
Estamos a viver um tempo em que se aproxima um pós-pandemia e a tentar fazer projetos para que tudo o perdido durante ela, se traduza num “desconfinamento” em que voltemos à “normalidade”.
Por Joaquim Armindo
A figura do “buraco negro” é que vem à minha reflexão para esse período, de ultrapassar uma pandemia, não ultrapassando todas as pandemias. Um “buraco negro” existe no nosso cosmos, como alguma coisa de que desconhecemos quase tudo; ele funcionando “come” – este termo é exato -, tudo que gravita à sua volta, com uma energia extraordinária. Assim, como as estrelas, brilhantes, que olhamos todos os dias no céu, já não existem, o que saboreamos é a sua luminosidade, que, entretanto, chega até nós, depois delas já terem desaparecido, também os “buracos negros” existentes se bifurcam em incontidas energias, que buscam avidamente alimentar-se com o que lhe está á volta, só para termos uma ideia, um “buraco negro” poderá alimentar-se da galáxia a que pertencemos. São fenómenos desta linda Criação que Deus deu à Humanidade, e ela não consegue cultivar, porque prefere dominar, o que constitui uma impossibilidade.
Um “buraco negro” também pode ser a pandemia, que ainda não sabemos muito bem de onde veio, mas que tem energia suficiente para eliminar milhões de seres humanos, como temos visto. Mas o “buraco negro” que constitui a pandemia, ainda que vencido, pelo menos a de agora, não vença aquilo que a criou e as soluções para a debelar os seus efeitos. Temos ouvido falar, constantemente, numa “bazuca” financeira que irá resolver os problemas económicos e muitos dos sociais criados e, também, é verdade, vencer a crise ambiental que nos está a devorar todos os dias. Será muito bom que o dinheiro seja capaz de inverter toda a situação económica, ambiental e social que tínhamos e que se agravou, só que o “buraco negro” possui energias de outras dimensões e essas, quase, que não vemos, ouvimos e lemos.
As pandemias vencem-se quando conseguirmos respirar um outro ar, que não é aquele que queremos repor. O “buraco negro” que continuamos a desprezar é a cultura e o ser espiritual que cada um de nós possui. A cultura dos costumes, das tradições, do que nos liga à terra onde crescemos e vivemos, e nos dá a esperança de sermos felizes. E a, de uma infinita importância, espiritualidade – todos nós somos espirituais, e vivemos dessa nossa espiritualidade, mesmo não sendo “religiosa” -, que é necessária descobrir em cada um de nós, espiritualidade que como refere Hans Küng, recentemente falecido: “Porque acreditamos no presente, podemos – contra toda a esperança – esperar um futuro. E porque esperamos um futuro, podemos – contra todo o skandalon – acreditar no presente”. Teremos um “buraco negro” pós-pandemia?