
Voz Portucalense recorda tão importante figura da diocese do Porto falecida no passado dia 7 de fevereiro. Na sua dedicação de décadas ao Seminário Maior do Porto e no empenho missionário no Movimento Oásis. Publicamos aqui alguns textos.
Recordando o padre Carlos Alberto Pereira
Por padre Joaquim Mário, presidente da Direção da Casa Sacerdotal do Porto
Qualquer jovem que chegasse ao Seminário Maior do Porto, ao começar a trilhar e a conhecer os corredores, a fim de se orientar num “novo mundo” onde iria aprofundar a sua vocação, iria conhecer a figura alta do Pe. Carlos, sempre atento e com um sorriso amigo a inspirar confiança.
Aos poucos começávamos a ver nele uma referência de dedicação e trabalho à causa, feita com carinho por todos. E, claro, colocando-nos à vontade, descobríamos que tínhamos ali um amigo e conselheiro.
E é difícil esquecer os momentos descontraídos de humor fino, como se costuma dizer, em cada momento de convívio, sem esquecer o necessário, que teríamos de aprender, a nível cerimonial litúrgico. O Pe. Carlos conseguia, perfeitamente, separar os diversos momentos, e vê-lo, aprendendo com ele, como mestre de cerimónias da Sé, levou-me a gostar da liturgia. Tento, ainda hoje, dar toda a dignidade quando presido a uma celebração. Talvez seja esta uma forma de o homenagear e mantê-lo presente.
Nos últimos tempos, já na Casa Sacerdotal, era uma festa o cruzarmo-nos, e ver que, apesar da idade e de dezenas e dezenas de padres terem passado por ele, ainda se recordava de todos.
Obrigado Pe. Carlos, e quando Deus desejar nos veremos novamente numa liturgia celestial, onde o vejo como mestre de cerimónias.
Padre Carlos: a sua presença, a sua serenidade e o seu sorriso, estarão sempre em nossos corações
Grupo de casais do Movimento Oásis (os mais velhos)
Um dia, um dos nossos amigos escreveu ao Padre Carlos:
« És o primeiro ELO do cadeado no serviço por amor, que nos uniu um dia.
Passados alguns anos, o seu tamanho cresceu, e nunca mais terá fim.
Mesmo que algum ELO se quebre na terra, passará a ser ligado no Céu.
A tua presença, a tua serenidade, o teu sorriso estarão sempre em nossos corações »
Em outra vez, outro dos amigos também escreveu sobre o Padre Carlos:
A dimensão da alma
«Quem não conhece aquele abraço forte,
aquelas mãos capazes de abarcar o mundo?
O sorriso franco, a alegria, a dedicação aos outros,
sempre pronto a escutar os nossos desalentos
e a mitigar as nossas fraquezas
com a sua voz amiga.
Sentimos a presença de Deus,
naquela alma que extravasa as dimensões
da figura imponente do homem.
Sentimos a presença de Deus,
no exemplo do Padre,
na humildade, no carinho que nos oferece.
Procurando nas gavetas do tempo,
revivemos momentos que não passaram,
porque estão presentes nas nossas memórias.
Foram tão bons que jamais se esquecem.
Os primeiros anos do Oásis,
de terra em terra,
as peripécias, os encontros, os acampamentos.
Fátima, os Açores, os grupos,
os casais, os filhos, os que partiram…
Como teria sido a nossa vida sem um amigo
com uma Alma com esta Dimensão?
Obrigado Padre Carlos»
Evocação do padre Carlos Pereira
Padre José Araújo
Conheci e convivi com o Pe Carlos Pereira em dois ambientes humanos: o Seminário e o Movimento Oásis.
Foi no Seminário menor do Bom Pastor, era eu adolescente, que conheci o Pe Carlos Pereira. Ele vinha periodicamente ao Seminário para atender espiritualmente os rapazes. Era uma manhã por semana, a escutar e a conversar com os seminaristas. Desde cedo me encantou a sua bonomia e a forma como me acolhia e tratava naqueles momentos de conversa, confissão e orientação espiritual… A sua figura imponente contrastava com o seu sorriso largo e a sua boa disposição. Era um verdadeiro “pai espiritual”. Um homem enamorado de Jesus e de Maria, sempre disponível para ouvir, aconselhar e deixar optar em liberdade.
A dada altura convidou-me a conhecer o Movimento Oásis. Aí alargou-se o meu conhecimento do Padre Carlos: um homem muito querido por todos, sempre bem-disposto e empenhado na vivência e divulgação da espiritualidade do “Serviço por Amor”. Um “jovem” entre os jovens, apreciador de uma boa anedota e “especialista” na animação dos convívios à noite, nos “Cursos Oásis”. Acompanhava alguns grupos de jovens universitários do Movimento e participava em acampamentos e encontros de divulgação do Movimento. Quando expunha algum tema ou comentava alguma passagem do Evangelho, fechava os olhos, como se estivesse a contemplar o que dizia ou a saborear o que partilhava.
Com a passagem do Seminário Menor para o Maior, conheci o Pe Carlos no contacto diário e na vida comunitária. Agora era meu Prefeito e responsável de corredor. A mesma alegria e jovialidade. O mesmo respeito e admiração por parte de toda a comunidade que constituía o Seminário.
Durante os seis anos de Seminário maior, cresceu a minha admiração e respeito por este homem de Deus. Sempre presente nas atividades comunitárias, sempre atento a cada um, fosse do Porto, de Vila Real ou de Bragança (Dioceses presentes no meu tempo). Na Sé era o Mestre de Cerimónias. Aí víamos o seu amor à Liturgia. Com que cuidado preparava as celebrações e envolvia os seminaristas. Recordo com grande carinho e saudade as celebrações da Semana Santa na Sé.
Gerações e gerações de padres passaram pelo Seminário Maior do Porto e foram formadas por ele. Todos recordam a sua candura, humildade e despojamento. Foi uma vida (perto de 60 anos) dedicada ao Seminário. O Seminário era realmente o seu amor e a sua vida. A sua casa.
A última vez que o vi foi no ano de 2020, numa visita dos utentes da Casa Sacerdotal à Vigararia de Arouca-Vale de Cambra. Depois da celebração da Eucaristia, almoçamos todos juntos. Recordo as palavras com que sempre me saudava: “Olá, menino”. Éramos os seus “meninos”. E ele era e sempre será o nosso “pai” espiritual.
Obrigado, Pe Carlos. Pelo seu carinho, pelo seu amor. Pela vida de serviço ao Seminário e à Igreja. Junto do Pai, interceda pelos seus “meninos” e pela Igreja!