Mensagem (101): A seiva

Era uma vez um mundo que funcionava como a internet: tudo se interconectava, tudo se interligava, tudo reagia em função dos estímulos incutidos. O consumo disparou, a produção teve de aumentar, a economia parecia vender saúde, as pessoas viajavam, os aviões multiplicaram-se, o turismo prosperou, a hotelaria não tinha mãos a medir, o lazer afirmava-se como a última etapa da civilização, o desemprego quase desapareceu, as pessoas faziam festa e barulho. E, não haja dúvidas, a sociedade funcionava.

Entretanto, chegou a miniatura das miniaturas: o vírus da pandemia. E na sua pequenez, pregou-nos a maior das partidas: quase «pôs em cacos» tudo aquilo que fomos capazes de contruir. Conseguiu, de facto, a proeza de «desconstruir» o sonho em que vivíamos. E tivemos de nos fechar em casa, de deixar as praças desertas, de não mais ouvirmos falar línguas que não a nossa, de ter medo dos restaurantes e hotéis, de deixarmos as imprecações contra tuk-tuks e trotinetes, de topar com o desemprego e a fome, de voltar a ter de pôr ao lume as panelas grandes da «sopa dos pobres», de trocar as gargalhadas pelas sirenes das ambulâncias, de desvestir a roupa descontraída e passar a usar fatos de astronauta nos lares e hospitais. E motivou muitas lágrimas, sofrimento, angústia e morte.

O vírus apresenta-se como uma seiva envenenada que chega até às partes mais remotas da árvore, desde a raiz microscópica até à folha tenra. E que, no seu efeito de envenenamento, não prejudicou apenas essa raiz e essa folha, mas quase secou toda a árvore.

Se assim é, pensemos no efeito contrário. Não poderá haver uma seiva tão rica, tão saudável, de tal qualidade que rejuvenesça, restaure, fortaleça, sare a totalidade da árvore enfezada?

Nós, os cristãos, acreditamos que sim. Que Jesus Cristo, ao incarnar, fez do «homem velho» um “homem novo, criado para ser semelhante a Deus em justiça e na santidade da verdade” (Ef 4, 24). Consequentemente, fez do «mundo velho» um mundo admirável e belo, pois Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho único para o salvar (cf. Jo 3, 16-19).

Ainda não vemos esse mundo diferente? É porque não estamos com suficiente atenção. Olhemos para a Imaculada. Não é ela a certeza de que este mundo já possui em si a seiva do Espírito que fará dele um universo de beleza e de candura?

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