
17 de Janeiro de 2021
Leitura do Primeiro Livro de Samuel 1 Sam 3,3b-10.19
«Falai, Senhor, que o vosso servo escuta».
Salmo Responsorial Salmo 39 (40)
Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 6,13c-15a.17-20
«Não pertenceis a vós mesmos, porque fostes resgatados por grande preço: glorificai a Deus no vosso corpo».
Aclamação ao Evangelho cf. Jo 1,41.17b
Aleluia.
Encontrámos o Messias, que é Jesus Cristo.
Por Ele nos veio a graça e a verdade.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João Jo 1,35-42
«Estava João Baptista com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus».
«Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?».
Viver a Palavra
O exercício da escuta é uma arte exigente e tanto mais árdua quanto maior é o número de vozes e interpelações que nos assaltam diariamente. Vivemos rodeados de meios de informação e ferramentas que nos colocam em diálogo e relação com inúmeras pessoas ao longo do dia. Este turbilhão de solicitações e interpelações provocam a nossa capacidade de escuta e de atenção na relação com quantos se cruzam no nosso caminho.
Quantas vezes já desejamos que o telemóvel não chamasse ou que a campainha não tocasse! Escutar é uma arte exigente e muitas vezes o frenesim quotidiano impede-nos de cultivar uma atitude de disponibilidade para a escuta. Contudo, como afirma Bernard Häring «quem não sabe escutar não pode falar com a esperança de ser ouvido». O verdadeiro diálogo pressupõe a capacidade de falar com liberdade e escutar com humildade: falar com a liberdade de quem procura dizer a palavra certa e apropriada para aquele momento e escutar com a humildade de quem não sabe tudo e quer aprender e crescer no confronto com o outro.
Escutar o outro é também a porta para chegarmos ao totalmente Outro que dá sentido à nossa existência. A arte da escuta e o discernimento que ela exige conduz-nos ao encontro com o Deus revelado em Jesus Cristo, pois a nossa carne humana é lugar de manifestação e revelação de Deus. Contudo, como Samuel precisamos de exercitar a capacidade de escuta e descobrir, na presença daqueles que Deus coloca na nossa vida, uma ajuda para um discernimento mais assertivo e eficaz. Heli torna-se o facilitador da relação de Samuel com Deus, pois «Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor».
Ajudado por Heli a distinguir a voz de Deus entre tantas vozes, Samuel aprende a arte de criar disponibilidade para acolher a palavra de Deus: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». Esta atitude de disponibilidade conduz Samuel a contemplar as maravilhas de Deus e a fazer a experiência de um Deus que o ajuda a crescer e a contemplar como a Sua palavra é performativa e operativa no tempo e na história.
O nosso tempo precisa de homens e mulheres que como Heli nos educam para a arte de criar disponibilidade para escutar a voz de Deus e que como João Baptista nos apontem o caminho que nos conduz ao encontro único e decisivo com Jesus Cristo.
João Baptista consciente da sua missão de percursor, vendo Jesus a passar, não hesita em indicar aos seus discípulos o «Cordeiro de Deus». Esta liberdade de coração e de vida é fundamental na arte de acompanhar e revela-nos a verdadeira identidade cristã: viver a alegria do encontro com Jesus apontando aos outros Aquele que pode oferecer a verdadeira felicidade e a verdadeira vida.
Cada um de nós, ao longo do seu percurso, encontrou pessoas que como João Baptista nos apontaram o caminho de Jesus. Contudo, foi necessário a experiência pessoal, única e irrepetível – «Vinde ver» – para que se pudesse construir uma verdadeira e autêntica relação com Jesus Cristo.
Esta experiência única e irrepetível não nos permite ficar encerrados e abre-nos à partilha e comunicação da alegria maior que o nosso coração não pode conter. É o verdadeiro dinamismo da evangelização! Um coração verdadeiramente evangelizado contagia outros e conduz os outros a Jesus e ao Seu Evangelho. Aqui encontramos também a natureza eclesial da evangelização: a Igreja é um Povo que caminha na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo (LG 4). Ainda que o acto de acreditar seja pessoal, ninguém acredita sozinho e o acto de fé em Jesus Cristo abre-nos à comunhão da Igreja.
Homiliário patrístico
Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo, sobre o Evangelho de São João (Séc. IV)
André, depois de permanecer com Jesus e de aprender muitas coisas que Jesus tinha ensinado, não escondeu o tesouro só para si, mas correu pressuroso à busca de seu irmão para o tornar participante da sua descoberta. Repara no que diz a seu irmão: Encontrámos o Messias (que significa Cristo). Vês de que modo manifesta tudo o que tinha aprendido em tão pouco tempo? Com efeito, por um lado manifesta o poder do Mestre que os tinha convencido desta verdade, e por outro lado manifesta o interesse e a diligência dos discípulos que desde o princípio se preocupavam em comunicar estas coisas. São as palavras de uma alma que deseja ardentemente a sua vinda, que espera Aquele que havia de vir do Céu, que exulta de alegria quando Ele Se manifestou e se apressa a comunicar aos outros tão grande notícia. A comunicação mútua das coisas espirituais é sinal de amor fraterno, de parentesco amigo e de afecto sincero.
Repara também na docilidade e prontidão de espírito de Pedro. Acorre imediatamente: E levou-o a Jesus, afirma o Evangelho. Ninguém o acuse de leviandade por aceitar o anúncio sem uma longa reflexão. O mais provável é que seu irmão lhe contasse pormenorizadamente mais coisas, pois os evangelistas resumem muitas vezes os factos, por razões de brevidade. Além disso, não afirma que tivesse acreditado imediatamente, mas sim que o levou a Jesus e a Ele o confiou, para que aprendesse do próprio Jesus todas as coisas.
Indicações litúrgico-pastorais
- No dia 18 de Janeiro tem início o Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos. O Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos em conjunto com a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas prepararam um subsídio para viver e celebrar esta semana. Este subsídio está disponível na página oficial do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos: http://www.christianunity.va/. O tema para este ano é «Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos (cf. João 15,5-9)». É importante sensibilizar as comunidades para este caminho da promoção da unidade dos cristãos e poderão organizar-se diversas iniciativas que ajudem a viver esta semana e a promover a consciência do caminho conjunto que os discípulos de Cristo são chamados a percorrer.
- Para os leitores: na primeira leitura, o leitor deve ter em atenção as diversas intervenções em discurso directo, articulando-as para uma eficaz proclamação do texto. Na segunda leitura, o leitor deve ter o cuidado de articular as diversas frases e orações com pausas e respirações, tendo em atenção o equilíbrio entre as frases mais longas e as muito curtas. Além disso, o leitor deve ter em atenção a proclamação das frases interrogativas, evitando acentuar apenas as palavras finais e tendo especial cuidado com a extensão da segunda interrogação.
Sugestões de cânticos
Entrada: Toda a terra Vos adore – F. Santos (BML 54| CEC II, p. 11-12); Salmo Responsorial: Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade (Sl 39) – M. Luís (SRML, p. 106-107); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Encontramos o Messias – M. Simões (CN 53); Ofertório: O templo de Deus é Santo – C. Silva (CN 750); Comunhão: O Cordeiro de Deus é o nosso Pastor – C. Silva (CN 674); Pós-Comunhão: Nós conhecemos e acreditamos – M. Carneiro (CVM, p. 114-116); Final: Povo teu somos, ó Senhor – L. Bourgeois (CN 821).