Pandemia e Esperança

Foto: Nicola Fossella /ESA

Texto publicado a 20 de janeiro na edição em papel de Voz Portucalense e escrito antes do reforço de medidas do Governo de 18 de janeiro no âmbito da pandemia de covid-19.

Por Lino Maia 

Antes das festas da quadra natalícia, verificava-se   uma tendência de descida da epidemia de COVID-19 em Portugal. Tendência, porém, que não se consolidou. Pelo contrário: confrontamo-nos agora com um muito significativo aumento de contágios diários e com um número de óbitos diários bem superior ao que temíamos. Sobretudo na comunidade. Não tanto, porém, nos Lares de Idosos (do Sector Social Solidário, lucrativos ou não legalizados) e nos Lares Residenciais (de pessoas com deficiência), onde se, em 31 de Dezembro, no conjunto de mais de 3.500 Lares, havia 321 surtos ativos, agora somam-se-lhes “somente” mais 12 (regista-se um surto quando há 2 ou mais pacientes).

Para controlar o agravamento da situação pandémica o Governo apresentou um conjunto de medidas para Portugal regressar ao “dever de recolhimento domiciliário”, tal como em março e em abril. As escolas, porém, vão manter-se “em pleno funcionamento” – e esta é, talvez, a “nova e relevante exceção”. Em avaliação está a possibilidade de manter abertos os Centros de Atividades de Tempos Livres (ATL), que auxiliam na “escola a tempo inteiro” e apoiam as famílias. Estando os Centros de Dia a funcionar com menor expressão nas atuais circunstâncias, eles manter-se abertos – a não ser que, local e pontualmente, algo seja resolvido em sentido contrário. Asseguradas e mantidas as condições de segurança, as visitas aos idosos nos Lares também poderão continuar, mas com moderação.

No meio de uma assustadora pandemia, a vacinação é a única janela de esperança que já se abriu. Depois de, no dia 27 de dezembro, ter começado pelos profissionais ligados à saúde, no dia 4 de janeiro, na Casa do Idoso de S. José das Matas, no concelho de Mação, uma senhora com 100 anos, foi vacinada. Entre utentes e colaboradores, de um primeiro conjunto de Lares dos 25 concelhos com o risco de contágio altamente elevado, foi a primeira a ser vacinada. Naquela semana outras 12.000 se lhe seguiram. Na 2ª semana de janeiro mais 20.000 pessoas de um segundo conjunto de mais 59 concelhos com risco de contágio muito elevado do espaço continental também foram vacinadas – nas regiões autónomas o processo decorre com alguma autonomia. E nesta terceira semana os Lares de muitos mais concelhos receberão as vacinas – para trás ficarão aqueles em que se verificarem surtos.

Assim se está a dar cumprimento ao plano de vacinação, estabelecido em três fases. Numa primeira fase, em curso, deveriam ser vacinadas cerca de 950 mil pessoas. O grupo prioritário é o das pessoas com 50 ou mais anos e com patologias associadas, profissionais e residentes em lares e unidades de cuidados continuados, profissionais de saúde que prestem cuidados diretos no âmbito da pandemia e forças de segurança.

A seguir, numa segunda fase, será dada prioridade a pessoas com mais de 65 anos sem patologias associadas e pessoas com mais de 50 anos, mas com outras doenças associadas, como diabetes, neoplasias, entre outras, estimando-se que sejam abrangidos cerca de 1,8 milhões de cidadãos.

A terceira fase englobará o resto da população.

Recorda-se que a vacinação prevê duas tomas intervaladas por três semanas, pelo que nesta terceira semana de janeiro começarão a receber a segunda toma as primeiras pessoas vacinadas ainda em dezembro.

A vacinação é universal, gratuita e facultativa. Mas, como diz o Papa Francisco, “eticamente todos devem receber a vacina: é uma opção ética, porque está em causa a tua saúde, a tua vida, mas também a vida de outros”. A imunidade de grupo, porém, não será alcançada antes do curso do segundo semestre do ano.

Entretanto, não se pode baixar a guarda: apesar de estar a decorrer a vacinação, é imperioso respeitar todas as recomendações da Direção Geral de Saúde e adotar todos os cuidados, no que a Igreja e as Instituições de Solidariedade têm sido exemplares.