
14 de Fevereiro de 2021
Indicação das leituras
Leitura do Livro do Levítico Lev 13,1-2.44-46
«Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento».
Salmo Responsorial Salmo 31 (32)
Sois o meu refúgio, Senhor; dai-me a alegria da vossa salvação.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 10,31-11,1
«Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo».
Aclamação ao Evangelho Lc 7,16
Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 1,40-45
«Se quiseres, podes curar-me».
«No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo».
«Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade».
Viver a Palavra
Ao ler os textos que a Liturgia da Palavra deste Domingo nos propõe, recordei-me de um episódio narrado pelo Padre Ermes Ronchi numa visita a um leprosário na Amazónia. Quando estavam na Eucaristia e cada um colocava as suas intenções, um dos leprosos pediu o seguinte: «peçamos ao Senhor que ajude o padre Ermes, porque na Europa é muito difícil manter a fé». O padre Ermes não conseguiu ficar indiferente àquele homem que ao invés de pedir por si próprio, pediu pela Europa e pela evangelização que ele era chamado a fazer. Curioso com a fé daquele homem, no final da Eucaristia foi falar com ele e perguntou-lhe: «quando te encontrares com o Senhor, vais perguntar-lhe por que razão eras leproso?» e eles respondeu-lhe: «não lhe vou perguntar nada porque sempre confiei Nele».
Surpreendentemente, os tempos difíceis e exigentes de provação e doença são muitas vezes uma ocasião para renovar a confiança em Deus e encontrar um sentido para a vida. A doença que atingia aquele homem não era capaz de lhe retirar a sua fé nem fazer vacilar a confiança que depositava em Deus. Sabemos que este processo não é imediato e muitas vezes requer um caminho de aprofundamento e amadurecimento da fé.
O leproso que se abeira de Jesus no Evangelho deste Domingo acredita que Jesus o pode curar: «Se quiseres, podes curar-me». Contudo, aquele homem é ainda um aprendiz na arte de compreender a vontade de Deus e acredita que essa pode não ser a Sua vontade. Creio que muitas vezes também nós estamos ainda longe de compreender que a vontade de Deus a nosso respeito é algo de bom e de belo, que Deus nos ama e quer o nosso bem. Recordo que na minha infância me surpreendia ouvir, diante da morte de alguém que partir inesperadamente ou até vítima de uma catástrofe: «foi a vontade de Deus». A vontade de Deus não pode ser o bode expiatório para aquilo que não compreendemos e, na verdade, como afirma S. Paulo a vontade de Deus é «que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade».
Jesus quer que aquele homem se cure e, mais do que isso, fá-lo voltar ao convívio social. Como escutamos na primeira leitura aquele que contraía a lepra devia afastar-se e ficar isolado de todos. Com Jesus aquele homem restabelece a saúde do corpo e integra-se de novo na vida social.
Se as marcas da lepra o faziam afastar-se de todos, a marca que Jesus deixou na vida daquele homem fazem-no partir para comunicar a todos o que Jesus lhe fez. O encontro com Jesus gera uma felicidade que é de tal modo transbordante que nos impele a partir para levar a todos a força transformadora do Seu amor.
Deste modo, a acção missionária da Igreja só será verdadeiramente frutuosa e fecunda quando estiver revestida desta alegria libertadora que Jesus oferece. Quando anunciamos Jesus não somos meramente portadores de uma doutrina ou moral, mas comunicamos a vida de Jesus, que está vivo e que se faz presente e actuante na história. Por isso, aquilo que temos para comunicar não é algo exterior a nós, mas a experiência alegre e libertadora que fizemos Dele: «todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros» (EG 121).
Homiliário patrístico
Do Tratado de Santo Ambrósio, bispo,
sobre Caim e Abel (Séc. IV)
Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre os teus votos para com o Altíssimo. Louva a Deus quem Lhe faz um voto e o cumpre. Por isso se nos dá como exemplo aquele samaritano que, uma vez curado da lepra juntamente com os outros nove leprosos por intervenção do Senhor, foi o único que voltou à presença de Cristo, louvando e dando graças a Deus. Dele disse Jesus: Não houve quem voltasse a dar graças a Deus senão este estrangeiro? E a ele disse: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.
No seu ensinamento divino, o Senhor Jesus mostrou-te, por um lado, a bondade de Deus Pai e, por outro, a conveniência de orar com intensidade e frequência: mostrou-te a bondade do Pai que sabe conceder boas dádivas, para que aprendas a pedir bens Àquele que é o sumo bem; e mostrou-te a conveniência de orar com intensidade e frequência, não para que repitas sem cessar e mecanicamente as orações, mas para que adquiras o verdadeiro espírito da oração assídua. De facto, muitas vezes as longas orações vão acompanhadas de vanglória e, por outro lado, a falta de assiduidade na oração é sinal evidente de negligência.
Também te é dito que deves orar principalmente pelo povo de Deus, isto é, por todo o corpo e por todos os membros da Igreja tua mãe, que é o sacramento da caridade. Se oras só por ti, serás o único a orar por ti. E se cada um reza apenas por si mesmo, a graça do pecador será menor que a do intercessor. Mas se cada um ora por todos, oram todos por cada um. Assim, portanto, para concluir, se rezares somente por ti, ficarás, como dissemos, isolado na tua oração. Mas se rezares por todos, todos rezarão por ti.
Indicações litúrgico-pastorais
- No dia 17 de Fevereiro, com a celebração da Quarta-feira de Cinzas daremos início ao sagrado tempo da Quaresma. O Irmão Roger, fundador da comunidade de Taizé, recordava em cada ano aos seus irmãos que a Quaresma é «tempo de cantar a alegria do perdão». Esta consciência deve animar a vida das comunidades cristãs e ajudar a preparar os fiéis para viverem o tempo quaresmal como oportunidade de conversão e proposta alegre de renovação de vida. Os três exercícios espirituais próprios da Quaresma – oração, jejum e esmola – devem ser propostos em cada ano com renovada criatividade para levar a uma renovada prática. Aguardando a mensagem do Papa para este dia e a habitual proposta diocesana, devem pensar-se itinerários que ajudem os fiéis a viver melhor este tempo.
- Para os leitores: na primeira leitura, é necessário ter em atenção as diversas frases em discurso directo, bem como as frases que as introduzem. Além disso, deve ter-se em conta a correcta pronunciação das palavras menos usuais como: «esbranquiçada» e «andrajoso». A brevidade da segunda leitura não deve fazer descurar a preparação do texto. Deve ter-se em atenção o tom exortativo do texto.
Sugestões de cânticos:
Entrada: Sede a rocha do meu refúgio – M. Simões (CN 903); Salmo Responsorial: Sois para mim refúgio (Sl 31) – M. Luís (SRML, p. 2014-215); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Apareceu entre nós um grande profeta – A. Cartageno (CN 49); Ofertório: Por vossa imensa bondade – A. Cartageno (CN 813); Comunhão: Deus amou de tal modo o mundo – M. Luís (CN 351); Pós-Comunhão: Louvai, louvai o Senhor – F. Silva (CN 593); Final: Cantai ao Senhor, cantai – M. Silva (CN 276).