
Com o objetivo de resolver problemas estruturais, a intervenção na Catedral do Porto será no exterior e interior da capela-mor. Início está marcado para o dia 5 de abril.
Por Rui Saraiva
Será na segunda-feira de Páscoa, 5 de abril, que vão ter inicio as obras numa parte essencial da Catedral do Porto: a capela-mor. Com o seu cadeiral dos cónegos, os órgãos barrocos e o retábulo em talha dourada de estilo barroco, a capela-mor será objeto de uma intervenção de enorme importância.
Resolver problemas estruturais
“A estrutura da capela-mor tinha problemas sobre os quais era preciso intervir rapidamente” – disse ao jornal Voz Portucalense o cónego Jorge Cunha, presidente do Cabido Portucalense. Uma obra que devido à pandemia foi adiada um ano. Mas, a urgência técnica da intervenção obriga a que seja agora iniciada:
“A capela-mor tem problemas estruturais que é necessário estancar e já que se vai intervir sobre a estrutura vai-se intervir também sobre o interior. Já que se vai fechar vamos aproveitar para intervir sobre o resto dos aspetos e esperamos que o monumento fique substancialmente melhorado para a fruição dos turistas e para a celebração da liturgia” – revela o cónego Jorge Cunha.
Toda a intervenção tem um orçamento estimado em cerca de um milhão de euros sendo que “todas as obras serão da responsabilidade financeira do Cabido” – revelou à reportagem de Voz Portucalense o cónego Álvaro Mancilha assinalando que as obras no exterior têm o objetivo da “consolidação” dos “tetos em pedra”:
“Estas obras têm um grande objetivo que é a consolidação, do ponto de vista dos tetos em pedra, dadas as cedências que têm acontecido. E será essa a grande obra de construção civil feita pelo exterior para consolidar a abóbada da capela-mor” – explicou.
Uma intervenção histórica
O cónego Álvaro Mancilha referiu ainda que as obras no interior “contemplarão os aspetos mais artísticos”, em particular, “o retábulo, as imagens, os quatro santos, a pintura em madeira”. “Um trabalho mais artístico e de embelezamento” – acrescentou.
“Nunca houve uma intervenção desta natureza. É uma intervenção histórica” – referiu o cónego Mancilha sublinhando a importância desta obra na Catedral do Porto:
“É uma grande intervenção do nosso Cabido Portucalense, o assumir desta responsabilidade para que, de facto, a Igreja-Mãe da nossa diocese do Porto apareça com maior esplendor e beleza, mas também devidamente segura para quantos aqui nos encontramos e aqui celebramos” – afirmou.
Destaque para o facto, desta ser mais uma intervenção de “um conjunto de obras já realizadas na Catedral” com o objetivo de que estes espaços sejam “também um instrumento de evangelização” – referiu o cónego Álvaro Mancilha:
“Teremos que olhar num conjunto de obras já realizadas na Catedral, que eu penso que é extraordinariamente apelativa para os milhares e milhares de turistas que por aqui passam diariamente. E, de facto, esta obra na continuidade das outras será mais um elemento a contribuir para cativar todos os que aqui vêm, na certeza de que também através destes espaços e na contemplação deles na sua beleza e arte, este é também um instrumento de evangelização que por si mesmo fala a cada um que cá vem das mais variadas proveniências do nosso mundo”.
Para um “período novo”
A Catedral do Porto é Património do Estado e por este motivo foi feito um protocolo entre a Direção Regional da Cultura do Norte e o Cabido Portucalense para a execução destas obras. De registar que todos os estudos, projetos e cadernos de encargos foram feitos a partir da Direção Regional da Cultura com a colaboração da Universidade do Minho.
“Dado que a Catedral é Património do Estado, foi feito um protocolo entre a Direção Regional da Cultura do Norte e o Cabido Portucalense como que transferindo a titularidade de dono da obra ao próprio Cabido. Isto significa o seu empenho e vontade de que este grande edifício, a nossa Igreja-Mãe, esteja no melhor estado de conservação possível” – salientou o cónego Álvaro Mancilha.
“Quem vem ao Porto vem ao Morro da Sé” – lembrou o cónego Jorge Cunha salientando que foram os “imensos turistas que visitam o Morro da Sé” que permitiram a criação de “um pequeno fundo que é empregue para o monumento”.
Olhando para o futuro pós-pandemia, o presidente do Cabido Portucalense sublinhou a vontade de que a Sé do Porto possa continuar a ser espaço de eventos culturais, sobretudo musicais.
O cónego Jorge Cunha deixou votos de que a este “período de carência” da vivência litúrgica em tempo de pandemia, possa surgir “um período novo” em que “as novas gerações” possam regressar às celebrações usufruindo de uma “experiência orante intensa”:
“Esperemos que este período de carência que temos vivido em relação à celebração litúrgica possa dar origem a um período novo em que as pessoas tenham gosto e de que a prática litúrgica se intensifique. Que as novas gerações possam reafetar-se à celebração e que, nós pastores, também sejamos capazes de criar condições para que as pessoas se possam sentir bem, possam ter uma experiência orante intensa que as traga à igreja” – afirmou o cónego Jorge Cunha.