
Sempre senti uma espécie de contradição a respeito do grande jesuíta, o P. Teilhard de Chardin: inegável dificuldade na compreensão profunda da sua “cristogénese” e grande atração por esta teologia. A maturidade, hoje, permite-me alcançar algo mais. E descobrir a justeza deste pensamento.
Em termos simples, este excelente cientista e teólogo afirma: se o mundo é criatura de Deus, tem impressa na sua constituição íntima, no seu «genoma», a lei do bem e do amor. Por isso, o amor trabalha o mundo, fermenta-o e, tal como as enzimas, transforma-o: com o tempo, derruba os muros da inimizade, sara as feridas das divisões, faz do coração humano um motor de fraternidade, fomenta a unidade e instaura a união. Uma união cósmica.
S. João garante que “No princípio era o Verbo […] e o Verbo era Deus. Por Ele é que tudo começou a existir” (1, 1-3). Esta génese do mundo em Cristo encaminha-se para aquela etapa final –para o tal ponto Ómega- “quando Cristo for tudo em todos” (Col 3, 11). Pelo meio, fica o preceito do “aperfeiçoai a terra” (Gn 1, 28). Não tanto um aperfeiçoamento técnico e científico, embora o não exclua. Mas de ordem existencial: na relação íntima e harmoniosa homem-natureza, com quem se partilham os mesmos elementos químicos, a pessoa reconduza a Deus, por Cristo, um mundo que “geme com as dores de parto”, pois também ele espera “a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8, 21-22).
Este tempo pascal ajuda-nos a compreender o sentido da evolução –biológica e histórica-, em ordem à autêntica globalização universal, das pessoas e dos seres, a que Teilhard chamava “planetarização”. Como o caminho é sempre do menos para o mais, a dor e a cruz, porque expressões máximas do amor-doação, só podem desembocar naquela plenitude que se manifesta em aleluia pascal, ressurreição, vida nova, felicidade.
Assim, na cronologia da evolução do mundo, está inscrita, num forte paralelismo, a própria história humana de Cristo. O mundo e todas as suas criaturas, «capitaneados» pelo ser humano a quem o Criador constituiu seu representante na terra, porque sua “imagem e semelhança”, transformam-se no sofrimento e na dor, até atingir a glória da plenitude, da cristificação.
Haverá motivo de maior esperança? E também maior responsabilidade? Por isso a Igreja ousa cantar: “Ó morte, onde está a tua vitória? Cristo ressurgiu e reconstruiu a fraternidade cósmica”.
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