Igreja Pascal

Foto: João Lopes Cardoso

Tempo da Páscoa: na Sagrada Liturgia revive-se a experiência transformante do encontro com o Crucificado Ressuscitado. Ele torna-se presente na reunião dos seus discípulos e manifesta-os como a sua Igreja, comunhão de fé e de amor, enviada ao mundo para lhe levar a alegria, o perdão dos pecados e a paz, com a força do Espírito.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Tomemos consciência, em primeiro lugar, deste facto tão importante e decisivo: é no meio da Igreja reunida a presença é essencial, que o diga Tomé!, particularmente no primeiro dia da semana, ou Domingo, que Jesus ressuscitado prefere estar presente e fazer-se encontrar. Jesus ressuscitou ao terceiro dia: sabemo-lo e reafirmámo-lo de cada vez que recitamos o Credo. Se, porventura, não tivesse discípulos e não houvesse Igreja, nem por isso Ele deixaria de ter ressuscitado e de ter realizado com poder a redenção da humanidade cativa do pecado e da morte. Mas ninguém teria conhecimento desse facto e todos continuariam mergulhados no abismo da morte e da tristeza, à mercê de medos e tiranos. A única experiência que se teria feito da ressurreição seria a do enigma insolúvel de um túmulo vazio, experiência que os discípulos também fizeram na manhã de Páscoa, mas que não bastou para os impedir de continuar mergulhados no luto, fechados em casa como num sepulcro, apavorados e deprimidos, até que, na tarde desse dia, o Senhor Jesus apareceu no meio deles. A existência da Igreja, 2000 anos após esse primeiro domingo, é o sinal mais manifesto e irrefutável de que Jesus ressuscitou e está vivo. E, ao mesmo tempo, é Jesus Cristo ressuscitado quem, incessantemente presente, faz existir a Igreja como comunhão de fé, esperança e caridade, vivificada pelo Espírito Santo que sobre ela infunde.

Como é a Igreja da Páscoa, a Igreja que somos e devemos ser cada vez mais fielmente? A Liturgia da  Palavra destes Domingos como que nos descreve o seu código genético, o ADN da Igreja.

– A Igreja é, em primeiro lugar, totalmente subordinada e relativa a Jesus Cristo: a missão dela deriva e depende, como o rio da nascente, da missão d’Ele: «como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós». Isto é: a missão que vos confio e vos espera e de que não vos é lícito desertar é a mesma e única missão que o Pai me confiou e que eu realizei. Tudo o que a Igreja é e realiza no mundo, em prol da comunidade humana, ou tem esta origem e esta verdade ou não tem qualquer interesse.

– A Igreja é, simultaneamente, criatura do Espírito Santo que recebeu de Jesus ressuscitado, Espírito que a vivifica e a transforma, Espírito que lhe dá capacidade e energia para realizar, de forma sempre nova, a missão que o Senhor lhe confiou. Na tarde do primeiro Domingo, Jesus soprou sobre os apóstolos – como no princípio o Criador sobre o homem moldado da terra – para lhes transmitir o Espírito da Vida, como fonte de graça e de perdão.

– Vimos ainda como a Igreja dos apóstolos se mantinha unida e era assídua ao ensinamento dos apóstolos. A Igreja, com efeito, deixará de ser a Igreja de Jesus no dia em que deixar de alimentar a sua fé no ensinamento dos apóstolos que, hoje, continua vivo e atualizado no Magistério dos seus sucessores, os Bispos em comunhão com o sucessor de Pedro.

– A vida de culto em espírito e verdade, centrada na Eucaristia, é outra das notas qualificativas que faz da Igreja a comunidade santa do Ressuscitado. Ao princípio, os cristãos continuavam a frequentar o templo de Jerusalém, como piedosos judeus que eram. Mas, ao mesmo tempo, começaram a celebrar um culto novo e singular, que os distinguia dos demais judeus: a fração do pão, nome que o Evangelista Lucas dá à nossa Eucaristia e que se realizava nas casas particulares, onde a Igreja/Assembleia do Kyrios acontecia, e que decorria num ambiente de alegria e simplicidade. E, ligada à Eucaristia, circulava toda a vida de oração cultivada pessoalmente, em família e em comunidade.

– A estas notas características, São Lucas acrescenta e salienta, nos famosos «sumários» de Atos dos Apóstolos, uma outra que lhe era particularmente cara: a comunhão fraterna, traduzida em gestos concretos e espontâneos de partilha. Partilha essa que hoje tem continuar a ser um sinal da autenticidade da nossa fé e do nosso culto: partilha de bens, de tempo, dádiva generosa da própria vida ao serviço dos irmãos.

É assim a Igreja que somos, a Igreja que queremos ser cada vez melhor por nosso Senhor  Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo.