Neste Natal marcado pela covid-19, o Papa Francisco pediu vacinas para todos, atenção e solidariedade para com os mais frágeis e um clima de cooperação e não de concorrência. Porque somos “Todos irmãos”.
Por Rui Saraiva
A pandemia do novo coronavírus marcou fortemente as nossas vidas neste ano de 2020 e vai continuar a marcar em 2021. Por Covid-19 já morreram mais de 1 milhão e 700 mil pessoas e o número de infetados já ultrapassou os 80 milhões. Um grave problema sanitário que gerou perturbações económicas e sociais. Por estes dias vigora em muitos países o recolher obrigatório para as festas de final de ano.
Vacinas para todos
Ao tempo de pandemia se referiu o Papa Francisco, na sua Mensagem e Bênção Urbi et Orbi, na manhã de Natal, sublinhando que, não obstante as incertezas, há ”luzes de esperança” como por exemplo as vacinas.
“No Natal, celebramos a luz de Cristo que vem hoje ao mundo e Ele vem para todos: não só para alguns. Hoje, neste tempo de escuridão e incertezas pela pandemia, aparecem várias luzes de esperança, como a descoberta das vacinas” – assinalou o Papa.
O Santo Padre lançou o apelo de que as vacinas devem estar ao dispor de todos e não devem ser geridas em modo nacionalista.
“Mas para que estas luzes possam iluminar e levar esperança ao mundo inteiro, devem estar à disposição de todos. Não podemos deixar que os nacionalismos fechados nos impeçam de viver como uma verdadeira família humana que somos” – declarou.
Disponíveis e solidários com os frágeis
Francisco pediu cooperação e não concorrência: “Peço a todos, aos responsáveis dos Estados, das empresas, dos organismos internacionais, de promoverem a cooperação e não a concorrência” – frisou.
O Santo Padre na sua Mensagem lembrou a solidariedade necessária para com os mais frágeis neste tempo de pandemia, nomeadamente, os doentes e os desempregados e não esquecendo as mulheres vítimas de violência doméstica nos meses de confinamento.
“O Menino de Belém nos ajude a estar disponíveis, a ser generosos e solidários, especialmente para com as pessoas mais frágeis, os doentes e quantos neste tempo se encontram desempregados ou estão em graves dificuldades pelas consequências económicas da pandemia, bem como as mulheres que nestes meses de confinamento sofreram violências domésticas” – afirmou o Papa.
Precisamos mais do que nunca de fraternidade
Para o Papa Francisco vivemos um período especialmente difícil, no qual a pandemia de covid-19 veio agravar a crise ecológica e os problemas económicos e sociais. Um “momento histórico” onde a solução chama-se fraternidade – disse o Papa na sua Mensagem Urbi et Orbi.
“Neste momento histórico, marcado pela crise ecológica e por graves desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia do coronavírus, precisamos mais do que nunca de fraternidade. E Deus oferece-a, dando-nos o seu Filho Jesus: não uma fraternidade feita de palavras bonitas, ideais abstratos, vagos sentimentos… Não! Uma fraternidade baseada no amor real, capaz de encontrar o outro diferente de mim, de compadecer-me dos seus sofrimentos, aproximar-me e cuidar dele mesmo que não seja da minha família, da minha etnia, da minha religião; é diferente de mim, mas é filho de Deus meu irmão, é minha irmã. E isto é válido também nas relações entre os povos e as nações. Todos irmãos” – declarou o Santo Padre.
A fraternidade real proposta pelo Papa está bem definida na sua Encíclica “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”. Também para combater a pandemia de Covid-19. Tal como escreve Francisco logo no número 7 do seu documento, recordando que esta doença “irrompeu de forma inesperada” tendo deixado “a descoberto as nossas falsas seguranças”.
“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade” – afirma Francisco na sua Encíclica.
Neste barco estamos todos
Logo no início da pandemia naquela sexta-feira, 27 de março, numa Praça de S. Pedro vazia em Oração pelo Mundo, o Papa Francisco assinalou o valor da fraternidade, sublinhando que ninguém se salva sozinho.
Com o Santíssimo Sacramento nas mãos, Francisco deu a Bênção Urbi et Orbi e recordou o esforço daqueles que mais diretamente têm ajudado na luta contra a pandemia de coronavírus:
“…médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, cuidadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e tantos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.
Nessa oração plena de intensidade e significado, Francisco pediu para que convidássemos “Jesus a subir para o barco da nossa vida” para ativarmos “a solidariedade e a esperança”. Remando todos juntos porque estamos todos “no mesmo barco”.
“Como os discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. Neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer», assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos” – disse Francisco.
Este ano de 2020 conclui-se com as luzes de esperança da vacinação que iniciará a resolver o problema da pandemia do novo coronavírus. Essencial para o ano 2021 o apelo do Papa à vivência da fraternidade como real solução para os problemas da humanidade. Porque somos “Todos irmãos”.