Comunicação Social, uma inquietação do Papa Francisco atento aos dramas do mundo

Foto: João Lopes Cardoso

Por M. Correia Fernandes

É bem conhecido o pendor de atenção do Papa Francisco em relação aos problemas das pessoas e da sociedade de hoje, procurando analisá-los criticamente e formular para eles propostas de inspiração evangélica.

Reparo numa de 10 mensagens que a Direção Geral de Saúde divulgou para ajudar a fazer frente ao drama do isolamento por causa da pandemia. Diz assim: “Reduza a consulta de informação sobre a pandemia para apenas uma ou duas vezes por dia, em fontes de informação credíveis e atualizadas”.

Que tem isto e ver com a Mensagem do Papa para o Dia das Comunicações Sociais?

Na sua mensagem, já aqui abordada, existe esta reflexão, esta verificação: “Há tempo que nos demos conta de como as notícias e até as imagens sejam facilmente manipuláveis, por infinitos motivos, às vezes por um banal narcisismo. Uma tal consciência crítica impele-nos, não a demonizar o instrumento, mas a uma maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos. Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar”.

Esta posição insere-se na proposta papal para que quem informa acompanhe, esteja por dentro dos acontecimentos, e tenha em relação a eles uma atitude de presença e de verdade, a capacidade de ir aonde mais ninguém vai… “Uma curiosidade, uma abertura, uma paixão”.

A verificação da Direção Geral de Saúde afirma a consciência de que, em relação a este assunto tão delicado e cheio de profundas implicações na vivência de um humanismo equilibrado, nos deparamos com um universo de falsidades interesseiras ou exibicionistas.

Ressalta a importância de estar atentos a este fenómeno, que as dificuldades da atual situação de confinamento e ausência de um relacionamento pessoal responsável e digno. Na escolha das notícias divulgadas busca-se mais o sensacionalismo que a verdade; mais a criação de conflitos entre pessoas, grupos, responsáveis e decisores, do que no serviço do bem comum, de ir ao encontro dos mais débeis e mais “de risco”.

A advertência da Direção geral de Saúde, fundada em razões psicológicas, tem também que ver com motivações éticas e morais. Como afirma a mensagem, “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico, de manter uma ‘dupla contabilidade’”. Por isso, propostas como reforçar as relações com familiares e amigos, valorizar os afectos, cuidar uns dos outros, são valores éticos a desenvolver, não apenas em tempo de pandemia, mas em todas as circunstâncias da vida.

E nesta dramática circunstância, há que valorizar o optimismo e a esperança. Optimismo significa o esforço realista e atento de superação; a esperança deve ter fundamento na fé e na vivência do espírito evangélico, nos seus essenciais valores humanos.

Sabemos que não se pode falar de espírito evangélico no seio das palavras dos discursos políticos. Mas é aí que também ele faz falta. E se ele aí estivesse, mesmo que débil ou disfarçado, os lemas e ideias da sociedade encontrariam mais cominhos de colaboração que de oposição, mais de construção que de crítica, tantas vezes superficial e infundada.

Vamos substituir as “insídias na web”, o fluxo contínuo de imagens e testemunhos, de que fala a Mensagem, em verdadeiras oportunidades de conhecimento e de sabedoria:

“Há mais de dois mil anos que uma corrente de encontros comunica o fascínio da aventura cristã. Por isso, o desafio que nos espera é o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são”.