
Como definiríamos o tempo?
Creio que, para muitos, o tempo mais não é que aquele cancro que mina o ser, decompõe a história pessoal e a reduz a mera recordação. Nesta perspetiva, o tempo torna-se a medida do sofrimento desagregador, a duração, mais ou menos suportada, do desmembramento do ser e da negação da sua plenitude.
Entretanto, instintivamente, queremos viver. E sabemos bem que, como pessoas, só podemos existir no tempo. Sinal de que o tempo não é a negatividade da ruína que conduz ao nada, mas algo de grandioso que projeta para uma grandeza amável e feliz. É a grande questão que Heidegger coloca na sua obra “Ser e tempo”: o curso da durabilidade será experiência opressiva ou caução de plenitude?
O segredo desta plenitude está em encontrar um modelo capaz de integrar o passado, presente e futuro. Em não sacrificar o futuro por causa do presente nem cortar as raízes do passado, por mais que pareçam contradizer o atual. E, fundamentalmente, consiste em conjugar, sem confundir, história e eternidade. Ou melhor: fazer com que o discorrer quotidiano, com os seus limites e sonhos, possa desembocar na infinidade, para já, inobservável, e da qual não temos a mesma experiência da realidade observável e observada.
Mas a isto só chegamos se ancorados em Deus. Só Ele, o Eterno incriado e ser do tempo em Jesus Cristo, tem o poder de dirigir a história, interligando naturalmente os seus momentos, sem extinguir a liberdade nem aniquilar o mistério do porvir. Só Ele, o Deus da promessa, é capaz de manter a fidelidade no tempo que projeta para uma eternidade não contaminada. Só Ele é a envolvência que está no nosso princípio e destino. Só Ele é alfa e ómega.
Faz-nos falta uma visão mais profunda do que a habitual para nos integrarmos no tempo e integrar o tempo em nós. Mas também nos faz falta rememorar experiências enternecedoras: se recordamos o passado como braços acolhedores que nos abrigaram e sustentaram, estamos mais capacitados para enfrentar o futuro com confiança e sonho de felicidade.
Quando falamos em braços acolhedores, pensamos em mãe. A mãe a quem dedicamos o primeiro Domingo de maio. E não esqueçamos que Deus é tanto Mãe como Pai.
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