Tempo de expectação

Na semana de 17 a 24 de dezembro emerge a primeira característica do Advento: «tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vin­da do Filho de Deus aos homens» (Nor­mas Gerais sobre o Ano Litúrgico…, 39). Na celebração quotidiana da Eucaristia, são determinantes os textos evangélicos escolhidos dos relatos da infância, segundo Mateus (dias 17 e 18: genealogia e “anunciação” a José) e Lucas (dias 19-24: anunciação a Zacarias e a Maria, Visitação, Magnificat, nascimento de João Batista e Benedictus).

Toda a história da salvação e o próprio cosmos são convocados nestes preparativos mas destacam-se as figuras envolvidas nos acontecimentos que antecedem proximamente o nascimento de Jesus, nascido de Maria, desposada com José, filho de David, filho de Abraão. São dias densos e belos de anúncios, de nascimentos precursores, de louvor e bênção. Quando, no nosso hemisfério norte, começa o Inverno (21 de dezembro), a Liturgia da Igreja propõe, como primeira opção, uma leitura do Cântico em que se afirma a evidência maior da graça: «já passou o inverno»! Desabrocham as flores, as aves cantam e fazem ninho, há perfumes e cânticos no ar. Maria é porta-voz do júbilo universal. E o pai do Precursor bendiz o Senhor que visitou e redimiu o seu povo com o seu amor misericordioso, fazendo surgir o Sol Nascente que vem dissipar as trevas da morte que envolviam a humanidade.

Os textos da Liturgia das Horas que melhor traduzem o carácter contemplativo e poético da oração da Igreja nestes dias encontram-se nas chamadas “antífonas do Ó”, que acompanham o Magnificat de Vésperas dos dias 17 ao 24 de Dezembro e que também se cantam como versículo da aclamação do Evangelho na celebração eucarística. Chamam-se do Ó por se iniciarem pela exclamação Ó: “Ó Sabedoria do Altíssimo” – Latim: O Sapientia… (17);  “Ó Chefe da Casa de Israel” – O Adonai et Dux domus Israel (18); “Ó Rebento da Raiz de Jessé” – O Radix Jesse (19); “Ó Chave da Casa de David” – O Clavis David (20); “Ó Sol Nascente” – O Oriens  (21); “Ó Rei da nações” – O Rex gentium (22); “Ó Emanuel” – O Emanuel (23).

Com esta prática litúrgica enlaça a festa da Expectação do Parto da Virgem Maria, celebrada em terras hispânicas desde o séc. VII (18 de dezembro) e que, precisamente pela sua associação com estas «antífonas maiores» de Advento, veio a ser designada, habitualmente, como festa de «Nossa Senhora do Ó». Esta é a mais bela imagem da Igreja em Advento, personificação ideal da sua subjetividade e modelo acabado da preparação que a participação no mistério da Incarnação requer. Tal como uma mulher que está para ser mãe anseia por ver o rosto do seu menino, assim a Igreja orante se dirige a Cristo fazendo suas as aspirações da humanidade de todos os tempos, invoca-o com os títulos messiânicos dos profetas e dos sábios de Israel e suplica com urgência e esperança: vem! Vem ensinar-nos, vem resgatar-nos, vem libertar-nos, vem salvar-nos, vem iluminar-nos, vem, não tardes mais! E esta instante prece é atendida: No latim, a primeira letra da palavra que se segue ao “Ó” da antífona configura um acróstico cuja “chave” só é dada no último dia, dado que ele se lê do fim para o princípio: ERO CRAS! Amanhã Estarei (aqui convosco)!

 

Calenda de Natal

Como em anos anteriores, sugerimos o canto ou proclamação solene da Calenda de Natal, no início da Missa da Noite ou noutra qualquer do Dia de Natal. O texto encontra-se no Martirológio Romano no dia 25 de dezembro (texto disponível com «link» para a pauta em www.liturgia.pt). Em 2020, o Natal ocorre na «lua décima» (10º dia do mês lunar). Se a Missa da noite for precedida de Vigília, a Calenda será o último elemento dessa Vigília, seguindo-se a Procissão de entrada da Missa, a qual prosseguirá com o canto do Glória (omitindo-se os demais ritos iniciais da Missa). Não havendo vigília antes da Missa, a calenda propõe-se nos ritos iniciais, no lugar da Introdução à Liturgia do dia. A Calenda poderá ser cantada ou proclamada do ambão, por um cantor, por um diácono ou presbítero. O presidente da celebração pode introduzi-la com uma monição de que damos um exemplo:

«Irmãos caríssimos: Neste dia de Natal ressoa o pregão dos anjos, hoje repetido pela Igreja em todo o mundo: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados». Vinde, adoremos o Salvador! Jesus Cristo é o centro do cosmos e da história. Era esperado por toda a humanidade. Por isso recordamos a história desta espera, o anúncio deste acontecimento de salvação» (segue-se o canto ou proclamação solene da Calenda).