
Com data de Domingo 13 de fevereiro de 1921 publicava-se o primeiro número do “Semanario da Diocese do Porto” com o título A Voz do Pastor. Este título manteve-se até dezembro de 1969, sendo depois, com data de 3 de janeiro de 1970, continuado com o título de Voz Portucalense, que até hoje mantém. Somos por isso sucessores de um jornal centenário.
O cabeçalho que acompanhava o título apresentava, sobre uma cruz estilizada, a imagem de um livro em cuja capa, e sobre uma simbologia de referencia eucarística, com uma pena, estava escrito “Tolle, Lege!” (Toma, Lê!). O Diretor era Dr. A. Bernardo da Silva, o Administrador e Editor era P.e Adriano Moreira Martins. A Redação a Administração situava-se na Rua Passos Manuel, 54 (atual sede da Associação Católica) com Composição e impressão da Tip. da “Officina de S. José” (na rua Alexandre Herculano, junto às Fontainhas).
O editorial começa assim: “Na sala do throno do Paço da Torre da Marca, reuniram-se algumas vezes, sob a presidência do nosso venerando Prelado, os sacerdotes incumbidos tanto da parte literária como da parte administrativa d’esta publicação… Era preciso traçar um plano de trabalho, que désse á Voz do Pastor vida e futuro”. Era preciso congregar aptidões, destribuir tarefas e assegurar recursos Era preciso pôr a circular um jornal, que grangeasse rapidamente sympatias, dedicações e bemquerenças. Ansiava ainda: “É muito para desejar o próximo apparecimento d’um novo diário catholico. Muito!”. A Voz do Pastor! Voz que chama e atrae e prende e salva; a voz da autoridade, da sabedoria, do amor e da experiencia; voz que ensina e desperta e exhorta e encaminha”…
O “venerando Prelado” era na altura D. António Barbosa Leão (1860-1929). Os espaços de funcionamento e trabalho eram espaços da diocese; os responsáveis eram sacerdotes diocesanos. A imagem da capa apresentava biblicamente o Bom Pastor. No conteúdo informativo encontravam-se “Reflexões”, “Consultorio do Pôvo”, Secção Catec histica” e crónicas religiosas de diversos países e um decreto que atualizava as taxas eclesiásticas.
Já na altura se lamentava que “a demora no pagamento ocasiona grandes transtornos” e “a cobrança pelo correio grande trabalho e despeza”. No início de 1922 noticiava-se a morte do papa Bento XV. Entretanto mudara o administrador: passou a ser o P. Joaquim Esteves Loureiro.
Este título, A Voz do Pastor, permaneceu ao longo de quase 49 anos, como semanário da Diocese do Porto, com sucessivas novas direções, de que lembramos os Padres Domingos e José da Costa Maia. O regresso do exílio do Prelado D. António Ferreira Gomes, ocorrido em Julho de 1969, conduziu à reformulação do semanário diocesano, tanto no seu título, como enquanto modelo informativo e formativo, segundo conceitos mais atuais de jornalismo e de temática pastoral.
No último número, de 27 de dezembro de 1969, assinava o Director de “A voz do Pastor”: “É em espírito de serviço que depomos o mandato nas mãos do Chefe do Corpo eclesial portucalense”, apresentando na foto de 1.ª página: “No 1.º grande encontro Diocesano, o Senhor Bispo do Porto fala ao seu clero”, no espaço da Biblioteca do Seminário Maior.
O projeto do Prelado para a renovação do semanário diocesano estava expresso nas suas palavras fundadoras: “Semanário diocesano, somos uma instituição; respondemos pelo nosso passado, assumimos a nossa herança, méritos e deméritos… Queremos ser a voz autêntica da Igreja portucalense, a voz desta Igreja pós-conciliar, Igreja em diálogo…, Igreja “sacramento do diálogo”… , a Voz da Igreja do Porto, da sua tradição e do seu futuro”.
O projeto editorial do Diretor, M. Álvaro V. de Madureira, “VP é um jornal de inspiração cristã, aberto a todos os homens de boa vontade”. Cuja missão era e continua a ser “construir uma sociedade cada vez mais justa”, nas palavras do seu ideário.
E aqui estamos nós, à distância de quase cem anos de A Voz do Pastor, e no 52.º ano desta Voz Portucalense, após muitas vicissitudes e no seio concreto e misterioso das dificuldades e esperanças do tempo presente, usufruindo por certo de novas potencialidades técnicas, a publicar o semanário diocesano com o mesmo empenho dos seus fundadores.
Queremos agradecer aos assinantes e leitores o apoio com que têm acarinhado o semanário da Diocese, nas palavras e nos gestos. Queremos que ele seja, com a voz do pastor (que desde o seu início são já seis), que sempre acolheu, a voz da igreja diocesana, enraizada e integrada nas vicissitudes do país e do mundo.