Domingo IV do Advento

20 de Dezembro de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Segundo Livro de Samuel                                                     2 Sam 7,1-5.8b-12.14a.16

«Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo».

 

Salmo Responsorial                                Salmo 88 (89)

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 16,25-27

«Esta é a revelação do mistério que estava encoberto desde os tempos eternos, mas agora foi manifestado e dado a conhecer a todos os povos».

 

Aclamação ao Evangelho           Lc 1,38

Aleluia.

Eis a escrava do Senhor:

faça-se em mim segundo a vossa palavra.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas                          Lc 1,26-38

«O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José».

«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».

«O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra».

 

Viver a Palavra

«Pensas edificar um palácio para Eu habitar?». Esta é a pergunta que, em nome do Senhor Deus, o profeta Natã dirige a David e que oferece o fio condutor de toda a Liturgia da Palavra de hoje. O rei David depois de grandes lutas e batalhas habita numa casa boa e confortável, um palácio feito de cedro, madeira nobre e de alto preço. David sente necessidade de construir um edifício onde Deus possa habitar, pois a arca da aliança permanecia numa tenda, enquanto ele vivia num nobre e sumptuoso palácio.

A voz de Deus faz-se ouvir por meio do profeta, interpelando David para a necessidade de acolher a iniciativa do Senhor, criador do Céu e da Terra, Senhor do tempo e da história. Na verdade, o homem tem necessidade de construir edifícios onde se possa encontrar com Deus e congregar a comunidade. Contudo, Deus recorda ao rei David que o verdadeiro santuário onde quer habitar e encontrar lugar é no coração de cada homem e de cada mulher, conduzindo os destinos do Povo, congregando na unidade o Povo escolhido e amado. Encerrar Deus num edifício significaria encerrar Deus nos nossos esquemas e fazer um Deus à nossa medida.

O nosso Deus é um Deus que irrompe surpreendentemente na vida de cada homem e de cada mulher e na Sua infinita misericórdia não cessa de nos convocar para colaborar no seu desígnio de amor e ser construtores de um mundo novo onde cada um de nós se sabe criatura amada, dotada de um projecto de amor e felicidade. O Deus da paz e do Amor que livremente actua na história convoca-nos para a missão, irrompendo na nossa vida sempre de modo criativo e surpreendente.

Assim contemplamos Maria na passagem evangélica proposta para este quarto Domingo de Advento. Maria visitada pelo anjo é surpreendida pelo projecto inaudito que Deus tem para ela e porque Maria criou disponibilidade para o acontecer de Deus vê realizar-se na sua vida uma obra maior do que ela: Deus feito carne no seu ventre.

A narrativa da anunciação apresenta Deus como único protagonista da história. Não são mais os meus projectos e desejos, sonhos e anseios a conduzir a minha vida, mas a minha capacidade de sonhar abrindo a minha vida ao sonho de amor que Deus tem para mim. Maria, como as demais jovens coetâneas, tinha projectos e anseios, partilhando com José os sonhos próprios da vida familiar. Contudo, Deus irrompeu na Sua vida surpreendentemente e revela-lhe um projecto novo que há-de ser a fonte da Sua felicidade e da felicidade de quantos hão-de encontrar nela um modelo de disponibilidade e de fidelidade à vontade de Deus.

Diante da surpresa e dos receios de Maria, o anjo convida a virgem de Nazaré à confiança: «não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus» e oferece-lhe razões e sinais para confiar: «a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Na verdade, a Deus nada é impossível e o Deus do amor torna possíveis os impossíveis da nossa vida.

É esta atitude de confiança e disponibilidade que o tempo de advento quer renovar nos nossos corações. Dizer sim com humildade e confiança rasga horizontes de esperança e faz ecoar no tempo e na história a mais bela melodia do amor, anunciando a proximidade de um Deus que se faz homem para nossa salvação.

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de São Bernardo, abade,

em louvor da Virgem Mãe (Séc. XII)

Ouviste, ó Virgem, a voz do Anjo: Conceberás e darás à luz um filho. Ouviste-o dizer que não será por obra de varão, mas por obra do Espírito Santo. O Anjo aguarda a resposta: é tempo de ele voltar para Deus que o enviou. Também nós, miseravelmente oprimidos por uma sentença de condenação, também nós, Senhora, esperamos a tua palavra de misericórdia. Em tuas mãos está o preço da nossa salvação. Se consentes, seremos imediatamente libertados. Todos fomos criados pelo Verbo eterno de Deus, mas agora vemo-nos condenados à morte: a tua breve resposta pode renovar-nos e restituir-nos à vida.

Isto te suplica, ó piedosa Virgem, o pobre Adão, desterrado do paraíso com toda a sua mísera posteridade; isto te suplica Abraão e David. Imploram-te todos os santos Patriarcas, teus antepassados, também eles retidos na região das sombras da morte. Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem.

Dá, depressa, ó Virgem, a tua resposta. Responde sem demora ao Anjo, ou, para melhor dizer, ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Diz uma palavra transitória e acolhe a Palavra eterna. Porque demoras? Porque receias? Crê, consente e recebe. Encha-se de coragem a tua humildade e de confiança a tua modéstia.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. No IV Domingo do Tempo de Advento estamos já na iminência da celebração do Natal do Senhor e são muitas as coisas a preparar e ultimar para a celebração familiar desta quadra natalícia. Este Domingo é uma oportunidade para convidar cada família a fazer da Ceia de Natal um verdadeiro lugar de vivência cristã, de modo particular pela oração em família. Por isso, deve convidar-se cada família a valorizar este momento de oração no início da consoada, acendendo uma vela ou valorizando as figuras do Presépio, porventura com o beijar do Menino no início da Ceia. Sugere-se o uso da oração proposta na Caminhada Diocesana do Advento ao Baptismo do Senhor. Apesar de estar disponível no site da diocese, pode ser útil a distribuição desta oração nas eucaristias dominicais deste Domingo.

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura deve ter-se em atenção as diversas intervenções em discurso directo para uma melhor compreensão do texto. A brevidade da segunda leitura não deve descurar a sua preparação e deve ter-se em atenção a segunda frase que sendo longa e contendo diversas orações reclama maior cuidado. Além disso, deve ter-se presente a forma doxológica da última frase.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Desça o orvalho do alto dos céus – J. Martins (CN 346); Acender da vela: Ó Divina sapiência – Jesus Cristo, Luz das Nações – F. Santos (CN 557); Salmo Responsorial: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor (sl 88) – M. Luís (SRML, p. 130-131); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eis a escrava do Senhor – F. Santos (BML 33); Ofertório: Rorate caeli desuper – Gregoriano (CN 867); Comunhão: A Virgem concebera e dará a luz – F. Santos (CN 162); Pós-Comunhão: Vinde, vinde, ó desejado – M. Luís (CN 1014); Final: Avé Maria, c heia de graça – F. Silva (CN 225)