Opinião: o “ecossistema de Francisco”

Por Joaquim Armindo

Se chamarmos à exortação apostólica “Querida Amazónia”, “Querido Mundo” ou “Querida Igreja”, poderemos desenhar os “sonhos”, do bispo de Roma, papa Francisco, da seguinte forma: “Sonho com uma [Igreja] que lute pelo direito dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e a sua dignidade promovida. Sonho com uma [Igreja] que persevere a riqueza cultural que a carateriza e na qual brilhe de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma [Igreja] que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo, que deem à Igreja rostos de cada lugar.” Este foi o exercício proposto pelo Dr. Juan Ambrósio, da Universidade Católica, nas Jornadas de Formação Permanente da Diocese de Coimbra e que nos leva a pensar que afinal esta “Querida Amazónia” é um sonho para o mundo, e não para uma área concreta que se chama Amazónia.

Nesta importante jornada de formação, transmitida on-line, sob o tema “Vós sois Todos Irmãos – Uma leitura da “Fratelli Tutti”, Juan referia aquilo que chamou o “ecossistema de Francisco”, conjugando a “Evangelho Gaudium”, a “Laudato Si`”, a “Fratelli Tutti” e a exortação pós-sinodal “Querida Amazónia”, como sendo uma “Conversão Pastoral (E.G.)”, uma “Conversão Ecológica” (LS)” e uma “Conversão Sinodal” (FT), enfatizando que a LS não é nada de só “verde”, mas vai muito mais longe, que é o “cuidado da Casa Comum” e tal se verifica nas suas variadas vertentes: Ecologia Económica, Ecologia Social, Ecologia Ambiental e Ecologia Cultural. Diria também que refletir a “Fratelli Tutti” em si, não constitui o legado de Francisco, porque ela decorre dos outros três documentos, um dos quais é uma exortação pós-sinodal. O “sabor” de todo este património de Francisco é o do Evangelho, Evangelho que assenta numa transformação da Igreja.

A sinodalidade e a, consequente, corresponsabilidade dotará a Igreja de uma transformação necessária, nas suas leituras e práticas, até porque a tradição – a que tantos se agarram-, é como um rio, cujas águas na nascente têm uma análise das suas componentes, mas no decorrer do rio até ao mar, as análises que se fazem contêm outros valores, que vão corrigindo o sabor da água e a sua decorrente salubridade, por isso não é estática, mas possui essa necessidade dinâmica do sabor do Evangelho, em cada cultura, em cada povo.

Mas, também, possui, o ecossistema de Francisco, esta caraterística de verter no seu pensamento outras tradições religiosas, o que é caraterizador de falar à Humanidade e ao Cosmos, numa atitude de transformação ecuménica.