
Por M. Correia Fernandes
Há um ano, na edição de 19 de fevereiro de 2020, Voz Portucalense lembrava: “O Coro da Sé Catedral do Porto foi fundado em 1 de março de 1971, sob a iniciativa e orientação do Padre António Ferreira dos Santos, regressado da Alemanha onde tinha realizado formação avançada em Música sacra, e mais tarde designado membro do Cabido e mestre capela da Sé do Porto.
Era então projeto delineado para ser executado entre 2020 e 2021, para comemorar com um sentido amplo e aberto a celebração dos seus 50 anos. Iniciava-se na Semana Santa, na Sexta Feira da Paixão, com a apresentação da “Paixão segundo São João” do Cónego António Ferreira dos Santos”.
Não se realizou este concerto, pela suspensão das celebrações por causa, a partir de 14 de março de 2020. A sua realização permanece em aberto.
No dia 1 de março deste ano de 2021 o Coro lembra as suas Bodas de Ouro, nas circunstâncias que todos vivemos. O facto foi motivo para uma conversa Miguel Simões, na qualidade de vice-Presidente da Direção do Coro, cujo Presidente nato continua a ser o Cónego António Ferreira dos Santos.
Nesta conversa se recordou o percurso destes 50 anos. Lembra-nos que estava prevista a realização de um Te Deum e um diálogo sobre a sua história, contando com o fundador, Cónego Ferreira dos Santos, e dois dos seus mais ilustres membros ligados à Fundação: os professores, maestros e compositores Fernando Lapa e Fernando Valente.
“Esperamos que o programa da celebração possa ser desenvolvido durante este ano, com quatro iniciativas: uma celebração de ação de graças, com a apresentação de um Te Deum ou Magnificat; a apresentação da Paixão de S. João de Ferreira dos Santos e a sua gravação; o lançamento de uma prevista “Escola de pequenos cantores”, cuja base já está lançada. O projeto não é apenas de um coro, mas o desenvolvimento de uma formação musical cuidada ligada à liturgia na Igreja, procurando assim um caminho de ligação dos mais novos aos mais velhos, seguindo um modelo vindo da Alemanha através do atual maestro do Coro, Tiago Ferreira; e a apresentação da Paixão segundo S. Mateus, de J. S. Bach, com a prevista e já preparada orientação do maestro Martin Lutz.
Projetos para o futuro
Miguel Simões dá conta de que o Coro continua a trabalhar para manter a qualidade dos coralistas e procura também formação de novos elementos. Realizou um concerto de Natal, observando as regras de distanciamento então em vigor, que foi seguido por muita gente na transmissão efetuada, apesar das condições difíceis de ensaio e apresentação distanciada. Apresentou duas cantatas de D. Buxtheude (1637-1707) e cantos de Natal. Deste autor tem também outra obra em preparação, esperando ser possível realizar um concerto na Semana Santa.
O Coro orienta o seu trabalho, com a participação, dedicação e assiduidade dos seus membros, em três direções: a prática e formação no tesouro da Música Sacra; a participação na Liturgia e celebrações na catedral, nos pontificais e missas capitulares; a colaboração com outros coros da diocese, através de concertos pedagógicos, procurando integrar também os grupos paroquiais em ordem ao seu aperfeiçoamento. Existe também o projeto de reunir vários coros da cidade e da diocese. No sentido da valorização da música sacra, projetando mesmo a realização de um Festival de Coros, quando as circunstâncias o permitirem.
Mantem-se o projeto de realizar a apresentação d “Paixão segundo São Mateus”, de J. S. Bach (1685-1750), obra máxima da História da Música, redescoberta por Felix Mendelssohn (1809-1847), que a fez ouvir em Berlim, em 1829, através de uma cópia do se manuscrito original, e que estava, na época, quase esquecida. Para a apresentação no Porto em 2021 o Coro da Sé teve já encontros com o maestro alemão Martin Lutz, que transmitiu orientações através de uma “master class” para a sua interpretação.
Lembramos que o Coro da Sé do Porto esteve na origem do lançamento e realização do Grande órgão de tubos da Sé (1985), que se tornou um modelo de um conjunto de órgãos novos e restauro de órgãos históricos na diocese do Porto; revelou na cidade e região do Porto obras fundamentais da história da música coral e coral sinfónica, a partir de um projeto inicial de revelação dos autores portugueses dos séculos XVI a XVIII (que conduziu a uma atenção a estes autores por parte de escolas europeias, revelando nomes como Manuel Cardoso, Manuel Mendes, Pedro de Cristo, Rodrigues Esteves). É notável o seu trabalho de apresentação de obras cimeiras da história de música: o Magnificat, a Paixão segundo S. João e a Oratória de Natal, de J. S. Bach, várias das suas cantatas e a sua grandiosa Missa em Si Menor (em duas épocas apresentada), a oratória “Israel no Egipto”, de J. F. Haendel (1750-1759), o Requiem de Mozart e a Missa em Dó menor; o “Requiem Alemão” de J. Brahms (1833-1897), a oratória “A Criação” de J. Haydn (1732-1809) e a oratória “Paulus” de F. Mendelssohn, o “Te Deum” de Brukner (1824-1896).
O Coro da Sé teve os seguintes maestros: António Ferreira dos Santos, fundador; Eugénio Amorim; de novo Ferreira dos Santos; e a partir de 2015, Tiago Ferreira, atual maestro. Possui medalha de mérito cultural da Ministério da Cultura e a medalha de ouro da Câmara Municipal do Porto. Voz Portucalense, que sempre tem dedicado atenção à ação do Coro da Sé, augura que este aniversário, apesar das contrariedades, seja produtivo para bem da afirmação da fé e da cultura que ele transmite.