Bispo do Porto: levar a Eucaristia para a sociedade

D. Manuel Linda celebrou a Missa da Ceia do Senhor sem o rito do lava-pés, mas sublinhou a importância de consumar essa atitude de serviço “na rua e na sociedade”.

Por Rui Saraiva

Em Quinta-Feira Santa, o bispo do Porto alertou para o risco de considerarmos a Eucaristia como “um mero gozo íntimo, um simples deleite espiritual, um quietismo passivo e descomprometido”.

Na Missa celebrada na Catedral do Porto, sem o rito do Lava-Pés por razões sanitárias devido à pandemia”, D. Manuel Linda declarou a importância da atitude de serviço para com os outros, pois “a Eucaristia começa no altar, mas consuma-se na rua e na sociedade, aí onde for necessário realizar um qualquer lava-pés” – afirmou.

Na sua homilia da Missa da Ceia do Senhor, o bispo do Porto começou por recordar a “primeira ceia pascal judaica” que se celebrou “para anunciar a intervenção libertadora de Deus: o Senhor iria retirar o seu povo do Egipto nessa mesma noite”. Um dia que será “uma data memorável” para ser celebrada “de geração em geração”.

“É o que acontece na primeira Eucaristia celebrada por Jesus em dia como o de hoje, na Quinta-feira Santa, quando ordenou os futuros celebrantes. Também aqui se recorda toda a história salvífica, desde as origens, traduzida em termos de aliança de Deus com a humanidade” – disse D. Manuel Linda.

O bispo do Porto sublinhou que na “sua vida pública, Jesus anunciou o reino de Deus como espaço de fraternidade, alegria e de novos valores. Exemplificou-o nas parábolas como um grande banquete ao qual todos são chamados. Ele mesmo participou em refeições em casa de amigos e de convertidos para simbolizar a novidade, a universalidade e a gratuidade desse reino. Mas esta, a dita «última ceia», é a mais solene. Remete para um futuro de plenitude, quando o Reino se consumar na sua total grandeza” – afirmou.

“Ao convidar os seus discípulos a unirem-se a Si – ‘Tomai e comei: isto é o meu Corpo. Tomai e bebei: este é o Cálice da nova e eterna aliança’ – Jesus implica os discípulos no seu próprio destino: assimila-os a Si e transforma-os em Si. E isso compromete-os” – referiu o bispo do Porto declarando que “o gesto do lava-pés é a imagem mais expressiva do que foi a sua vida. Tinha pregado aos discípulos: O que quiser ser grande entre vós, faça-se servidor de todos” (Mt 20, 26).

É com “uma doação apaixonada, concreta, humilde, serviçal, carregada de atenção aos pormenores, discreta, universal” que seremos capazes de estar em “união ao Senhor pelo Batismo” – acrescentou o bispo do Porto pedindo aos sacerdotes para que a sua vida se caracterize pela “afabilidade, disponibilidade, generosidade, despendimento, zelo missionário, preocupação pelo bem de todos e cada um, misericórdia e sintonia de corações”. Por sua vez aos leigos recomendou “espírito de sacrifício, resistência anímica quando se encontra oposição, ternura familiar, diálogo que desarma os possíveis conflitos, testemunho de fé por obras e palavras, vivência da paz, altruísmo, dedicação aos pobres, desprendimento, espírito de sacrifício, esperança.”

D. Manuel Linda assinalou ainda a importância de que os cristãos demonstrem “empenho concreto nas diversas estruturas que edificam a Igreja e a sociedade”, não só no “âmbito litúrgico, assistencial, catequético, mas também cultural, político, autárquico, gerador de uma nova economia solidária, de um jornalismo ético e estimulante, enfim, de uma intervenção naqueles setores que mais reclamam a presença dos valores e da fé”.

Foto: João Lopes Cardoso