
Por Fátima Malça
Devido ao terrível flagelo desta pandemia que caiu sobre o mundo e que tem obrigado à adoção de medidas restritivas da liberdade, forçosamente necessárias para impedir o seu vertiginoso alastramento, muitos vão perguntando, com alguma ansiedade, se, este ano, haverá Natal. Os que assim colocam a questão certamente que desconhecem a essência do verdadeiro Natal e o fundamento da sua existência porque, por maiores que sejam as contingências, haverá sempre Natal; a forma de o celebrar, tantas vezes superficial e descentralizada do Mistério que o envolve, o que desde há muito vem acontecendo, é que poderá e deverá ser alterada. Para muitos, este é um tempo de grande azáfama e de excessivo cansaço na preparação da festa da família que costuma reunir todos os membros nessa noite alumiada pelo luar da esperança. Nada a opor a esta tradição cheia de encanto e de ternura, mas o desgaste profundo a que isto obriga leva-nos, muitas vezes, a desviar a atenção do essencial para a fazer incidir sobre o que é secundário. E, como, infelizmente, se identifica o Natal com lautos banquetes, distribuição e troca de presentes e nada mais, daí a pertinência da pergunta sobre a celebração do Natal.
Num debate televisivo ocorrido, há dias, sobre esta quadra festiva, foram muito oportunas as palavras do Doutor Bagão Félix que, fazendo jus à sua condição de católico, não se inibiu de, sucintamente e com simplicidade, resumir o verdadeiro sentido do Natal: ”JESUS, o Menino Deus, descendo até nós.” De facto, Ele desce para que nós possamos subir, se trilharmos o caminho da felicidade que nos propõe.
Este ano, de uma forma especial, ecoa no nosso íntimo, um veemente apelo a uma solidariedade não só material mas também espiritual para as vítimas diretas ou indiretas deste inesperado e doloroso acontecimento.
São os que, a par do sofrimento físico, suportam a privação do carinho e do afeto de familiares e amigos!
São as lágrimas de tantos que choram a perda irreparável dos seus entes queridos!
São os profissionais de saúde que gastam as suas energias, até à exaustão, ao serviço dessa onda crescente de infetados!
E a todos os que, com alguma desilusão e tristeza, vão ainda perguntando se há Natal, gostaríamos de responder que o tempo que estamos atravessando é propício para sabermos abdicar dos encontros familiares, dos nossos gostos e até de outros legítimos prazeres para que, através das nossas renúncias, possamos ir ao encontro de todos esses que mais sofrem.
Então, o Menino, nascido em Belém, como Sol do eterno dia, iluminará os nossos caminhos e dissipará os nossos medos e angústias, acalmando “o sobressalto do nosso coração.”