Mensagem (100): Cuidar

Que seria de uma pessoa imobilizada se não tivesse quem lhe chegasse um simples copo de água ou de um jovem que não fosse socorrido num acidente com a sua potente moto? E um recém-nascido não exige um cuidado total?

A condição humana é a de cuidar e ser cuidado, proteger e ser protegido. Fora deste quadro, fica a lei da selva: o «salve-se quem puder». Com terríveis consequências: o sofrimento acrescido dos frágeis e a insatisfação existencial de quem não encontra em si razões de humanidade. Nem de felicidade.

Cuidar é ter diante de si um outro, um semelhante, um ser com quem se estabelecem especiais laços de relacionamento. Alguém que precisa e de quem também se precisa. Implica, pois, a capacidade de aproximação, de se estar junto de outrem. Não na violência ou no escárnio, evidentemente. Mas no respeito, no reconhecimento, no diálogo, na ajuda. E fundamentalmente, na escuta.

Neste ato, o cuidador revela-se quem é, o seu bom interior, o seu desejo ardente de bem, o timbre de generosidade que caracteriza a sua alma. E, ao que é cuidado, restitui-se liberdade, insere-se tanto quanto possível na normalidade da vida e proporciona-se a tomada de consciência sobre o seu valor e dignidade. Não é um trapo: é uma pessoa valiosa!

O Advento que iniciamos também pode ser visto como um ato de cuidar: o Deus que nos procura revela-se clemente e amoroso na busca que faz das nossas fragilidades para as curar, elevar, redimir. E, se nós deixarmos ser curados, faz-nos melhores pessoas, mais pessoas. Pessoas íntegras e não fraturadas.

Curiosamente, o Deus cuidador também quer ser cuidado. Vem-me à mente uma iluminura que vi há dias. Jocosa, mas esclarecedora. O repórter dirige-se a um palácio e pergunta aos militares em traje de gala e aos funcionários impecavelmente vestidos: “Onde está o rei acabado de nascer”. E do outro lado da rua, sentado no chão, um pobre andrajoso grita: “Aqui, aqui”.

Vê este Rei naquele que tem de ser cuidado. E dá-te conta de que são as coisas pequenas as que mais contam: um afago de mãos, um sorriso espontâneo, uma gargalhada fora do contexto, uma flor no cabelo, um beijo que se envia, um telefonema que se faz… Ele que cuida de ti quer que tu cuides d’Ele no que precisa de ser cuidado.

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