
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
O verdadeiro protagonista da Liturgia é sempre Cristo. Mas, intimamente associada ao seu divino Filho, está a Virgem Mãe. Já São Paulo VI, num documento que continua a ser referencial, apontava como exemplar o «equilíbrio cultual» da Liturgia da Igreja do Advento, «como norma a fim de impedir quaisquer tendências para separar, como algumas vezes sucedeu em certas formas de piedade popular, o culto da Virgem Maria do seu necessário ponto de referência: Cristo» (Ex. ap. Marialis Cultus, de 2 de fevereiro de 1974, n. 4). De facto, a Bem-aventurada Virgem Maria bem pode ser considerada como coprotagonista e modelo da Igreja na vivência deste tempo litúrgico.
Nesta segunda semana do Advento deve destacar-se a ocorrência da solenidade da Imaculada Conceição. É a «celebração, a um tempo, da Imaculada Conceição de Maria, da preparação radical (cf. Is 11, 1. 10) para a vinda do Salvador e para o feliz início da Igreja sem mancha e sem ruga» (Cf. Marialis Cultus, 3, que cita MR, Prefácio da solenidade). «Preparação radical»: neste tempo em que somos exortados a «preparar os caminhos do Senhor» emerge o primado da graça: em Maria, primeiro e antecipado fruto da redenção, é o Pai eterno que prepara uma digna morada para o Seu Filho que a Virgem imaculada acolherá maternalmente disponibilizando-se inteiramente para a obra de Deus. Neste contexto, vale a pena reler e rezar o Prefácio IIA de Advento (previsto para os dias 17 a 24 de dezembro): Maria, nova Eva.
Mais discreta, no 3º Domingo do Advento, a presença de Maria não passa desapercebida. Neste «domingo da alegria», o Lecionário do Ano B propõe como «Salmo Responsorial» um cântico bíblico do NT: precisamente o «Magnificat», o cântico de Maria aquando da Visitação. Nele ressoa a exultação do povo de Deus a que Isaías dá voz na parte final da primeira leitura (Is 61, 10-11): «Exulto de alegria no Senhor e minha alma rejubila no meu Deus!». No cântico evangélico de Lucas, a Filha de Sião especifica: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador». Maria é o ícone da alegria das bem-aventuranças. E o motivo dessa alegria, que deve ser a de todo o Povo de Deus, reside na misericórdia divina que se estende de geração em geração e que exalta os humildes e sacia de bens os famintos.
É, sobretudo, no 4º domingo do Advento e na semana de 17 a 24 que os textos litúrgicos mais destacam a presença de Maria e o seu «protagonismo» no mistério da Incarnação redentora.
No 4º Domingo, a presença de Maria é dominante no Evangelho dos 3 ciclos: no Ano A (Mt 1, 18-24: «anunciação a José») é nela que se cumpre a profecia de Isaías acerca da Virgem que dá à luz o Emanuel; no Ano B (Lc 1, 26-38: Anunciação, evangelho já proclamado na solenidade da Imaculada Conceição), Maria diz “Sim” à Palavra e concebe pelo Espírito Santo o Filho de Deus e Filho de David; no Ano C (Lc 1, 39-45: Visitação), Maria é a «Mãe do Meu Senhor» que, mais do que a prestação de um maravilhoso serviço de caridade, leva a alegria da presença escondida do Verbo de quem a Voz já dá testemunho na força do Espírito.
Mas de Maria e do seu lugar no mistério do Natal falam também os textos do Missal: A Oração Coleta – das mais reconhecidas pela memória dos fiéis: «Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas…» – vincula o mistério da encarnação do Filho de Deus, que conhecemos pela anunciação do Anjo, ao mistério pascal no qual a Igreja pede para participar até à glória da Ressurreição. O Prefácio de Advento II – a usar nos dias em que ocorre este Domingo (17 a 24 de dezembro) – inclui nos motivos específicos da ação de graças da Igreja o «inefável amor» com que a Virgem Mãe esperou o Filho e toma-a como modelo dos fiéis na atitude com que devem acorrer ao encontro do Salvador que vem, «vigilantes na oração e celebrando os seus louvores.
Mas a «pérola» mariana do Missal Romano neste 4º Domingo do Advento é, sem dúvida, a oração sobre as oblatas: «Aceitai, Senhor, os dons que trazemos ao vosso altar e santificai-os com o mesmo Espírito que, pelo poder da sua graça, fecundou o seio da Virgem Santa Maria». Proveniente dos antigos livros litúrgicos ambrosianos, esta oração é uma verdadeira epiclese antecipada. A Igreja orante invoca o Espírito Santo, que tornou possível o formar-se do Corpo de Cristo no ventre de Maria, para que santifica os dons levados ao altar dando-nos hoje a presença viva do mesmo Cristo: Incarnação, Eucaristia e Igreja não se compreendem sem o Espírito e sem Maria.