
“Hoje não há tempo para indiferença. Não podemos lavar nossas mãos. Com a distância, com o descaso, com o desprezo. Ou somos irmãos – permita-me – ou tudo desmorona. É a fronteira. A fronteira sobre a qual devemos construir; é o desafio do nosso século, é o desafio dos nossos tempos. Fraternidade significa mão estendida, fraternidade significa respeito. Fraternidade significa ouvir com o coração aberto. Fraternidade significa firmeza nas próprias convicções. Porque não há verdadeira fraternidade se alguém negociar suas próprias convicções.” São palavras do bispo de Roma, papa Francisco, que no fim disse “obrigado” ao irmão Grande Inam e a António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, e Latifa Ibn Ziaten, vencedores do Prémio Zayed, no dia da Fraternidade da Humanidade, celebrado em 4 de fevereiro.
E mais adiante: “Somos irmãos, nascidos do mesmo pai. Com diferentes culturas, tradições, mas todos irmãos. E respeitando nossas diferentes culturas e tradições, nossas diferentes cidadanias, devemos construir esta fraternidade. Não negociando. É o momento de ouvir. É o momento de aceitação sincera. É o momento da certeza de que um mundo sem irmãos é um mundo de inimigos. Eu quero sublinhar isso. Não podemos dizer: irmãos ou não irmãos. Digamos bem: ou irmãos, ou inimigos. Porque o desrespeito é uma forma muito sutil de inimizade.”
Estas palavras dirigidas a toda a Humanidade, não deixam de ser também cósmicas, no sentido de todo o Universo, ameaçado por tantos que não querem ser fraternos, nem Irmãos e Irmãs, nascidos da mesma Terra. E são dirigidas em primeiro lugar a quem diz servir Jesus, e a todos os caídos na berma das estradas. São palavras onde não se encontra o “clericalismo” de comando, de quem pensa que o outro é um irmão ou uma irmã, para uma “obediência” aos poderes instituídos. Por isso mesmo, palavras dirigidas à igreja católica-romana, a todos os cristãos, a todos os que não se reconhecem em Jesus e a todos que procuram ou não espiritualidades para as suas vidas. Quem, de uma forma ou de outra, tem tempo para ser “indiferença” ao sofrimento, pode até estar a pronunciar as palavras de Francisco, mas não compreende o alcance do sentido da Fraternidade Humana. Julgam-se todo poderosos, quando Jesus é servo, que lavou os pés aos seus amigos e suas amigas.
Escutamos as palavras de Francisco neste tempo de pandemia e antes de “julgarmos” outros, porque fez e porque não fez, assumamos a Fraternidade Humana.