Media: dois comunicadores refletem sobre a Mensagem do Papa

A propósito da dinâmica de  comunicação que permitiu ao site Voz Portucalense atingir mais de 1 milhão de páginas visitadas em 2020, fomos conhecer a opinião de dois comunicadores católicos sobre a Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Pedro Gil é o responsável pelo Gabinete de Imprensa da Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei e o padre José Maria Brito é o diretor do Gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus. 

Por Rui Saraiva

A Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2021, que se assinala no próximo domingo 16 de maio, tem como título: “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. O desafio lançado pelo Santo Padre aos jornalistas é o de serem capazes de assumir a frase do Evangelho de João: “Vem e verás”, tal como “a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia” – escreve o Papa.

Realismo, profundidade e utilidade

Pedimos a dois comunicadores católicos portugueses uma reflexão sobre a Mensagem do Papa. Pedro Gil é responsável pelo Gabinete de Imprensa da Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei e sublinha o realismo, a profundidade e a utilidade desta Mensagem. Considera que o texto de Francisco não é só para comunicadores:

“Podia alguém pensar que esta mensagem seria só para comunicadores, mas não. É uma mensagem útil para quem lê os media e está nas redes sociais. Há nela três notas: realismo no retrato da situação, profundidade na leitura dos problemas e utilidade nas sugestões que faz. O Papa é realista e fala do risco das notícias serem feitas a olhar para o computador e não para a realidade. E também de facilmente partilharmos notícias e imagens sem a certeza de serem verdadeiras. O Papa é profundo e diz: para conhecer é preciso encontrar. Permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale e lembra que o Evangelho se difundiu graças a encontros pessoa a pessoa. E o Papa dá pistas muito práticas. Sugere reportagens sobre as famílias que nesta pandemia empobreceram e têm que bater à porta da Caritas para poderem comer. E também ensina que na comunicação nada pode jamais substituir o ver pessoalmente, pois comunica-se também com os olhos, o tom da voz, os gestos” – afirma.

Pedro Gil refere a importância da relação pessoal para a produção de informação e sugere mesmo que haverá uma revolução se isso for uma prioridade na comunicação da Igreja:

“Lembra-me aquele amigo que, preocupado com a fúria de alguns comentários no seu perfil nas redes sociais, passou a desafiar cada crítico para uma conversa ao vivo. Viu então, dizia com humor, os leões tornarem-se coelhos. De facto, em geral, as pessoas melhoram muito na curta distância. Aliás, no dia em que os departamentos de comunicação da Igreja derem prioridade às relações pessoais quer internamente quer com os mediadores e opinião e jornalistas vai haver uma revolução” – assinala.

Pedro Gil valoriza a importância da oração final da Mensagem do Papa:

“A oração final da mensagem não é um enfeite, é essencial. Recorda que estas grandes mudanças são uma conversão que só Deus pode fazer nós.”

Experiência humana e pessoal

O padre José Maria Brito é diretor do Gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus e considera ser relevante na Mensagem do Papa o desafio aos jornalistas para que façam da sua atividade uma experiência humana e existencial:

“Este desafio que o Papa lança aos jornalistas de que entendam a sua atividade, antes de tudo, como uma experiência humana, uma experiência existencial. E que, por isso, o seu contacto com a realidade não seja um contacto filtrado pelos écrans, mas seja um contacto na primeira pessoa. De quem conta histórias e dá notícias a partir do contacto direto com a vida das pessoas. Seguindo a inspiração da carta, é alguém que vai e vê, experimenta, é tocado na carne por essa realidade, pela história daquela pessoa. Creio que isso é importante, pois o Papa é muito lúcido e pertinente no modo como critica a tendência de hoje de um jornalismo de secretária ou de gabinete e não um jornalismo que está disposto a gastar as solas das sandálias” – comenta.

O sacerdote jesuíta salienta que as redes sociais abrem possibilidades, mas sustenta que o Papa quer recuperar a dimensão humana e pessoal do jornalismo e da comunicação:

“Chama a atenção para o modo como muitas vezes se vive a relação com as redes sociais, que, naturalmente nos abrem possibilidades muito concretas e importantes, mas que por outro lado, às vezes, despersonalizam o modo como nos relacionamos uns com os outros. Como conversamos e discutimos. No fundo, recuperar a dimensão humana e pessoal tanto do jornalismo como de toda a comunicação” – realça.

O padre José Maria Brito sublinha a necessidade de serem criadas condições aos jornalistas para que possam exercer a sua atividade numa dimensão pessoal e no contacto com a realidade:

“A situação de fragilidade da própria atividade jornalística, por todos os condicionalismos que hoje existem, em linha com aquilo que o Papa tem refletido em textos como a “Fratelli tutti”, creio que seria preciso uma boa reflexão para perceber como é que também se criam condições para que o jornalismo possa ser esta atividade humana e pessoal que parte do contacto com a realidade e não de ideias que se forjam a partir de um lugar distante dessa realidade” – declara.

Pedro Gil e o padre José Maria Brito, dois comunicadores que partilharam com Voz Portucalense as suas reflexões sobre a Mensagem que o Papa dirige ao media neste ano de 2021.