
No seu comunicado de 13 de março de 2021, o Conselho Permanente da CEP decidiu que as celebrações da Eucaristia e dos outros sacramentos, com a participação presencial dos fiéis, fossem retomadas; igualmente deu indicações para que as solenidades pascais (Domingo de Ramos e Tríduo) pudessem ser celebradas em comunidade. Nesta fase continuam em vigor as normas acordadas com a Direção Geral de Saúde e que constam nas orientações publicadas em 8 de maio, p.p. acrescidas de outras cautelas e adaptações «ad hoc», que a prudência aconselha, no contexto atual.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Na mesma linha, o Bispo do Porto, em «Orientações» publicadas em 17 de março de 2021, depois de reafirmar as preocupações éticas que são o seu timbre, recomenda no nº 2: «Nesta fase, insista-se que quem puder deve participar nas celebrações presenciais (e não meramente virtuais)».
Porquê esta preocupação pelo «presencial»? Agora que já fomos adquirindo alguma competência no «digital» e «telemático», não seria mais prudente repetir a experiência de 2020 com os fiéis, impedidos de vir à Igreja, a seguir à distância celebrações das suas comunidades ou de outras quaisquer, transmitidas pelos meios de comunicação tradicionais ou pelos novos canais que a Internet tornou possíveis e cada vez mais acessíveis?
A resposta dada foi decididamente: NÃO. Porque isso seria desistir da via sacramental, do realismo antropológico, da objetividade da Incarnação e da Redenção, da matriz comunitária da fé e do culto cristão.
Ainda na «primeira onda» da pandemia que nos aflige, o Papa Francisco já advertia: «A familiaridade dos cristãos com o Senhor é sempre comunitária. Sim, é íntima, pessoal, mas em comunidade. Uma familiaridade sem comunidade, sem Pão, sem Igreja, sem povo, sem sacramentos, é perigosa. Pode tornar-se uma familiaridade – digamos – gnóstica, uma familiaridade só para mim, desligada do povo de Deus» (Homilia de 17 de abril na Capela de Santa Marta). E dizia das celebrações sem assembleia presencial, a que presidia na Capela de Santa Marta, transmitidas diariamente, em que as pessoas «só têm a Comunhão espiritual»: «isto não é a Igreja; é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor permite, mas o ideal de Igreja é estar sempre com o povo e com os sacramentos. Sempre!» Francisco lançava o alerta: «cuidado para não virulizar a Igreja, para não virulizar os sacramentos, para não virulizar o povo de Deus. A Igreja, os sacramentos, o povo de Deus são concretos».
Mais recentemente, numa catequese das Audiências Gerais das quartas-feiras sobre a oração litúrgica (3 fev. 2021), Francisco insistia na importância da dimensão objetiva, comunitária, corpórea, «real» da liturgia: «A oração dos cristãos passa por mediações concretas: a Sagrada Escritura, os Sacramentos, os ritos litúrgicos, a comunidade. Na vida cristã não se prescinde da esfera corpórea e material, porque em Jesus Cristo ela se tornou via de salvação. Poderemos dizer que se deve rezar também com o corpo: o corpo entra na oração»; «a liturgia, em si mesma… é ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, … é “evento”, é acontecimento, é presença, é encontro. É um encontro com Cristo. Cristo torna-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: deriva daqui para nós, cristãos, a necessidade de participar no divinos mistérios. Um cristianismo sem liturgia, atrever-me-ia a dizê-lo, é talvez um cristianismo sem Cristo. Sem o Cristo total». É quase chocante o realismo de algumas expressões desta catequese: «Aquilo que nos é exterior torna-se parte de nós: a liturgia exprime-o até com o gesto tão natural do comer. A Missa não pode ser só “ouvida”, … como se nós fôssemos apenas espectadores de algo que sucede sem nos implicar. A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a ela preside, mas por todos os cristãos que a vivem. E o centro é Cristo!».
Superada – ao menos até ver – a situação extrema de calamidade que se viveu, quando se começa a retomar a vida social, escolar, económica, como não retomar as celebrações comunitárias quando, comprovadamente, elas não foram focos relevantes de contágio? Como renunciar – seria o segundo ano consecutivo – à celebração efetiva dos mistérios principais e identitários da nossa fé?