Fraternidade não é voltar ao antes Covid-19

Temos atravessado uma pandemia, que a muitos surpreendeu, como a mim também. Uma pandemia da nossa saúde corporal, como tantas têm existido ao longo dos séculos. Sabemos, pela história, o que foi a epidemia “espanhola”, aqui no Porto, as medidas adotadas, que não foram bem aceites pelo povo, apedrejando mesmo a residência do Doutor Ricardo Jorge, responsável por elas, e levando-o a instalar-se em Lisboa. Mas essa epidemia passou e ficou tudo como era antes, a vida funcionou normalmente, talvez como sempre: anormalmente.

Por Joaquim Armindo

Hoje passamos por esta pandemia que teima em “queimar” o nosso quotidiano e nem a Igreja escapou, ficaram fechadas as suas portas. Diga-se, que bem, a Igreja, todas as confissões religiosas, demonstraram uma capacidade inegável de compreenderem a situação, adaptando-se a ela, pelos métodos mais criativos que temos visto. A Igreja contribuiu para o acompanhamento da pandemia de forma responsável, na sua generalidade, havendo poucos casos que – como se diz –, confirmaram a regra. O bispo de Roma, papa Francisco, assumiu atitudes conforme a grande envergadura que lhe temos vindo a reconhecer. Publicou nestes tempos a encíclica “Todos Irmãos”, dirigida a todos os homens e mulheres, para a defesa da vida e o prenuncio de uma nova Humanidade, assente na Fraternidade.

Esta Fraternidade, felizmente, não é um apelo a tornarmo-nos a ser os mesmos que eramos, mas nesta afetividade de sermos todos irmãos e irmãs. O que se pretende é que esta pandemia de nos tirar o ar, dê lugar a uma “pandemia” que mine as estruturas podres de uma economia que mata, de um desprezo pela nossa Casa Comum, de uma cultura que destrói a vida e de um confinamento dos mais pobres, marginalizados e descartados. O que se exige a nós cristãs e cristãos, é que nunca mais deixemos chegar a Humanidade a uma descaraterização diabólica como a que estávamos a viver. Tudo isso passa por uma espiritualidade que forneça ao género humano as suas capacidades de um relacionamento assente na Fraternidade.

Esta Fraternidade há de ser construída naquilo que Francisco refere: “Cuidemos da fragilidade de cada homem, cada mulher, cada criança e cada idoso com a mesma atitude solidária e solícita, a mesma atitude de proximidade do bom samaritano”, referindo-se à estória bíblica do Bom Samaritano.

Porque o próximo não tem fronteiras, construamos um pós-pandemia, não numa luta por vacinas, mas num mundo Fraterno, diferente do antes do COVID-19.