As dinâmicas da Jornada Mundial da Juventude

Foto: Tatiana Severino

Por M. Correia Fernandes

Como tantas outras atividades humana, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), prevista para ser celebrada em 2021, foi também vítima da pandemia, e ficou adiada para 2023. Não ficou esquecida, porém, a sua divulgação nem a atenção que lhe é devida por parte de toda a Igreja e sobretudo por parte da Igreja em Portugal.

Em dia de Cristo Rei, 22 de novembro, uma Delegação portuguesa para a celebração da Jornada em 2023 recebeu dos representantes do Panamá, onde se realizou a última Jornada, os símbolos da JMJ, afirmando a assumindo a continuidade do projeto, em celebração presidida pelo Papa Francisco, que dirigiu um apelo aos jovens nestes termos: “Queridos jovens: gritai com a vossa vida que Cristo vive”.

Em Portugal Comissão organizadora, orientada pelo Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar preparará os caminhos a percorrer para a sua realização nos diversos polos e centros em que ocorrerá (Lisboa, Almada, Fátima). Essencial se torna o empenhamento e a participação dos jovens, através dos vários organismos juvenis, conforme afirma o Presidente da Conferência Episcopal, D. José Ornelas: “Quero que sejam os jovens a falar, e pô-los na organização… não se pode prescindir da «experiência daqueles que a têm, porque não vai ser uma tarefa fácil», [mas] é aos jovens que cabe «estar na linha da frente».

São diversas as dimensões que assume a realização da Jornada, de que importa salientar:

– A dimensão espiritual e evangélica: a Jornada baseia-se no acontecimento inspirador da Visitação de Maria a Isabel, como símbolo ou parábola de toda a ação da Igreja, de aproximação aos valores da fraternidade e da proposta de as pessoas e comunidades humanas fomentarem a atenção de umas às outras e a valorização de todas.

– A dimensão profética, do anúncio e da evangelização, revelando ao mundo e apelando ao grande espírito da paz.

– A dimensão da atenção a uma faixa etária da humanidade, onde reside já no presente o seu futuro: a juventude. As dinâmicas juvenis são na sociedade de hoje uma força construtora na busca de vivências novas e de apropriação civilizacional das investigações e descobertas mais recentes: são os jovens que saberão dar corpo humanizado às tecnologias do futuro. Importa que sejam capazes de fazê-lo com o equilíbrio cósmico e pessoal, sem esquecer uma dimensão essencial, a dimensão cultural, porque é na cultura que se edifica o Homem, a pessoa humana.

– A dimensão da intervenção social, porque a movimentação juvenil enforma a sociedade de um sentido de esperança: as dinâmicas jovens ajudam a rejuvenescer ou dar vitalidade às outras idades da vida, procurando substituir a cultura dominante do egoísmo e do interesse material, por uma cultura do diálogo, da partilha e da mútua dedicação.

– A dimensão económica de divulgação e prestígio do país, porque as centenas de milhares de jovens, de qualquer idade, que se mobilizarão e se acercarão aos nossos meios, utilizarão os nossos serviços, admirarão os nossos monumentos e os nossos espaços de convício e criatividade ficarão com um conhecimento de um país periférico que naqueles dias assumirá uma dimensão de centralidade e de revelação para muitas partes do mundo.

– A dimensão ecuménica, porque os valores fundamentais do ideal cristão se podem tornar mais conspícuos, mais visíveis, mais detectáveis para um mundo que deles anda distraído, uma dimensão do religioso que dê mais sentido à vida e à convivência humana, mostrando que o religioso é uma componente da personalidade humana, ao lado do pensamento, da ciência, do conhecimento, da tecnologia, da criatividade.

Devemos retomar aqui também a palavra inspiradora do Cardeal José Tolentino: A Jornada da Juventude tem que ser mais que um “megaevento”, mas uma proclamação dos valores humanos entre os quais a dimensão do religioso no coração e na cultura dos povos, que a palavra do Papa Francisco inspira: “As várias religiões, ao partir do reconhecimento de cada pessoa humana… oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade” (Fratelli Tutti, 271)

Os símbolos da Jornada, sobretudo a cruz mensageira e do ícone de Nossa Senhora que inspiraram a sua construção, irão traduzir para o mundo estas dimensões dos valores evangélicos e eclesiais.