Bispo do Porto: “O batismo supõe uma vida que se renova sempre”

Na primeira reflexão da Quaresma, D. Manuel Linda lembrou a Aliança que Deus faz com Noé assinalando que esta é símbolo da Aliança de Deus connosco. “Somos fiéis à Aliança com Jesus estabelecida no nosso batismo?” – perguntou.

Por Rui Saraiva

Neste tempo de preparação para a Páscoa, vivido em pandemia de covid-19, foi vontade do bispo do Porto e dos seus bispos auxiliares propor aos diocesanos um tempo de reflexão transmitido pelos meios digitais facebook e youtube. Um encontro marcado para as sextas-feiras da Quaresma

A primeira reflexão quaresmal coube a D. Manuel Linda, no dia 19 de fevereiro. Saudando em particular as famílias, os jovens e os idosos, o bispo do Porto não se esqueceu de dirigir a sua reflexão não só aos que “vivem felizes”, mas também àqueles que “perderam a esperança”.

“A nossa equipa de coordenação pastoral propôs para a nossa diocese do Porto que vivêssemos esta Quaresma na perspetiva da Aliança” – disse D. Manuel Linda salientando os fundamentos bíblicos da Aliança com Deus presentes no Livro do Génesis. Um livro que acentua “que a obra de Deus é boa” revelando, no entanto, já algum sentimento de “desagregação e de revolta contra Deus”. Instaura-se, assim, o pecado – assinalou.

“Mas Deus não acaba nem com a humanidade nem com a natureza. Recria-a. Torna-a nova” – sublinhou o bispo do Porto recordando a figura de Noé. “Um homem bom, definido como homem justo e perfeito, para a partir dele dar início a uma nova humanidade” – frisou.

Surge a Arca de Noé, uma barca onde “se reza” – assinalou – “a arca é uma arca-igreja”. “Com Noé Deus quer fazer uma humanidade nova. Uma Aliança”.

“Deus está com a humanidade” – afirmou D. Manuel Linda – “Deus compromete-se com a humanidade” e “está ao nível do coração”, ou seja, “numa dimensão afetiva”.

“O mundo antigo antes do dilúvio desaparece” – recordou o bispo do Porto lembrando que estas águas já prefiguram o valor do batismo. A este propósito, D. Manuel Linda destacou sobre os primeiros convertidos da inicial comunidade crente a seguir à morte e ressurreição de Jesus que se revelam “justamente no dia de Pentecostes”.

Precisamente, sobre o batismo, tema que tem envolvido o caminho pastoral da diocese do Porto nos últimos anos, D. Manuel Linda lembrou a importância do compromisso assumido no batismo de iniciar as crianças na fé. No batismo Deus estabelece connosco uma Aliança – assinalou o bispo do Porto lembrando algumas consequências desse compromisso:

– Em primeiro lugar “nós não fazemos alianças com ideias, nem com ideologias, não nos comprometemos com uma ideia vaga. A Aliança é com uma pessoa”. “No princípio está a adesão à pessoa de Jesus Cristo” – disse D. Manuel Linda citando o Papa Bento XVI;

– Em segundo lugar “é da fé que depois vem uma forma específica de pensar com uma ligação à instituição que acolhe os outros crentes que é a Igreja”;

– E em terceiro lugar o batizado assume uma determinada maneira de perceber as virtudes da esperança e do amor.

Para o bispo do Porto “é a fé” recebida no batismo, “vivida e transmitida pelo testemunho” que “educa e forma a família”. Uma família que passa ter, assim, uma identidade cristã e que a assume na escola, no trabalho e na sociedade – referiu.

“O batismo supõe uma vida que se renova sempre” – afirmou D. Manuel Linda assinalando que o tempo da Quaresma ajuda a esta renovação.

O bispo do Porto deixou algumas pistas de reflexão, interrogações para meditar:

– a Aliança que Deus faz com Noé é símbolo da Aliança de Deus connosco. Somos fiéis à Aliança com Jesus estabelecida no nosso batismo?

– que grau temos de fidelidade: completa, assim-a-assim ou baixa?

– a Arca de Noé simboliza a habitação das nossas famílias. É lá que se salva esta nossa igreja doméstica que são as nossas famílias? Dedicamos à vida familiar o mesmo empenho que dedicamos ao trabalho ou à escola?

– a casa é o lugar do cuidado mútuo e lugar de salvação ou o lugar habitual de tratamento dos mais novos, da higiene e das refeições mas que ignora a dimensão espiritual e religiosa?

D. Manuel Linda lembrou ainda a importância do valor da solidariedade para com as outras Arcas de Noé, ou seja, para com as outras casas e as outras famílias.

Para esta Quaresma de 2021, o bispo do Porto pediu para ser criado tempo e espaço onde seja possível parar, escutar e avançar com a fé do batismo.