
Neste ano de 2021 decorreram em registo online as Jornadas de Teologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto. De 1 a 4 de fevereiro e com ampla participação estes dias de reflexão tiveram como tema: “Um só Corpo, um só Batismo” (Ef. 4, 4) – a Diversidade dos Carismas e a Construção da Comunhão. Na sessão de encerramento o bispo do Porto afirmou que “fazer batismos é relativamente fácil, fazer cristãos é a grande dificuldade”.
Por Alexandre Moreira, João Azinheira e Tiago Dias
Olhar o horizonte foi o remate que o bispo do Porto, D. Manuel Linda quis imprimir às jornadas de Teologia na quinta-feira, dia 4 de fevereiro, último dia da realização das mesmas. «Participar, Acreditar e Agir», foi lema que pediu emprestado à Igreja na América como um propósito a ser considerado como vida e ação da Igreja diocesana, orientando a nossa ação e congregando esforços no processo que faz de cada cristão discípulo missionário.
«Um cristão não nasce, um cristão faz-se»
Ao longo de cinco dias, o sacramento do Batismo foi a chave hermenêutica para a compreensão teológico-pastoral a imprimir na vida e ação da diocese do Porto, este ano, alargada à diocese de Vila real cuja ligação, sublinhada por D. António Augusto Azevedo, é já longa e fecunda. Olhar o Batismo a partir da Teologia e da Pastoral da Igreja é refletir sobre o próprio conteúdo do ser cristão na multiplicidade das formas e modos, espelhados na panóplia de abordagens que ao longo de quatro dias foram mote das comunicações. Muitos reptos lançados, muitas questões levantadas, uma nova forma de ser e de estar em Igreja num mundo globalizado e secularizado.
“Fazer Batismos é relativamente fácil, fazer cristãos é a grande dificuldade” – deste modo, ao jeito de uma exortação, o Prelado Portucalense sintetizou o cerne das abordagens de todos os oradores num encontro também ele marcado pela pandemia que obrigou o digital a ser o auditório comum.
O princípio da sinodalidade, como expressão de uma igreja de batizados conscientes e responsáveis presente num mundo plural, foi a clave com que o Professor Doutor Gonzalo Tejerina Arias conferiu à harmonia em torno da «diversidade dos carismas e a construção da comunhão».
Os dias foram marcados por tonalidades variadas: da reflexão teológica à práxis pastoral. Uma Igreja em comunhão quer-se como uma realidade dialógica ad intra e ad extra, quer com o Mundo, quer com as “igrejas irmãs”. O ecumenismo foi, também, nota de aceno e aprofundamento. A Igreja deve olhar para o mundo como Mãe atenta àqueles que dela se aproximam: acolher e acompanhar, compreendendo e escutando os ecos que do coração de cada um, brota como anseio divino. Assim foram as comunicações do Cónego Doutor Alfredo Soares a partir de uma leitura canónico-sacramental do Batismo e da experiência pastoral do Pe. Emanuel Mendes que sublinha o sacramento como o motor da vida da comunidade paroquial.
A ponte fez-se para o último dia, onde o Pe. Emanuel Brandão refletiu o Batismo dentro do grande Sacramento da Iniciação Cristã e o Cónego Joaquim Santos, enquanto voz do Conselho Presbiteral, das implicações pastorais da preparação para o sacramento, enfatizando a necessidade de uma ação pastoral conjunta, não apenas a nível diocesano, mas nacional, procurando usar uma linguagem comum, não excluindo as taxas de secretaria.
Como remate, a intervenção do Bispo-Auxiliar do Porto D. Armando Esteves Domingues lançou sementes para uma Pastoral não alheada da realidade, procurando privilegiar o acompanhamento personalizado com propostas concretas. Todas estas intervenções foram, nas palavras do diretor-adjunto da Faculdade de Teologia, Professor Doutor Abel Canavarro, «como que ao jeito de testemunhos».
A sinodalidade é a marca da Igreja no terceiro milénio, e é-o na medida em que o Cristianismo como um todo se assume enquanto unidade na diversidade para renovar a face da terra. Neste sentido, a comunicação proferida pelo Dr. Marcos Faria, também membro do presbitério do Porto, acentuava a vocação batismal como substrato de um caminho feito em comum – assumir a identidade batismal é a tónica fundamental.
Em linha de continuidade, a perspetiva ecuménica traçada pelo Professor Doutor Borges de Pinho, foca as conquistas do diálogo ecuménico e desbrava caminhos ainda por percorrer. Não foi, pois, despropositado que, na tarde dessa quarta-feira, a Comissão Ecuménica do Porto partilhasse o trabalho realizado, contando com a intervenção do Padre Mário Henrique, coordenador da Comissão Diocesana para o Ecumenismo da Diocese do Porto, bem como de Sérgio Alves da Igreja Lusitana e Sifredo Teixeira da Igreja Metodista.
A hospitalidade como marca fundamental de uma Igreja em saída e simultaneamente de “braços abertos” foi, por sua vez, sublinhada pelo Doutor João Alberto Correia que a fundamentou a partir das raízes neotestamentárias, corroboradas pela leitura patrística que bem sintetizou o Doutor Alexandre Freire Duarte. Finalmente, como Igreja universal, o Professor Doutor Gilles Routhier da Universidade de Laval no Québec (Canadá) acentuou, na senda do pensamento do Papa Francisco, uma «Igreja de rosto humano».
«Um cristão não nasce, um cristão faz-se». Esta frase de Tertuliano poderia, nas palavras do Professor Doutor Abel Rodrigues Canavarro, sintetizar o processo de adesão à fé de que o Batismo é porta. Uma fé que se «cultiva na reflexão e oração, celebra-se na vida da Igreja e vive-se na comunidade e no testemunho». Potenciando o passar de uma Pastoral de ações a uma Pastoral da escuta: «o Amor é criativo e abre caminhos!».