
27 de Dezembro de 2020
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Ben-Sirá Sir 3,3-7.14-17a
«Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados, e acumula um tesouro quem honra sua mãe».
Salmo Responsorial Salmo 127 (128)
Ditosos os que temem o Senhor, ditosos os que seguem os seus caminhos.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses Col 3,12-21
«Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro».
Aclamação ao Evangelho Col 3,15a.16a
Aleluia.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 2,22-40
«Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor».
«O Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria».
Viver a Palavra
De olhos postos no Presépio de Belém, contemplamos Maria, José e o Menino: a Sagrada Família de Nazaré. O mistério da incarnação – evento, princípio e critério da revelação de Deus – não é apenas uma circunstância a partir da qual Deus se revela mas o modo que Deus escolheu para se manifestar e dar a conhecer.
«O Verbo fez-se carne e habitou no meio de nós» (Jo 1,14). A incarnação é um acontecimento fundamental através do qual Deus feito homem se dá a conhecer. Este acontecimento que marca indelevelmente e definitivamente a história constitui também o princípio a partir do qual Deus se relaciona com os homens e mulheres: Deus salva o homem através do homem e assumindo a nossa humanidade «por meio de palavras e gestos intimamente unidos entre si» (DV 2) revela o amor misericordioso do Pai. Deste modo, o mistério da incarnação é também chamado a ser critério para a nossa acção pastoral. Contemplando o Verbo feito carne, queremos fazer presente o evangelho no mundo, habitando cada cultura e cada tempo, transformando cada realidade humana para que possa ser elevada à plenitude do amor divino.
Deus quis que Jesus nascesse numa família e que assumindo a nossa natureza humana revelasse o lugar fundamental que a família ocupa no tempo e na história como célula fundamental da sociedade, lugar de afecto e relação e primeiro âmbito de socialização. Deste modo, no Domingo dentro da Oitava do Natal, somos convidados a contemplar a família de Nazaré para encontrar nela uma escola da arte de ser família e do modo de ser Igreja: «Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho» (Papa S. Paulo VI).
O evangelho deste Domingo situa-nos nos dias da purificação, em que, segundo a Lei de Moisés, o filho primogénito deve ser consagrado ao Senhor. Nas figuras de Simeão e Ana, que recebem Jesus no Templo, esta passagem evangélica apresenta-nos duas coordenadas fundamentais na arte de ser família cristã e também na arte de ser Igreja ao serviço do evangelho.
Simeão é descrito como «homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele». Este homem guiado e iluminado pelo Espírito que lhe tinha revelado que ele não morreria sem contemplar o Messias, acolhe Jesus em seus braços, bendizendo a Deus. Ele é figura da família e da Igreja chamada a viver guiada e iluminada pelo Espírito Santo e que dia após dia deve crescer na arte de acolher Jesus. A família, bem como a Igreja enquanto família das famílias cristãs, realizará plenamente a sua missão se for capaz de ser um lugar da presença de Jesus, um átrio de fraternidade e comunhão que vive alegre e jubilosamente a sua vocação.
Ana apresentada como uma mulher de «idade muito avançada» que «não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações», também está presente naquela ocasião e começou a louvar a Deus e a falar a todos daquele Menino e da esperança da libertação que Ele era portador. Deste modo, Ana é modelo para a família e para Igreja da arte de levar Jesus aos outros e proclamar a libertação que só a Sua presença no meio de nós pode oferecer.
Que cada família, iluminada e conduzida pelo Espírito Santo, saiba viver inspirada pelo exemplo da família de Nazaré e ao jeito de Simeão e Ana saibam reconhecer os sinais da presença de Jesus no tempo e na história e cresçam na arte de O levar aos irmãos, louvando, bendizendo e proclamando as maravilhas que só o Seu amor pode operar em nós.
Homiliário patrístico
Dos Sermões de São Sofrónio, bispo (Séc. VII)
Assim como a Virgem Mãe de Deus levou ao colo a luz verdadeira e a comunicou àqueles que jaziam nas trevas, assim também nós, iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, devemos acorrer pressurosos ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas: este é o significado do mistério que hoje celebramos. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir. Por isso, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Todos nós, portanto, irmãos, deixemo-nos iluminar, para que brilhe em nós esta luz verdadeira. Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, com efeito, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence a nós, que somos o novo Israel; e nós próprios, graças a Ele, vimos essa salvação e fomos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa, tal como Simeão, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente. Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que vem de Belém, nos convertemos de pagãos em povo de Deus (Jesus é com efeito a Salvação de Deus Pai) e vemos com os nossos próprios olhos Deus feito carne; e porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer, nos braços do nosso espírito, nos chamamos novo Israel. Com esta festa celebramos cada ano de novo essa presença, que nunca esquecemos.
Indicações litúrgico-pastorais
- Nesta celebração pode fazer-se a bênção das famílias, rezarem uma oração por todas as famílias ou, porventura, uma consagração de todas as famílias da paróquia à Sagrada Família. Nesta celebração, poderá fazer-se uma menção especial aos casais que ao longo deste ano cumpriram jubileus matrimoniais. A criatividade pastoral deverá ajudar a fazer deste momento um lugar de acolhimento para a todos, cumprindo o desafio de acompanhar, discernir e integrar as situações fragilidade.
- Para os leitores: na primeira leitura, é importante ter em conta as repetições que surgem no texto (Quem honra seu pai), bem como a forma exortativa marcada pela presença de verbos no modo imperativa. Na segunda leitura, deve haver especial cuidado na proclamação das enumerações e ter sempre presente o tom exortativo que atravessa todo o texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: Os pastores vieram – F. Santos (CN 779); Salmo Responsorial: Ditosos os que temem o Senhor (Sl 127) – M. Luís (SRML, p. 32-33); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Reine em vossos corações – M. Simões (CN 53); Ofertório: Brilha a luz da sua glória – F. Santos (CN 260); Comunhão: Hoje vimos a sua glória – M. Luís (CN 529); Pós-Comunhão: Pequenino está deitado – Popular (CN 803); Final: Adeste fideles – Popular (CN 180).