Coroa de Advento: um símbolo eloquente

Reconhecemos o óbvio: esta reflexão peca por tardia, uma vez que o Advento já começou… Mas sucede verem-se em igrejas amontoados de velas ou até de lamparinas de “cera” (?) líquida entre ramos de todo o tipo e arranjos de folhas e flores, por vezes sem qualquer aceno à forma circular da coroa e com as mais variadas cores… É o ornamental avulso a sobrepor-se à simbólica, sob pretexto de «criatividade».

Marcar os tempos litúrgicos com sinais sensíveis, visuais ou acústicos, recorrendo ao tesouro da linguagem simbólica universal, é louvável pedagogia: o presépio no Natal, a Cruz na Quaresma, o Círio Pascal na Páscoa e – porque não? – a coroa no Advento. Deste modo, de forma expressiva e impressiva, a rica linguagem da liturgia alarga-se para alimentar a espiritualidade cristã e abre-se a outros horizontes.

A origem da coroa de Advento é talvez obscura. Notamos, neste caso, um movimento cultural que procede dos países nórdicos em direção ao sul da Europa. Mas a sua linguagem é coerente e insere-se nas raízes simbólicas universais. Daí o seu bom acolhimento. O cristianismo, no seu dinamismo ativo de incarnação – aculturação e inculturação – sempre soube assumir e dar sentido a estas linguagens e, frequentemente, integra-as na própria liturgia. Não surpreende que a «bênção da coroa de Advento» tenha acabado por ser acolhida nos «Bendicionários» (Ritual das Bênçãos) de diversos países europeus, incluindo a vizinha Espanha.

Quais são as grandes referência simbólicas da coroa de Advento? Em primeiro lugar, a luz e o rito do «lucernário» (o acender da luz, ao cair da tarde); depois, a sua forma circular, arquétipo da eternidade; por fim, a cor verde predominante, que resulta da utilização de ramos de plantas de folha persistente, evocando vida e esperança…. A progressividade da luz, marcada pelo ritmo dos quatro círios ou velas que se vão acendendo, gradualmente, balizando as quatro semanas de preparação até ao Natal, é parábola feliz do caminho que conduz das trevas para a luz. No gastar-se das velas – não a lamparinas ou a luzes elétricas – torna-se visível o passar do tempo e o aproximar-se do Natal ao mesmo tempo que, de semana para semana, a luz aumenta.

A coroa é uma roda (de madeira, de colmo ou outro material resistente), envolvida por uma rede de arame (em alternativa pode utilizar-se fio de arame ou material equivalente) para segurar os ramos verdes (pinheiro, abeto, cipreste, azevinho, eras…) que a revestem totalmente. Sobre a roda  colocam-se quatro velas ou círios, bem seguros. A cor é secundária porque o verdadeiro simbolismo reside na luz da chama e não tanto na cor da vela ou círio. Originariamente, as 4 velas eram de cor vermelha (em fundo verde); em muitos lados, as velas são da cor litúrgica do tempo: roxo, podendo uma delas ser cor-de-rosa (para o 3º domingo). Mais recentemente, alguns começaram a acrescentar uma 5ª vela, de cor branca ou pérola, para acender no Natal.

A coroa pode colocar-se em lugar bem visível da igreja (sobre uma mesa; suspensa no teto, como um candelabro; etc.), contanto que não esconda o altar, o ambão e a cadeira, não se torne um empecilho para as movimentações necessárias, se enquadre bem e respeite a estética da igreja. A realização e a colocação deste elemento é delicada e, por isso, requer estudo e bom gosto, sob pena de se tornar incoerente ou agressiva, em contraste com a harmonia do espaço sagrado.

A coroa de Advento pode ter lugar nas famílias, nas escolas, nos grupos de catequese… Em sítio de destaque, será um polo de reunião da pequena comunidade para a Palavra e para a Oração.

Bom resumo de quanto aqui se diz é a admonição introdutória sugerida no ritual espanhol da bênção: «Irmãos: No início do novo ano litúrgico, vamos benzer esta coroa, com que inauguramos o tempo de Advento: as suas luzes lembrar-nos-ão que Jesus Cristo é a luz do mundo. A cor verde significa a vida e a esperança. A coroa de Advento é, pois, um símbolo de que a luz e a vida triunfarão sobre as trevas e a morte, porque o Filho de Deus fez-se homem e nos deu a verdadeira vida. Ao acender, semana após semana, os quatro círios da coroa, queremos significar a nossa progressiva preparação para receber a luz do Natal».

N.B. Mantendo tudo o que acima fica dito, a coroa de Advento – que aqui se recomenda – é facultativa; não é um elemento «litúrgico» indispensável.