Mensagem (115): Pesos

Quanto pesaria a cruz de Cristo? Jamais o saberemos. Certamente pesava muito, pois se destinava a aguentar corpos de condenados que se contorceriam e se agitariam fortemente. Se fosse de madeira seca, o peso seria grande; se fosse de um tronco verde, ainda pesava mais.

Jesus teve de a transportar desde o pretório de Pilatos até ao Calvário, subindo caminhos não tão calcetados como os de hoje. Não aguentou o seu peso e três vezes caiu por terra. Teve mesmo de ser substituído por alguém requisitado à força: Simão de Cirene.

Mas acresciam outros motivos que mais sobrecarregavam a cruz. Por exemplo, a cedência ao politicamente correto daquele que se interroga a respeito da verdade, que a conhece a ponto de proclamar que não encontrava “n’Ele culpa alguma” e, mesmo assim, lava as mãos, pois não se compromete com ela. Ou a volatilidade daquela turba massificada que antes aclamara Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém e, agora, sem olhar a argumentos ou razões, apenas sabe vociferar “à morte, crucifica-O”.

Porém, não transportemos para o passado uma ação que nos diz respeito. Na cruz do Senhor também íamos nós, cada um de nós, com o ónus das nossas más ações e o de uma consciência pesada. Se “Ele nos libertou dos nossos pecados pelo seu Sangue” (Ap 1, 5), como garante a fé e afirma o Apocalipse, ao madeiro da cruz estavam coladas as nossas injustiças, ódios, cobardias, más ações, vinganças e um materialismo de vida que não nos deixa abrir a existência a Deus, seu e nosso Pai.

Se assim é –e é, porque a salvação é universal- pensemos nesse peso imenso dos pecados desde o princípio do mundo até hoje e desde agora até à consumação dos séculos. Uma quantidade descomunal! Não obstante, Ele caiu, mas nunca se deixou ficar estatelado no chão, nunca desistiu de caminhar. Foi pregado na cruz. Mas nela é que foi exaltado. Não por ter sofrido. Mas por sofrer por amor, por bondade, por razões de perdão, pela beleza da verdade.

A cruz, foi mero instrumento de passagem, de páscoa entre a dor e a vida nova. Por isso a qualificamos como “santa cruz”. Cruz radiante, triunfal, porque, a nós que íamos nela, nos conduziu à vida plena, à vida gloriosa, à vida da luz ou à luz da verdadeira vida.

Tem razão a Igreja ao cantar: “Nós vos adoramos e bendizemos, ó Jesus. Que pela vossa santa cruz remistes o mundo”. E lhe destes uma Páscoa florida. De alegria e de glória.