Domingo IV da Quaresma

Foto: Rui Saraiva

14 de Março de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Segundo Livro das Crónicas                                                 2 Cr 36,14-16.19-23

«O Senhor, Deus de seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria poupar o povo e a sua própria morada».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 136 (137)

Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios                         Ef 2,4-10

«Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou».

 

Aclamação ao Evangelho                       Jo 3,16

Deus amou tanto o mundo

que lhe deu o seu Filho Unigénito:

quem acredita n’Ele tem a vida eterna.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                            Jo 3,14-21

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna».

«Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.».

 

Viver a Palavra

«O que é a Quaresma?». Esta é uma pergunta frequente que os catequistas gostam de dirigir aos seus catequizandos. Com a excepção de um ou outro comentário mais destabilizador afirmando ser um conhecido jogador de futebol, a resposta das crianças, adolescentes ou jovens é unânime: «a Quaresma é o tempo de preparação para a Páscoa». Na verdade, a Quaresma é o tempo que nos conduz à celebração da Páscoa da Ressurreição e, por isso, tempo de preparação para a celebração da mais importante solenidade do calendário litúrgico. Contudo, é tempo de preparação para a verdadeira Páscoa, aquela que nos liberta do pecado e da morte e nos faz entrar na vida nova e ressuscitada que Jesus nos oferece.

Deste modo, a Quaresma é tempo de conversão e penitência e abre o nosso coração para a alegria nova da renovação de vida e transformação do coração. A Quaresma é o tempo feliz de experimentar o amor superabundante de Deus que envia o Seu Filho não para condenar o mundo, mas para o redimir, salvar e levar à sua plena realização.

Muitas vezes a Quaresma parece um «puxar a fita atrás» e percorrer o caminho da condenação, paixão e crucifixão de Jesus até à ressurreição. Contudo, a Quaresma não é um recuar no tempo para reviver o sofrimento e entrega de Jesus. A Quaresma que atravessamos para chegar à celebração da Páscoa faz-se sempre depois da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque Ele ressuscitou e está vivo e, por isso, vivemos a Quaresma como tempo alegre e feliz da presença do Ressuscitado que nos convida à conversão.

Neste itinerário de penitência e renovação de vida, emerge o IV Domingo da Quaresma, Domingo Laetare, que sublinha a alegria que a conversão oferece à vida e com as palavras de Isaías cantamos na antífona de entrada: «Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos. Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações».

A Liturgia da Palavra deste Domingo sublinha a estreita relação entre alegria e amor, recordando que a verdadeira alegria nasce da certeza de que Deus nos ama e nos chama a participar da Sua vida divina entrando neste dinamismo de amor. Como recorda o Segundo Livro das Crónicas, Deus envia sem cessar os Seus mensageiros para recordar o amor de Deus que converte e quer salvar o homem e a mulher do seu mau caminho. Este amor revelado de modo pleno e definitivo em Jesus Cristo, como nos recorda S. Paulo, «restituiu-nos à vida com Cristo».

Nas noites escuras da nossa existência, onde o medo e a vergonha tantas vezes nos invadem como aconteceu com Nicodemos, podemos sentir a voz de Jesus que dissipa o medo e afasta o temor: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna». O mundo e a criação, cada homem e cada mulher são desmedidamente amados por Deus, ao ponto de Ele lhe enviar o Seu único Filho para o redimir e salvar.

Esta graça que Deus nos concede, fazendo de cada um de nós filhos muito amados de Deus, desafia-nos a entrar neste dinamismo de amor, fazendo de cada um de nós verdadeiros instrumentos e sinais de que o mundo não é para ser julgado e condenado, mas amado, salvo e redimido e, por isso, como afirmou o Padre Virginio Rotondi: «o mundo amado apaixonadamente por Deus não pode deixar de ser amado por nós».

 

Homiliário patrístico

Dos Tratados de Santo Agostinho, bispo, sobre o Evangelho de São João (Séc. V)

Diz o Senhor: Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida. Estas breves palavras contêm um mandato e uma promessa. Façamos o que o Senhor nos manda, para esperarmos sem temeridade receber o que nos promete, não seja caso que Ele nos diga no dia do Juízo: «Porventura fizeste o que te mandei, para esperares agora alcançar o que prometi?». «E que foi o que mandastes, Senhor nosso Deus?». Responder-te-á: «Que Me seguisses». Pediste um conselho de vida. E de que vida, senão daquela acerca da qual está escrito: Em Vós está a fonte da vida? Por conseguinte, façamos agora o que nos manda, sigamos o Senhor e libertemo-nos das cadeias que nos impedem de O seguir. Mas ninguém poderá soltar estas amarras sem a ajuda d’Aquele de quem se disse: Quebrastes as minhas cadeias; e também noutro salmo: O Senhor dá liberdade aos cativos, o Senhor levanta os abatidos.

Somente os que assim são libertos e levantados poderão seguir aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não anda nas trevas; porque, diz ainda o salmo, o Senhor dá vista aos cegos. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para iluminar o cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com a sua saliva misturada com terra. Cegos também nós nascemos de Adão e temos necessidade de que o Senhor nos ilumine. Ele misturou a saliva com a terra: O Verbo Se fez carne e habitou entre nós. Misturou a saliva com a terra, como se tinha anunciado: A verdade germina da terra. E Ele próprio disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O quarto Domingo da Quaresma é designado como Domingo Laetare (Domingo da Alegria). Esta designação é retirada da primeira palavra da antífona de entrada da missa: «Laetare, Ierusalem, et conventum facite omnes qui diligites eam». (Alegra-te Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais). Este Domingo deve recordar os fiéis que o tempo da Quaresma é «tempo de cantar a alegria do perdão» (Ir. Roger). Deste modo, a celebração eucarística deste Domingo é a oportunidade de uma reflexão sobre a alegria cristã e que está tão ligada ao magistério do Papa Francisco (Evangelii Gaudium, Amoris Laetitia, Gaudete et Exsultate), onde podemos encontrar belíssimos textos e contributos sobre a alegria do Evangelho, a alegria do amor que se vive na família ou a alegria de percorrer a estrada da santidade.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura exige uma acurada preparação quer pela extensão do texto, quer por algum vocabulário menos usual. Além disso, é necessário ter em atenção as frases longas com diversas orações. Este mesmo cuidado deve ser tido em conta na preparação da segunda leitura, onde é necessário preparar bem as pausas e respirações para uma proclamação mais eficaz do texto.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: Alegra-te, Jerusalém – J.P. Martins (CN 193); Salmo Responsorial: Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém, fique presa a minha língua (Sl 136) – M. Luís (SRML, p. 196-197); Aclamação ao Evangelho: Louvor a Vós, Rei da eterna glória | Deus amou de tal modo o mundo…  – F. Santos (BML 45); F. Santos (BML 115-116); Ofertório: Parce, Domine, parce populo tuo – Gregoriano (CN 796); Comunhão: Deus amou de tal modo o mundo – M. Luís (CN 351); Pós-Comunhão: Em Vós, Senhor, está a fonte da vida – Az. Oliveira (CN 401); Final: Irmãos, convertei o vosso coração – J. Paul Lécot (CN 952).