
Fora de um quadro crente que vê a Deus como único Senhor e, consequentemente, recusa cultuar a qualquer ídolo, é difícil compreender a posição católica sobre a economia. De resto, a verificação histórica vem, pelo menos, atestar um dado: o processo de desumanização da economia e da sua conversão em atividade mais ou menos selvagem é paralelo à secularização e à desvinculação do religioso.
No seguimento dos dados bíblicos, a Igreja ensina: a economia é uma actividade humana fundamental e, em linha de princípio, há que aceitar a ordem económica; tal como o próprio homem, há que humanizar este setor, colocando-o ao serviço efetivo das pessoas e dos povos; há que estar vigilante e alertar para os frequentes desvios que geram situações injustas e pecaminosas; há que educar para o bom uso dos bens, excluindo toda a apropriação ou desejo imorais; há que propor a «utopia escatológica», isto é, o valor da pobreza voluntária para a realização da comunhão plena entre todos os homens.
A Igreja, que «está no mundo sem ser do mundo», conhece bem as causas e os efeitos do desejo desordenado das riquezas. Sabe que as consequências são os diferentes tipos de pobrezas, a fome, as guerras, a exclusão social, a marginalização, a prostituição, a toxicodependência, etc. Para além do problema ecológico. E sabe também que as formas usadas para a apropriação indevida de bens e a avidez de ganhos continua a ser a corrupção, a usura, a fuga aos impostos, a especulação bolsista, etc. E que tudo isto é, simultaneamente, causa e efeito de um coração que adora o ídolo do «ter».
Como critério moral, a Igreja continua a afirmar que a finalidade da economia não é o mero aumento dos produtos disponíveis, nem sequer o lucro, o benefício pessoal, o poder e as honrarias. Admite, plenamente, a “desigualdade funcional”, isto é, que sejam compensados os que mais trabalham, criam e investem. Mas só concebe a economia como serviço ao homem integral: ao “homem todo e a todos os homens”, como diria Paulo VI.
Nesta linha, a Igreja, que não é contra os bens nem contra a sua produção, continua a propor a liberalidade e a partilha como fatores de libertação pessoal e comunitária. Como motores de um mundo que pode ser bem mais feliz.
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