SDPU quer ter na comunidade académica, mas também evitar que o seu programa e atividades se torne algo repetitivo.
4) “Conversas Improváveis” tem sido uma atividade marcante neste ano da pastoral universitária. Como tem estado a decorrer?
Se tivéssemos um Óscar para entregar à atividade do ano, as “Conversas Improváveis” levavam o galardão. Até ao momento tivemos três Conversas Improváveis, sobre os temas: “O papel das mulheres na Igreja”; “Os jovens e a política” e “As dúvidas dos jovens sobre a ressurreição”. É uma atividade de estreia no nosso programa e está a ser improvavelmente positivo, pois nunca se sabe como será a conversa, que perguntas vão surgir e temas em específico se vão abordar.
Esta atividade surgiu de uma reflexão, na qual se destacou que a Igreja tinha de ser um espaço agregador e de união de pessoas para troca e debate de ideias diferentes, partilha de conhecimento e experiências para todos juntos crescermos como comunidade universitária. Pessoalmente, sinto que foi uma manifestação à reação do fenómeno da polarização que vivemos na sociedade a todos os níveis. Com esta atividade queremos passar a mensagem de que o que julgamos ser o que nos separa, na verdade, é aquilo que nos une.
José Veiga com o padre José Pedro Azevedo, Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária.