
Portugal vive um momento de enorme dificuldade. A cada semana que passa aumentam os mortos e os infetados por covid-19. Os hospitais estão no limite. Os profissionais de saúde também. O país está em confinamento geral. Vive-se na incerteza e no sofrimento.
Por Rui Saraiva
Sábado, 23 de janeiro de 2021, 07.38h. Fixo a data e a hora. E escrevo. O que aqui transformo em texto tem momento concreto e poderá ter novas atualizações. Em princípio negativas. Porque os acontecimentos e os dados estão sempre em desenvolvimento numa evolução cada vez mais surpreendente. Em menos de um ano Portugal vive o segundo confinamento geral nesta pandemia. Alargo o olhar e leio as mais recentes atualizações informativas sobre a covid-19:
– o site da Rádio Renascença na sua atualização das 21.06h do dia 22 de janeiro diz-nos que “Portugal já é o país com mais mortes por milhão de habitantes” por covid-19. E completa a informação: “Até esta quinta-feira, o Reino Unido liderava o ranking. Agora, Portugal lidera em número de óbitos e novas infeções pelo novo coronavírus por milhão de habitantes.” Mortos, só no sexta-feira 21 de janeiro, foram registados 234. Um novo máximo. Mas a versão online da Emissora Católica não fica por aqui e informa que “Portugal é o país da UE com média mais alta de casos Covid por milhão de habitantes”;
– o site do jornal Público, por sua vez, em peça publicada pelas 22.16h de 21 de janeiro revela que, segundo o Centro Europeu de Controlo de Doenças, o aumento de casos em Portugal está ligado ao relaxamento no Natal e à variante inglesa do vírus; O mesmo jornal informa haver um “comboio de ambulâncias” à porta do Hospital Santa Maria em Lisboa.
Da leitura destes dois órgãos de comunicação social fica claro que vivemos um momento de grande sofrimento e de dor a nível nacional.
Confinamento geral com escolas encerradas
A 13 de janeiro foi decidido um novo confinamento geral em Portugal. Mas, devido à enorme gravidade da situação pandémica no país, o Governo de António Costa avançou com novas medidas restritivas a 18 de janeiro. Em particular, aprovou a proibição de circulação entre concelhos aos fins-de-semana e determinou que todos os estabelecimentos de bens e serviços abertos ao público encerram às 20h nos dias úteis e às 13h aos fins-de-semana e feriados. O retalho alimentar poderá funcionar aos fins-de-semana até às 17 horas.
Entretanto, devido “ao agravamento da situação da pandemia da doença Covid-19” numa evolução galopante de casos, o Conselho de Ministros de quinta-feira, 21 de janeiro de 2021, decidiu suspender as “atividades letivas e não letivas e de apoio social, a partir de 22 de janeiro e pelo período de 15 dias”.
Esta suspensão por 15 dias compreende: “as atividades letivas e não letivas e formativas em estabelecimentos de ensino públicos, particulares e cooperativos e do setor social e solidário de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário; as atividades de apoio à primeira infância de creches, creche familiar e amas, as atividades de apoio social desenvolvidas em Centro de Atividades Ocupacionais, Centro de Dia, Centros de Convívio, Centro de Atividades de Tempos Livres e universidades seniores” – pode-se ler no Comunicado do Conselho de Ministros.
O Governo decidiu também encerrar “todas as atividades de tempos livres, todos os estabelecimentos de dança e de música, bem como as atividades desportivas escolares”. Também foram suspensas as “atividades de formação profissional desenvolvidas em regime presencial realizadas por entidades formadoras de natureza pública, privada, cooperativa ou social”. Estas a título excecional podem ser substituídas “por formação no regime à distância, sempre que estiverem reunidas condições”.
Para os pais e encarregados de educação “foi aprovado um decreto-lei que cria um regime excecional e temporário de faltas justificadas motivadas por assistência à família decorrentes da suspensão das atividades letivas e não letivas, no âmbito da pandemia da doença covid-19”. A este propósito, o comunicado do Conselho de Ministros de 21 de janeiro informa que “são consideradas faltas justificadas, sem perda de direitos salvo quanto à retribuição, as faltas ao trabalho motivadas por assistência inadiável a filho ou outro dependente a cargo menor de 12 anos, ou, independentemente da idade, com deficiência ou doença crónica”.
Ainda no âmbito da suspensão das atividades letivas e não letivas, foram adotadas “as medidas necessárias para a prestação de apoios alimentares” a alunos que beneficiem da ação social escolar.
Conferência Episcopal suspende celebrações públicas
Perante a evolução da pandemia nas últimas semanas, na quinta-feira, dia 21 de janeiro, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) decidiu a “suspensão da celebração ‘pública’ da Eucaristia a partir de 23 de janeiro de 2021”. Através de um comunicado, os bispos portugueses tomaram também a decisão de suspender “catequeses e outras atividades pastorais que impliquem contacto”.
Estas decisões são tomadas devido à “extrema gravidade da situação pandémica que estamos a viver no nosso País” – refere o texto salientando ser um “imperativo moral” observar “o máximo de precauções sanitárias para evitar contágios, contribuindo para ultrapassar esta situação”.
A CEP sublinha que “estas medidas devem ser complementadas com as possíveis ofertas celebrativas, transmitidas em direto por via digital”. Entretanto, “as exéquias cristãs devem ser celebradas de acordo com as orientações da Conferência Episcopal de 8 de maio de 2020 e das autoridades competentes” – pode-se ler no comunicado que realça o facto de que “as Dioceses das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira darão orientações próprias”.
Os bispos dedicam uma palavra especial para “quantos, na linha da frente dos hospitais e em todo o sistema de saúde, continuam a lutar com extrema dedicação para salvar as vidas em risco”. “Que Deus abençoe este inestimável testemunho de humanidade e generosidade e que eles possam contar com a solidariedade coerente e responsável de todos os cidadãos, a fim de que, com a colaboração de todos, possamos superar esta gravíssima crise e construir um mundo mais solidário, fraterno e responsável” – escrevem.
“Pedimos que, a nível individual, nas famílias e nas comunidades, se mantenha uma atitude de constante oração a Deus pelas vítimas mortais da pandemia, pedindo ao Senhor da Vida que os acolha nos seus braços misericordiosos, e manifestamos o nosso apoio fraterno aos seus familiares em luto” – conclui a nota.